Em eleição irregular, Francisco Cezário, presidente da FFMS, pode ser eleito para o sexto mandato

Com salário que gira em torno de R$ 20 mil a R$ 25 mil, o dirigente vai comandar a entidade esportiva até 2023

No comando da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) desde a década de 1990, Francisco Cezário de Oliveira, 71, disputa hoje, segunda-feira (30), eleição para dirigir a entidade até o ano de 2023. Sem oposição, ele deve ser reeleito para o sexto mandato. O pleito, contudo, é repleto de irregularidades, que beira à fraude.

Numa das eventuais ilegitimidades, o perpétuo da entidade esportiva, cujo salário mensal gira entre R$ 20 mil a R$ 25 mil, pôs na lista de votantes agremiações que não poderiam participar do processo eletivo.

A eleição começa às 13h00 da tarde desta segunda-feira num luxuoso hotel de Campo Grande, erguido em frente ao shopping mais antigo da cidade. A votação é secreta.

A FFMS recebe, por ano, em torno de R$ 1 milhão da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), R$ 750 mil do Estado para bancar o campeonato estadual de futebol e outro montante dos clubes de futebol.

Além de Cezário, os votantes vão eleger oito vice-presidentes e os membros efetivos do Conselho Fiscal, suplentes e tesoureiro para mandato de quatro anos, que se inicia em abril de 2019 e segue até abril de 2023.

Ou seja, o mandato de Cezário, que deve ser reeleito nesta segunda-feira, expira somente em abril do ano de 2023. Eleito, ele fica no comando da entidade até quando completar 76 anos de idade.

Por regra estatutária da FFMS estão credenciadas a participar do processo eletivo da entidade associações ou ligas amadoras municipais que comprovarem a participação consecutiva em três anos seguidas de alguma competição oficial promovida pela federação ou, no caso de ligas realizar duas competições em anos consecutivos.

Conforme o TopMídiaNews apurou por meio dos editais de competições da FFMS, de 2015 a 2018, alguns clubes não cumpriram o estatuto para participar do pleito, mas, ainda assim, foram relacionadas para votação desta segunda-feira.

No edital de convocação para a eleição, é dito que os clubes aptos com dois votos (profissional e amador) são União/ABC, Sete de Dourados, Corumbaense, Costa Rica, Águia Negra, Comercial, Operário, Novo e Urso, Misto, Serc, Naviraiense e Ivinhema.

Já os clubes profissionais, tidos como credenciados a voto, Ubiratan (Série A-2015 e Sub17-2016), Cene (inativo desde 2016 em todas as categorias) e Maracaju (Série B 2015 e Sub13 2016) não disputaram três anos seguidos as competições oficiais. Isto é, não poderiam votar. Mas, vão, conforme edital da eleição publicado por três dias da semana passada num dos jornais impressos de Campo Grande.

Também foram citados clubes profissionais com direito a um voto, como times amadores, porém, de maneira ilegal, pois não disputaram competições oficiais em três anos consecutivos.

São eles: Aquidauanense (Série B-2015, Sub14 – 2015 e Série A-2016); Portuguesa (Sub17-2015 e Sub17 2016); ; Guaicurus (Sub19-2015 e Sub13-2017), Coxim (série B 2016 e Sub13-2017 e Sub17-2016) e Camapuã (Sub17- 2016 e 2017).

Entre os times amadores que aparecem no edital como apto ao voto, estão Seduc, este sim, cumpre a norma estatutária da FFMS, e o Náutico, que começou a participar das competições apenas em 2016. E, pela regra, deveria ter atuado em competições por três anos seguidos.

De acordo com a apuração do TopMidiaNews dos 24 clubes citados como competidores de eventos da FFMS, somente 13 poderiam participar do processo de eleição da entidade.

A reportagem do TopMidiaNews verificou nos editais disponíveis no site da FFMS 58 clubes profissionais ou amadores que disputaram competições oficiais desde o sub13 ao profissional entre os anos de 2015 a 2018.

OUTRA

Desde 2015 entrou em vigor a lei federal que criou o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, o conhecido PROFUT, medida que entrou em vigor ainda na gestão da presidente Dilma Roussef.

A ideia nova possibilitou que clubes parcelassem seus débitos e que entidades promotoras de esportes, como Confederações, Federações e Ligas cumprissem uma série de exigências como a eleição de dirigentes com uma única reeleição, eleição de representantes de atletas nos conselhos das entidades e a eleição de conselhos fiscais independentes para dar mais transparências as entidades. Mas isso não ocorre na FFMS.

Conforme o Estatuto da FFMS, mesmo tendo uma reforma estatuária em 2015, não constam as mudanças exigidas pela nova legislação do PROFUT, a eleição independente de chapas para o conselho fiscal, além de terem seu balanço financeiro anual das associações divulgadas no site da federação de futebol. Os balanços no site são somente referentes ao ano base 2016. Por lá, não se vê transparência.

Não se sabe, por exemplo, quem é o tesoureiro da entidade, um dos principais servidores da entidade, aquele que cuida do dinheiro.

ELEIÇÕES

Em 2010 a FFMS não promoveu eleição. O atual presidente modificou o estatuto da entidade e seu mandato expirou em 2014. Ano seguinte, ele foi reeleito.

À época Cezário poderia ter enfrentado oposição, mas isso não ocorreu devido a uma outra modificação estatutária. Seria seu concorrente o técnico de futebol Amarildo Carvalho, ex-zagueiro do Operário que teve passagens no Palmeiras e times do exterior.
Amarildo declarou à imprensa, na época, que nem chegou a registrar sua candidatura porque o presidente da FFMS impôs numa das cláusulas que só poderia disputar a eleição se já tivesse presidido um clube. “Fui jogador”, queixou-se o técnico.

SALÁRIO GORDO
Em fevereiro de 2016, Lauro Jardim, blogueiro do jornal O Globo, publicou em sua coluna que, à época, dois anos atrás, a CBF havia reajustado o salário dos presidentes de federal em 67%.
Então, o percentual esticava de R$ 15 mil para R$ 20 mil, a remuneração de Cezário, por exemplo.

Ainda de acordo com a publicação do Globo, na mesma data que o reajuste dos presidentes fora noticiada, a assessoria da CBF refutou a ideia e informou que, ao invés de R$ 25 mil, o aumento alcançava R$ 20 mil. Lauro Jardim, contudo, manteve no blog a primeira informação e o assunto morreu por ali, ou seja, prevaleceu os 67% do reajuste.

Celso Bejarano – TOPMIDIA