Filho de professora e agente penitenciário, Ulisses Nei de Brito Santos, que completou 22 anos no último dia 21 de junho, nasceu em Pimenta Bueno (Rondônia), cursou Direito em Sinop (Mato Grosso) e veio a Mato Grosso do Sul para ser o mais novo delegado de Polícia Civil do Brasil, numa disputa que teve 9.790 concorrentes. A conquista é o ponto alto de um sonho que nasceu aos 10 anos e veio depois de uma rotina de disciplina para conciliar faculdade, estágio e estudo para os concursos.
“Fui criado no interior de Rondônia, num cidade com 35 mil habitantes. Nunca morei em capital. Sou filho de professora municipal, que tem um salário bem pequeno, cerca de R$ 2 mil por mês, mas ela sempre nutriu em mim essa vontade de estudar. Ainda criança conheci um amigo da minha mãe que era policial federal e me encantei muito com aquilo”, conta Ulisses.
Alertado pelo policial, que melhor ainda era ser delegado, transformou a profissão em meta. Depois de estudar o ensino fundamental e médio na escola pública, conseguiu bolsa integral em universidade de Sinop. Longe de casa, a ajuda vinha de toda a família.
“Minha mãe me ajudava na medida do possível. Tenho várias tias e cada uma me ajudava com R$ 100. Todo mês, tirava o extrato bancário e vinha R$ 100 da tia tal. Minha avó também ajudava”, conta, rindo com a lembrança. A maior renda vinha do estágio no MPF (Ministério Público Federal), que pagava R$ 900. “Juntado tudo dava R$ 1.450. Só a bolsa da academia deu um upgrade de cinco vezes”, diz. A remuneração inicial para delegado é de quase R$ 15 mil.
O concurso de Mato Grosso do Sul foi sua terceira aprovação. Antes, há tinha passado para ser policial civil em Rondônia e técnico judiciário em Mato Grosso. Ele conta que montou um cronograma e estudava sozinho, com auxílio de livros, simulados e de dois cursos online de 40 horas.
Corrida contra o tempo – Com a previsão de concluir a faculdade de Direito em dezembro deste ano, Ulisses entrou com mandado de segurança na Justiça Federal e colou grau em 28 de março. O processo foi um maratona de sabatina em bancas especiais. Neste prazo também finalizou o trabalho de conclusão de curso.
Na sequência, começou a formação na Academia da Polícia Civil, em Campo Grande. “Tive que entrar com mandado de segurança para me matricular também, porque tinha perdido o prazo. Mas graças a Deus, deu tudo certo”, diz.
Na preparação, veio a certeza da profissão escolhida. “Estou fazendo o que queria e cada vez mais apaixonado. Recebo a notícia que todo mundo foi nomeado e estamos aqui com o distintivo”, afirma.
A pouca idade não o intimida, nem com as brincadeiras de que o ideal seria ser lotado no setor de proteção à infância, e também não se preocupa em estrear na carreira em uma de delegacia da região de fronteira. Na 66ª colocação entre os 72 nomeados, terá que aguardar as escolhas de lotação dos melhores classificados.
“Pensei muito sobre isso e cheguei a conclusão que a idade não tem nada a ver com maturidade. Maturidade vem não com o tempo que a gente tem de vida, mas o que a gente faz com o tempo que nos é dado. Sempre acreditei nisso e estudei tanto quanto os colegas mais velhos”.
Curso intensivo – Diretora da Acadepol (Academia de Polícia Civil), a delegada Maria de Lourdes Cano afirma que o concurso teve 9.790 candidatos, sendo o maior do Estado e da região Centro-Oeste.
Por ser ano eleitoral e diante da necessidade de preencher as vagas, o curso que seria de seis meses foi realizado em dois meses e vinte dias. Desta forma, as aulas foram de dia, noite, feriados e fins de semanas.
Dos 72 novos delegados, 19 são de Mato Grosso do Sul. Seguido por Rio de Janeiro (10), Goiás (9) e Paraná (7). Ao todo, tem representantes de 16 Estados. A diretora da Acadepol destaca que a faixa etária dos aprovados vai de 22 a 32 anos.
Natural de Campo Grande, Marianne Cristine de Souza também entra na lista dos, literalmente, novos delegados. Aos 25 anos, a aprovação veio depois de três anos de estudo intenso. A dedicação surgiu após uma experiência de fracasso em um concurso. “Foi quase um soco no rosto. O resultado foi péssimo, mas dá a sensação que é possível se você se prepara. Não é coisa de gênio. Mas é possível com esforço e muito estudo”, diz.