No ano passado, o número de unidades no campo chegou a 528, contra 1,8 mil nos anos 2000
Pelo rádio da Kombi, cheia de estudantes, era possível ouvir a propaganda eleitoral obrigatória. Enquanto o político da vez expressava com eloquência de candidato a frase “Educação é a solução”, os jovens que estavam a caminho de casa, após mais um dia de aula na cidade, aguardavam dentro do veículo sob o sol de meio-dia qual seria a solução encontrada pelo motorista para fazer o carro funcionar novamente. “Uma das velas queimou”, disse ele, já nervoso. E quem deu jeito na situação foi o pai de um dos alunos, que passava de trator na hora e puxou a Kombi com uma corda até chegar à parte menos íngreme da estrada de chão, em Hidrolândia, a 35 quilômetros de Goiânia.
A realidade de crianças e adolescentes que moram na zona rural, em Goiás, e precisam frequentar a escola está cada vez mais suscetível a esse tipo de situação, devido à necessidade de deslocamento diário para as cidades. Nas últimas décadas, os municípios goianos viveram um processo acentuado de diminuição da quantidade de escolas nas fazendas, o que tem restringido cada vez mais as opções ao meio urbano. Em 2000, Goiás tinha um total de 1.824 escolas rurais, conforme dados do Censo Escolar. No ano passado, o número chegou a 528, ou seja, uma redução de 71% em 17 anos. No mesmo período, no País, teve uma queda de 48,1% e, no Centro-Oeste, de 56,5%.
O argumento do poder público é de que a demanda tem diminuído, em decorrência do êxodo rural e da consequente redução da população no campo. “Não compensa manter uma escola na área rural para atender poucos alunos. Fica muito mais oneroso para a prefeitura garantir um ensino de qualidade numa escola rural do que transportar os alunos e oferecer o ensino na cidade”, alega o prefeito de Hidrolândia e presidente da Agência Goiana dos Municípios (AGM), Paulo Sérgio de Rezende. Por outro lado, existe também a visão de que a diminuição de pessoas vivendo no campo é, na verdade, resultado da ausência de incentivos, e a presença de escolas seria um deles.
“Diminuir a população, está diminuindo mesmo, mas o que seria mais fácil para os prefeitos? Seria levar dois, três professores para o meio rural ou levar 40 alunos para a cidade? Eles escolheram o que era melhor para eles e mais danoso para as famílias”, contrapõe o presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar de Goiás (Fetaeg), Alair Luiz dos Santos. Entre 2000 e 2015, a quantidade de pessoas vivendo na zona rural, em Goiás, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reduziu 8,5%, que seria o mesmo que 51,5 mil pessoas a menos. A redução nacional, no mesmo período, foi de 1,73%.
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