Cotado para Ministro da Saúde Presidente do Hospital de Amor Henrique Prata diz que aceita o cargo e que está sendo “preparado por Deus”
Cotado pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) para o Ministério da Saúde, o pecuarista Henrique Prata diz que aceita o cargo e que está sendo “preparado por Deus” para transformar a “história nojenta da saúde pública” no país. Presidente do Hospital de Amor, antigo Hospital do Câncer de Barretos, Prata afirma ter recebido o convite de Bolsonaro e de seus aliados em agosto e diz que se for para o ministério, vai “virar do avesso” a Pasta para acabar com a corrupção.
“Se Deus permitir que eu ponha a mão nisso [ministério], eu viro do avesso. Não vai sobrar pedra sobre pedra.Não é tirar sujeira debaixo do tapete, é virar do avesso, é mostrar a raiz”, diz Prata.
À frente de hospital que é referência mundial na pesquisa e tratamento do câncer, o pecuarista diz que conhece Bolsonaro e os filhos parlamentares do presidenciável há cerca de quatro anos e afirma que a entidade foi ajudada por emendas destinadas por eles. Em agosto, recebeu o candidato, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP), filho dele, e uma comitiva da campanha no hospital, durante uma caravana do presidenciável pelo interior paulista. Poucos dias depois, Bolsonaro foi alvo de uma facada, em Juiz de Fora (MG)
Sem filiação partidária e sem nunca ter participado de um governo, Prata diz ter vontade de trabalhar com Bolsonaro depois que o presidenciável afirmou que pretende montar uma equipe só com técnicos em áreas estratégicas, como Saúde. “Se fizer conchavo político, nada muda. Ele [Bolsonaro] não vai cometer esse erro.Eu já era eleitor dele e quando ele falou dos critérios técnicos, ganhou de cara a minha simpatia. Ele tem uma visão honesta”, diz. “Aceitei a ideia de ser ministro”, afirma. “Só Bolsonaro, que não tem rabo preso com partidos, terá coragem de mudar.”
Prata critica a maioria dos governos por ter diretrizes “politiqueiras” e não “assistencialistas” na área da saúde.Com experiência de 30 anos na gestão do hospital do câncer, está há oito anos na pesquisa de pequena e média complexidade e há dois anos na alta complexidade. Foi nesse último período que diz ter visto os piores tipos de desvios e de falta de gestão.
“O pior de tudo é a desonestidade que existe na saúde”, diz. No comando da alta complexidade, afirma ter reduzido em 30% as mortes em UTI. “Antes não tinha intensivista, não tinha médico atendendo na UTI”, afirma. “Em dois anos transformei a água em vinho, só sendo honesto. Metade das pessoas que morrem é por algum tipo de desonestidade [no atendimento]”.
Apesar de ter uma boa relação com políticos de diferentes partidos, Prata diz não seguir nenhuma cartilha partidária. “O único livro que leio todos os dias é a Bíblia”, afirma ao Valor. Prata diz que antes de entrar na vida pública pretende “acertar sua vida pessoal”. Fazendeiro e pecuarista, afirma que está transformado seus bens em uma “holding familiar”, com seus três filhos como sócios. A ideia é preservar o patrimônio, conquistado desde que começou a trabalhar, aos 11 anos de idade. Até novembro, diz, deve terminar o processo sucessório dos bens para seus filhos.
“Deus está me preparando para virar essa história nojenta do país, da corrupção na saúde pública”, afirma. “Hoje a saúde pública é muito desonesta, porque quanto pior, melhor para o setor privado”, diz. No Hospital de Amor, há duas alas com nomes de políticos: uma em homenagem ao exministro José Serra (PSDB) e outra ao expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Serra, para mim, foi o melhor ministro da Saúde. Ele mudou o que podia, mas era muito dependente da política do PSDB. Isso não funciona”, diz. “E com Lula eu tratava pessoalmente. Ele se esforçava e ajudava por sua própria autoridade, não pelo Ministério da Saúde”, relata. Prata critica ainda o exgovernador e expresidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) e diz que com o governador de São Paulo e candidato à reeleição, Marcio França (PSB) a relação é diferente. “Alckmin nunca aceitou minhas ideias. Já o Marcio França me procurou três vezes em um único mês para saber o que podia mudar na saúde. Se eu for ministro de Bolsonaro,não vou deixar de ajudar [França]”, diz. Nesta terçafeira, o diretor do hospital almoçou com o governador.
(*) Valor Economico