Coluna da Psicóloga Jackeline Martini : Meu nome, minha história

“Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens.” Com essa intrigante frase o escritor português José Saramago, nos convida a reflexão sobre uma questão aparentemente simples e familiar, porém ao mesmo tempo externo a nós: a história de nosso nome.

Em geral, a escolha do nome próprio se dá antes mesmo do nascimento. Na verdade, em alguns casos o nome próprio é definido anos antes, ainda na infância dos pais. Principalmente no caso das meninas, é comum percebermos em meio as suas brincadeiras o esboço da escolha do nome de seus futuros filhos.

O curioso é que desde que nascemos escutamos nosso nome pelo menos uma centena de vezes ao dia, no entanto, poucos são os momentos em que refletimos sobre seu significado.

Algumas editoras vendem livros com significados atribuídos a cada nome, exemplo: Amanda que significaria “digna de ser amada”, Felipe com significado atribuído de “domador de cavalos”.

Porém neste artigo queremos trazer à luz aquilo que podemos chamar de “verdadeiro” significado do nome próprio, ou seja, aquilo que tem de único no nome escolhido para cada um de nós.

Compreendemos que o nome próprio é o primeiro presente que recebemos e aquele que irá nos acompanhar para o resto de nossas vidas. Em nosso país o nome tem caráter imutável, uma vez lavrado no registro civil só pode ser alterado mediante a comprovação de que o mesmo expõe a pessoa ao ridículo ou em casos de adoção.

Desde pequenos entendemos que o nosso nome é o que nos diferencia. Em casa temos um nome diferente ao dos irmãos, e na escola é a primeira palavra que aprendemos a escrever.

A escolha do nome é atravessada por questões culturais, temporais e mesmo psicológicas, visto que é carregada das significações daqueles que o escolhem, do momento e da cultura na qual estão inseridos.

Exemplo dessa afirmação são os Inuits – tribo de eskimós – que acreditam que o ser humano é um conjunto formado pelo corpo, alma e nome – os recém nascidos dessa

tribo recebem nomes de ancestrais já mortos, para que dessa forma herdem não só o nome, mas também todas as habilidades do homônimo.

Ao nomear um filho, os pais dão sinais do que desejam para essa nova vida. Nesse ato estão presentes as histórias da família que esse novo ser irá integrar. Antes mesmo de a criança nascer, é o nome que irá diferenciá-la e integrá-la à sua família.

Pensando por esse viés, o que está relacionado à escolha de nosso nome é nosso primeiro contato com o desejo de outras pessoas, em nossas vidas. Porém é importante ressaltar que isso não é determinante para nosso destino.

É certo de que nossa história não nasce conosco, ela nos precede e tem no nome um forte indicio de seu enredo previamente pensado para nossa vida, contudo, cabe-nos a apropriação desse nome e então torná-lo de fato próprio, construindo e sendo protagonista de nossa história de vida.

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JACKELINE MARTINI

Psicóloga formada pela Universidade Federal de Alagoas- UFAL. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. Doutoranda em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco. Foi professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Atualmente é Coordenadora do Núcleo de Psicologia UNIGRAN Capital (NPU). Professora Adjunto I e Supervisora Clínica na Faculdade UNIGRAN Capital. É Perita Judicial ad hoc na Vara da Infância, Juventude e do Idoso de Campo Grande/MS. Associada ao Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). Pesquisadora Coordenadora do Projetos de Pesquisa Docente vinculado ao Programa institucional de bolsas de iniciação científica (PIBIC), da Faculdade UNIGRAN Capital. Realiza estudos em Psicanálise, Clínica Psicanalítica, e Adoção. Tem experiência em Saúde Mental. Atende em consultório particular.

 jackeline.martini@gmail.com

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Textos semanais com temas sobre atualidades, relacionamentos, pais e filhos, saúde e questões profissionais. Perpassados pelo viés crítico da Psicologia Clínica e Psicanálise.