Segundo dados da Aprosoja-MT, mais de 15% dos fertilizantes entregues no estado sofrem adulterações
Um grupo de 40 produtores de Nova Mutum, no médio-norte de Mato Grosso, recebeu uma carga de fertilizantes adulterados produzidos pela empresa Macrofértil, localizada em Paranaguá (PR). Após análise de uma amostra das 9 mil toneladas adquiridas, 31 toneladas estavam com o teor de nutrientes 75% abaixo do nível aceitável.
O insumo chegou há uma semana. Na hora da aplicação, um dos agricultores observou que alguns pacotes do material estavam visualmente fora do padrão. A empresa se comprometeu a não deixar os consumidores no prejuízo.
– A preocupação existe, mesmo porque a grande parte desse volume total não foi utilizada ainda e não tem como fazer uma remoção ou pré-utilização para detectar esse problema. Então nós temos o risco de ainda ter alguma carga no meio do volume que pode aparecer. Nós temos esse risco – explica o coordenador do grupo de compras dos produtores, Airton Botaro.
Caso semelhante aconteceu em Cláudia, no norte do estado. Lá, os proprietários da Fazenda Paraíso receberam a carga de fertilizantes, mas perceberam que algo estava errado quando um dos pacotes se rompeu e o material que vazou não parecia adubo, mas, sim, areia. O produto foi adquirido por meio de uma cooperativa local, que intermediou a negociação também com a Macrofértil.
– Constatei que todos estavam sem aquele plástico branco por dentro, aí começamos a olhar e cavucar. Vimos que todos tinham uma camada por cima de, aproximadamente, 5 cm de adubo normal e para baixo era tudo um material branco, que não parecia ser fertilizantes. Nós levamos sorte de termos percebido antes de aplicar, senão poderia ser tarde – lembra o produtor Ivan Marx Hoffman.
Uma amostra do conteúdo foi analisada por um laboratório contratado pelos próprios produtores e atestou que o material era falso. Dias depois, segundo as vítimas, um analista da empresa fabricante também reconheceu a adulteração. O material foi substituído.
A carga adulterada valia R$ 140 mil. Se os produtores não tivessem visto o problema logo no início, os prejuízos financeiros poderiam chegar a R$ 500 mil. Um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia do município, mas a investigação ainda não foi concluída.
Prática comum
Segundo dados da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), cerca de 15% dos fertilizantes entregues no estado são adulterados.
– Não podemos perder, de maneira nenhuma, em um ano desse, que o custo de produção está alto. A produtividade deve ser buscada e fazer um plantio com fertilizantes que não estejam com a qualidade devidamente comprada. Para isso, tem o Procon, há entidades e instituições que podem ser recorridas. Então busque informação e sempre tenha um profissional ao seu lado – orienta o diretor-técnico da Aprosoja-MT, Nery Ribas.
O delegado da Aprosoja-MT Emerson Zancanaro explica que a entidade está orientando os produtores rurais como proceder neste caso.
– Nós estamos alertando os produtores para proceder, na hora do recebimento da carga, uma melhor observação, os lacres dos produtos, se as embalagens estão coerentes com o que a empresa está fornecendo e que façam a inspeção visual do produto antes da aplicação. A gente acredita que o produto deve ter saído corretamente dentro da empresa. Nós acreditamos que deve ter ocorrido uma adulteração durante o caminho da fábrica até o campo – afirma.
Outro lado
Por meio de noite, a holding Dreyfrus, proprietária da marca Macrofértil, informou que está ciente do ocorrido e tem total interesse no esclarecimento da situação. A empresa reforçou que segue colaborando nas investigações junto às autoridades competentes.
Manaíra Lacerda | Cláudia e Nova Mutum (MT) canal rural