Ampla Visão : Reinaldo – governador sem nhenhenhém

‘ESTRANHO’ Lendo a notícia de que o ex-governador André Puccinelli (MDB) percorrerá o Estado com o objetivo de apenas ouvir os reclamos dos eleitores, abstendo-se de falar, contrariando assim seu estilo, é de que questionar: não seria essa a grande chance dele explicar à população os possíveis equívocos da justiça que o levaram ao uso da tornozeleira, a prisão junto com seu filho e ainda ser denunciado pela 3ª Vara da Justiça Federal em Campo Grande?

PERSEGUIÇÃO? Os advogados do ex-presidente Lula e seus líderes mais próximos tem defendido a tese de que tudo não passaria de uma ação orquestrada pelas elites visando impedi-lo de voltar ao Palácio do Planalto – tendo-se em vista sua liderança em todas as pesquisas eleitorais. Essa postura pode ser constatada diariamente pelo noticiário inserido na mídia.

POR ANALOGIA, alguns políticos da cúpula do MDB local insistem também nesta teoria de perseguição para desqualificar o mérito dessas ações judiciais e policiais que atingiram o ex-governador André. Preferem tecer loas ao desempenho dele como prefeito da capital e governador por duas vezes. Alguns deles, advogados inclusive, evitam entrar no aspecto legal da questão.

‘DATA VENIA’ é oportuno lembrar que em ambos os casos ( Lula e André ) as ações tiveram como autores o Ministério Público Federal. No caso do ex-governador a denúncia pela pratica de peculato, fraude em licitação e corrupção passiva também atinge personagens conhecidos e bem chegados a sua administração.

CERTO? O montante não é uma mixaria qualquer. Trata-se de quantia espetacular. Sendo o político uma figura pública, está obrigado sim a dar explicações à população, como manda o manual da boa ética em tempos de democracia. Minimizar as graves acusações através de frases de efeito ou de fundo irônico não convence.

CONVENHAMOS! Todos os políticos acusados de corrupção estão sendo colocados pela opinião pública na mesma vala. É possível injustiças? Sim. Mas na atual conjuntura nacional fica difícil ao cidadão estabelecer separações na análise do rol de políticos presos ou que respondem a processos pela pratica de corrupção. O estigma de corrupto é fruto da conduta de grande parte dos políticos brasileiros nos últimos anos. É a colheita do plantio que eles fizeram.

‘INTERESSANTE’ A prisão de figuras emblemáticas do PT e de políticos de outros partidos de tendências diversas inviabiliza a arguição de perseguição política ou ideológica. Aliás, esse atual pesadelo nacional demonstra que a corrupção não é exclusiva desta ou daquela sigla. Daí, os políticos espertamente abrem suas baterias contra as autoridades, representadas pelo Judiciário Federal e Ministério Público Federal, acusando-os de desvios e excessos.

A PERGUNTA E aí é de questionar: o brasileiro acreditaria mais nestas autoridades ou nos políticos acusados atualmente? Essas autoridades estariam em conluio com quem para prejudicar esses personagens atingidos por graves acusações de corrupção? Fico imaginando por exemplo: existe algum brasileiro que acredita na versão do ex-governador Sergio Cabral (MDB)?

A FIGURA O Ministro Carlos Marun (MDB) vai atravessando sinais na defesa do Planalto. Também no episódio da deputada Cristiane Brasil (PTB) – que escolheu um local impróprio para defender sua nomeação ao Ministério do Trabalho, o ministro mais uma vez pisou na bola. Faltou-lhe sutileza ao fazer referência irônica ao uso da burka. Ora! O próprio Roberto Jefferson, pai da deputada, acabou por censurá-la.

A PROPÓSITO Essa novela da nomeação da deputada do PTB é algo desgastante que poderia ser evitada. Bastaria que o Planalto tivesse um interlocutor hábil, negociador experiente que convencesse o PTB a rever a indicação de Cristiane e escolhendo outro nome do próprio partido para o cargo. Tudo estaria resolvido. São essas besteiras que desgastam o governo e atingem toda a classe política perante a opinião pública. Depois reclamam das críticas na mídia.

