Aos 45 anos, Clayton José da Rosa Munhoz se tornou tricampeão brasileiro de levantamento de peso na categoria powerlifting em 2018. Chegar a esse patamar se dedicando apenas à modalidade já não seria nada fácil, mas o sul-mato-grossense tem uma rotina pesada até para alguém que está acostumado a levantar altas cargas com sua própria força. Sem ajuda financeira em um esporte que só vai entrar no programa olímpico em 2024, ele precisou se reinventar. Convocado para defender o Brasil no Sul-Americano do seu esporte, que acontece entre os dias 3 e 7 de julho, em Guayaquil, no Equador, o esportista está vendendo bolos no sinal a R$ 10 para arrecadar o dinheiro necessário para disputar o campeonato.
– É a primeira vez que vou literalmente para rua conseguir levantar recursos. Me causou indignação não ser apoiado pelo meu estado. Sou o único atleta do Centro-Oeste que faz parte da seleção brasileira de powerlifting. Vou para a rua focado no meu objetivo, encaro como um trabalho digno. Por não sermos esporte olímpico ainda – só em 2024 – não temos repasse do Ministério do Esporte, que por sinal já falta aos próprios esportes olímpicos – relatou Clayton, em entrevista ao GloboEsporte.com.
No ano passado, Clayton já sofreu com a falta de apoio. Ele ficou fora da disputa do Mundial, na Rússia, e do Pan-Americano em Orlando, Estados Unidos. Pelos resultados prévios, ele teria condições de ficar entre os cinco melhores em sua categoria, a Master 1, para atletas de 40 a 50 anos com 120kg.
Tem de limão, laranja, baunilha, chocolate, fubá e formigueiro… Clayton Munhoz não só vende os bolos no semáforo das 16h30 às 19h no cruzamento entre as ruas Eça de Queiroz e Ernesto Geisel, em uma região movimentada de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ele também ajuda a esposa Bernadeth, com quem está casado há 19 anos, a produzí-los em casa. Todo dia, depois do almoço, os dois vão para a cozinha.
Mas, muito antes disso, Clayton já está de pé. Formado em Educação Física, ele inicia seus atendimentos em academias às 5h30, ficando até 12h. Todos os dias, a rotina árdua do esportista se repete. Ele usa as pausas entre uma atividade e outra para treinar, mal consegue descansar. O sul-mato-grossense precisa juntar R$ 5 mil para disputar o Sul-Americano. Até o momento, conseguiu arrecadar R$ 1,5 mil.
A cidade de Campo Grande tem se mobilizado para ajudar Clayton, que vende cerca de 12 a 15 bolos todos os dias e já vai para o semáforo há cerca de um mês. Uma empresa de suplemento fornece suporte nutricional que o atleta precisa para subir de peso. Sua dieta consiste em comer arroz, ovos, bacon e carne vermelha. Ele também conseguiu um acordo com uma cooperativa de ovos, já que consome 20 por dia.
– Minha categoria fecha em 120kg, então ainda estou abaixo do peso – 116kg atualmente – e a quantidade de calorias ingeridas são diretamente gastas nos treinos de 2h, seis vezes por semana, que são muito duros – falou Clayton, que não pode degustar seus próprios bolos:
– Não como açúcar e nem tomo bebidas alcoólicas.
Clayton Munhoz explicou ainda a diferença entre sua modalidade, o powerlifting, e o weightlifting, esse já presente nos Jogos Olímpicos. No caso da segunda, o principal representante é Fernando Reis.
– Atendo meus clientes com cada um no seu objetivo, sempre treinei e fui apreciador de esportes de força e, por isso, ingressei no powerlifting. Faz parte da minha vida. O weightlifting consiste em dois movimentos competitivos, arranco e arremesso. O powerlifting tem agachamento, supino reto e levantamento terra – concluiu.
*Gabriel Fricke, Globo Esporte RJ