Expansão da agricultura brasileira desafia agronômos

Mais do que a ampliação de áreas de plantio e uma dose extra de investimentos, o próximo ciclo de expansão da agricultura brasileira amplia a demanda por mão de obra qualificada no campo. Num momento em que novas tecnologias de produção e manejo criam uma nova onda de transformação nas fazendas, crescem as exigências sobre profissionais como os agrônomos, que passam a se reinventar para garantir uma atuação alinhada as últimas novidades do setor.

As mudanças na atividade ficam evidentes em eventos que mobilizam profissionais de todo o país, como o 29º Congresso Brasileiro de Agronomia, que reuniu mais de 2 mil pessoas na semana passada, em Foz do Iguaçu (Oeste do Paraná). A pauta incluiu tópicos muito além do trabalho de campo, como formação profissional, legislação, meio ambiente e logística. “A agronomia é a ciência que detém a teoria da agricultura e, atualmente, todos esses temas são pertinentes a atividade”, resume o coordenador geral do encontro, Luiz Antonio Lucchesi.

Os debates ganham força em um momento de efervescência no setor. Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) — entidade que regulamenta o setor — mostram que atualmente existem mais de 84 mil agrônomos em atividade no Brasil. Deste total, 56 mil ingressaram na atividade desde 2001, confirmando que houve um ciclo de renovação recente no setor.

O crescimento é paralelo ao ciclo de expansão da produção nacional, e se reflete na presença geográfica dos agrônomos. A metade de cima do Brasil já concentra um terço de todos os profissionais do país, no lastro das novas fronteiras agrícolas. “Atualmente existem muitos profissionais que se graduam no Sul e vão atuar no Norte e Nordeste, por exemplo, onde está havendo um forte crescimento”, aponta o consultor e conselheiro do Confea, Mário Amorim.

Amorim também avalia que a popularização da carreira está ligada a diversificação nos ramos de atuação dos profissionais. “Hoje o agrônomo não trabalha apenas no lado de dentro da fazenda. Da produção até o consumo de alimentos existem agrônomos participando de todo o processo, muitas vezes em temas não relacionados a agricultura. ” Entre os principais campos de atuação estão a economia, o direito e a engenharia, destaca.

O quadro força o setor a reavaliar sua forma de atuação. “A agronomia foi a primeira atividade vinculada ao Confea que foi regulamentada, em 1933. Mas desde então o segmento ficou muito dinâmico, e isso exige atenção”, pontua o coordenador da Câmara de Agronomia do Confea, Kleber Santos. Isso inclui o uso de novas tecnologias, como os drones, e métodos, como a agricultura de precisão. “Além disso, é preciso entender as diferentes visões da agricultura, desde o aspecto social da produção familiar até os fatores que envolvem a produção em escala”, salienta.

A necessidade de renovação é reconhecida por quem atua na linha de frente. “A cada safra surge um novo desafio, uma nova doença, um novo inseto. É preciso sempre estar atualizado. O agrônomo é um profissional que não desliga nunca”, conta o agrônomo Roderik Wouter Van Der Meer, que atua em uma fazenda em Carambeí, nos Campos Gerais.

Formação acadêmica segue em renovação

As novidades que mudam o rumo da agronomia também exigem renovação na formação acadêmica. “Atualmente o agrônomo é um profissional valorizado. Para isso precisa ter uma formação ampla para acompanhar a velocidade das mudanças”, aponta o Norberto Ortigara, secretário da Agricultura do Paraná.

O setor monitora com atenção a área acadêmica, sobretudo em aspectos como a carga horária dos cursos e os temas ensinados aos estudantes. “A formação é uma prioridade, temos que buscar mais qualidade do que quantidade. A qualificação tem que ser holística, eclética, pois a atuação dentro agronomia é assim”, aponta o coordenador da Câmara de Agronomia do Confea, Kleber Santos.

Essa necessidade contempla até mesmo ambientes tradicionais. Completando um século neste ano, o curso de Agronomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) já formou mais de 4,3 mil agrônomos desde a primeira turma formada, em 1915. Neste ano a graduação passou por uma reformulação na grade de ensino, incluindo matérias que trata sobre temas como biotecnologia, georreferenciamento, manejo de alimentos e energia. Além disso, a formação passou a permitir que o estudante faça estágio obrigatório em outras regiões do Brasil ou no exterior, sem prejuízo aos estudos.

Autor: Igor Castanho

Colaborou Carlos Guimarães Filho