DIFÍCIL Conseguirá o Governo aprovar a reforma da previdência? Agora promete cortar em 20% os investimentos se ela não passar. Essa medida atinge os interesses dos parlamentares com suas emendas não sendo liberadas. É o calcanhar de Aquiles em ano eleitoral. Será que eles estariam realmente preocupados com a grande massa da população? Tenho minhas dúvidas.

VEJA BEM! Os políticos estão no rol dos privilegiados com aposentadorias diferenciadas. Um deputado federal por exemplo se aposenta com 8 anos de mandato recebendo quantia 7,5 vezes superior a média da aposentadoria paga pelo INSS. Como eles legislam em causa própria, existem segredos e fórmulas ‘formidáveis’ que os beneficiam espetacularmente. As leis parecem as letras miúdas de contrato de financiamento de carro. Hoje temos mais de 60 ex-senadores e mais de 500 ex-deputados federais com gordas aposentadorias.

GOSTEI da fala do Sergio Longen ( FIEMS) e de outros dirigentes empresariais sobre a reforma. Sergio foi feliz ao advertir: “a atual lei traz a condição de insolvência a curto prazo, para quem é beneficiado. Se não fizermos nada, os nossos aposentados, e isso não é daqui 20 anos, mas num futuro próximo, poderão já não receber mais seus recursos.”

NO ARREMATE do tema há que se admitir que o eleitor não está feliz com seus representantes no legislativo e executivo. As notícias diárias só trazem decepção. A saúde doente, a segurança dominada pela violência crescente e a educação preocupante são problemas crônicos, infelizmente relegados a segundo plano. O eleitor está revoltado com o que vê em matéria de desmando e de corrupção. Será conivente como eleitor corrupto ou se vingará nas urnas? Essa é a questão.

OUVIR a população apenas durante o período eleitoral não resolve. É preciso sentir o que pensa e o quer o cidadão durante todos os dias. Daí acho interessante a iniciativa da administração de Campo Grande em montar uma estrutura com esse objetivo. Afinal, nem sempre o cidadão consegue ter acesso a um vereador para fazer sua reivindicação. Visitando as dependências da Ouvidoria Municipal, comandada pelo Toni Ueno, senti a importância e a viabilidade do órgão. É o caminho.

REELEIÇÃO Claro que o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) concorrerá à reeleição. A leitura do quadro político oferece essa resposta natural. Não poderia ser diferente. Ele tem um bom partido, um grupo coeso e há um conjunto de fatores para fortalecer seu projeto político. Sobre isso, se deve prestar mais atenção nas entrelinhas dos pronunciamentos do governador. Sabe jogar.

GOVERNO Quem apostou no fracasso administrativo de Reinaldo frente a grave crise nacional perdeu feio. Como se diz no interior – ‘ao seu estilo colocou a comitiva na estrada e foi em frente’. Conseguiu viabilizar ajudas do Governo Federal, foi bafejado também pelo desempenho do agronegócio e fez boas parcerias com municípios onde toca obras.

RELAÇÕES Reinaldo não é aquele governador de ir tomar café na cozinha do deputado por exemplo, mas tem uma leitura muito pragmática de como deve ser essa relação. Em todas as ocasiões necessárias soube conversar com os integrantes da Assembleia Legislativa e de lá arrancou decisões importantes. Lembro bem de quando ele era deputado estadual, tinha como estilo a objetividade nas conversas e debates. Sem nhenhénhém.

OBSERVAÇÃO A exemplo do deputado Zeca do PT, Reinaldo também não se curvou a postura do ex-governador André. Claro que existiram outras ocasiões, mas a mais marcante postura de Reinaldo foi de não se abater pelas ‘advertências de dificuldades’ quando se discutia sua candidatura ao governo. Depois daquele episódio, acabou a soberania do mando político de André.

CORAGEM Na política ela conta muito, representada pela ousadia do sonho de vencer e conquistar espaço maior. No caso de Reinaldo, poderia ter se contentado com outra candidatura legislativa, mas optou pelo caminho mais difícil representado pelo então senador Delcídio do Amaral ( ex-PT) – tido como imbatível nas pesquisas. Essas considerações são importantes para uma análise correta da participação e de suas chances de vitória de Reinaldo neste pleito. Como diz o caipira: Reinaldo está com o couro grosso.”

“Velório é um defunto cercado de piadas por todos os lados”. ( Max Nunes)