“Sentimento é de impotência porque me vi lidando com a vida e a morte ao mesmo tempo. Não podia fazer nada, só segurar na mão e fazer um carinho na cabeça. Era uma pessoa que não conhecia, mas parecia ser da família”, contou o empresário Ivanildo Soares Sales, de 48 anos. Ele foi o primeiro a socorrer a médica Yuri Vanessa de Oliveira Tomonaga, de 31 anos, que morreu no último domingo (6), em capotamento na BR-060, em Paraíso das Águas.
O empresário foi o segundo a chegar no local do acidente, mas o primeiro a se aproximar da noiva, que voltava de Campo Grande, onde entregou convites para o casamento que aconteceria no mês que vem.
Ivanildo voltava do Mato Grosso e seguia para Dourados. Aquele era o quarto acidente que havia presenciado na viagem.
Ele contou que um casal que seguia na frente do carro da médica, sentido Camapuã/Paraíso das Águas, viu pelo retrovisor quando Yuri Vanessa perdeu o controle da direção e capotou o carro. O casal então retornou para o local e o empresário chegou em seguida. Impressionado com a situação, os dois não se aproximaram da médica, mas Ivanildo sim.
“O carro estava com as rodas para cima. Percebi que saía muita fumaça, mas me aproximei e vi que a bateria havia sido arremessada, que a fumaça era do óleo do veículo e não tinha risco de incêndio. Ela estava como cinto de segurança, presa e com a cabeça para baixo. Tentei falar com ela e ela reclamou que não estava conseguindo respirar. Sangrava pelo nariz, pela boca e estava se afogando com o sangue. Eu soltei o cinto e coloquei ela deitada para respirar melhor”, relembrou.
Além de reclamar da dificuldade em respirar, Yuri Vanessa se queixava de dor e pediu para que Ivanildo a soltasse, a puxasse. Momentos depois, passou a dizer palavras desconexas, em tom baixinho, que não podiam ser compreendidas pelo empresário. Aos poucos, perdeu a consciência.
“Percebi que ela não tinha mais movimento no corpo. Não mexia os pés, nem as mãos. A vontade era de colocar no carro e levar para o hospital, mas fiquei com medo da reação da família, de receber processo, então aguardei no local, orando pela vida dela”, relatou o empresário.
Ivanildo contou que pegou o celular da noiva para avisar a família, mas não conseguiu fazer ligação porque o aparelho estava bloqueado. Enquanto procurava o contato de algum parente da vítima, ele encontrou a carteira do Conselho Regional de Medicina (CRM) e foi então que descobriu que ela era médica.
Testemunhas acionaram equipe do Corpo de Bombeiros, de Chapadão do Sul, que demorou cerca de 1h10min para chegar.
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ACIDENTE
Yuri Vanessa era médica e dava aula na Faculdade de Medicina em Rio Verde, Goiás. Ela era noiva de um engenheiro agrônomo que mora em Costa Rica.
A mulher voltava de Campo Grande, onde entregou convites do casamento a parentes e amigos. O casamento dela estava marcado para o dia 10 de outubro.
No caminho de volta para casa, a médica perdeu o controle da direção do veículo Renault Clio e capotou várias vezes. O carro parou às margens da rodovia e quem passava pela pista tentou ajudar a médica, que não resistiu aos ferimentos.
Correio do Estado