A cena, seja por coincidência ou destino, já se repetiu 4 vezes. Na rua, enquanto trabalhava, Carlos Alberto Santana, de 67 anos, encontrou pertences e dinheiro. Em todas as vezes, segundo ele, foram quantias suficientes para pagar as contas e viver na tranquilidade por um tempo. O verdureiro, no entanto, não hesita: “Pode acontecer mil vezes, que eu devolvo sempre”, afirmou.
O último achado ocorreu há uma semana, em Camapuã. O idoso estava acompanhado da esposa, vendendo verduras na BR, quando o motociclista passou em alta velocidade e deixou cair a carteira. “Eu estava ali sentado e vi exatamente o momento em que caiu algo do Claudemir [o dono da carteira]. Tinha gente ali perto e também esperando o ônibus. Alguns queriam pegar e eu falei que não era para mexer, pois o dono era meu amigo e devolveria a ele”, comentou Carlito, como seu Carlos é conhecido.
Ainda conforme o verdureiro, naquele momento ele não conhecia a pessoa, mas garantiu ser amigo do dono para outras pessoas não “mexerem” no dinheiro. “Minha esposa então deu a ideia de procurar um contato e depois é que soube que realmente conhecia a pessoa. Na hora não ia saber mesmo, pois o Claudemir sempre andava com um Fusca na cidade. Ele trabalha na locadora, aqui todo mundo se conhece”, ressaltou.
Morador há duas décadas na cidade, seu Carlito conta que nasceu na capital sul-mato-grossense e mudou há 2 décadas, quando conheceu a esposa. “Aqui eu vivo com ela e a minha filha de 4 anos e o meu menino de 10 anos. Atualmente a situação não está fácil, minhas contas de água e luz estão atrasadas e também estou devendo o mercado. Mas, a gente vai lutando, pelejando, que uma hora dá certo”, ressaltou.
Na ocasião que encontrou a carteira, Carlito conta que “ouviu da boca” de muitos conhecidos. “Mas, você tá devendo, tem contas, pega isso aí [dinheiro] e joga essa carteira fora. Pensei então que eu não sou disso, sou de Deus e uma pessoa honesta. É o que eu vou ensinar aos meus filhos, a serem honesto. Não quero ver, em nenhum dia, eles presos ou abordados por aí como marginais”, avaliou.
Em sua vida profissional, o verdureiro conta que também atuou como gerente de fazenda por 6 anos. “Eu lidava com bastante dinheiro guardado na fazenda, caminhonetes e objetos caros. Quando percebi que o dono tinha confiança em mim, vi que tinha que valorizar isso. A rotina, com o tempo, me cansou muito, por isso não estou lá até hoje. Agora estou na verdura com a minha esposa e também quero colocar salgados para vender lá. Eu sei fazer, fica bem gostoso”, garantiu.
Sobre sonhos, Claudemir diz que realizou um deles ao visitar a TV Morena, afiliada da Globo, em Campo Grande, na manhã desta sexta-feira (23). “Nunca pensei em conhecer esta emissora, eu achei muito bom. É um prazer estar aqui junto com vocês. São todos muito queridos, gostei demais. Daqui a pouco, vou embora para casa, porém vou levar o carinho e prazer imenso de estar aqui”, finalizou.
Alívio
Após receber o telefonema de que os pertences estavam seguros, Claudemir Ferreira da Silva, de 39 anos, afirma que ficou muito aliviado, pois como é dono de empresa transportadora na cidade, todos os documentos e dinheiros importantes para o trabalho estavam guardados na carteira. Ele disse que continha aproximadamente R$ 450 em espécie e R$ 18 mil em cheques.
Após perder o objeto enquanto seguia para um posto de gasolina, o empresário postou as informações em uma rede social. Ele foi notificado pelo vendedor. “A gente fica com muita gratidão à pessoa, vê que ainda existem pessoas honestas na cidade, porque eu tenho certeza que se fosse outra pessoa, pegaria o dinheiro e jogaria a carteira fora”, afirma o Claudemir. O empresário também falou que Carlito não aceitou dinheiro como recompensa, mas vai dar uma bicicleta ao filho do comerciante.
G1 MS