Metade desta via de escoamento da soja foi asfaltada pelos produtores, que já sabem que terão problemas para transportar a safra. Veja fotos da parte que o governo não asfaltou, apesar da promessa
A triste realidade dos atoleiros da rodovia MT-388, que serve como via de escoamento de soja e milho e recebimento de insumos na região médio-norte de Mato Grosso, parece não ter fim. A cada ano, o governo do estado promete concluir a obra iniciada pelos próprios agricultores, com dinheiro do bolso, mas as obras não andam e a estrada volta a ficar intransitável após as chuvas.
Nesta época do ano, é normal que o volume de chuvas seja maior em Mato Grosso, assim como já é esperado que em algumas estradas de terra do estado o tráfego fique mais complicado. O grande problema no caso da MT-388, que separa os municípios de Campos de Júlio e Nova Lacerda, é que o governo do estado prometeu em outubro de 2017, após visita ao local, manejar a estrada de terra para que ela não virasse um atoleiro durante as chuvas. Esta era apenas uma medida preventiva até que conseguissem concluir o asfaltamento da rodovia.
No entanto, na manhã desta terça, dia 10, o cenário na MT-388 era caótico. Com fila de carros e caminhões parados, sendo parte deles atolados com insumos das lavouras, relata o presidente da Associação dos Produtores da 388, Alfredo Tomé. “Desde domingo foram muitos caminhões parados, mais de 100. Com insumos, milho e etanol”, diz Tomé.
Faltam ser asfaltados 45 quilômetros, sendo que 12 km já haviam sido pre preparados para o asfaltamento, ou seja, foi a terra foi planada e recebeu cascalho. Entretanto, Tomé ressalta que as obras pararam por falta de cascalho nos arredores e a empresa responsável por este trabalho não operou mais. “Estes 12km já estavam quase prontos, só que o trabalho parou, as chuvas vieram e os caminhões passando, destruíram boa parte do que tinha sido feito. Agora terá que refazer parte da planagem, já que a estrada de terra afundou”, conta ele.
Tomé está receoso pois a empresa responsável pelas obras só deve retomar os trabalhos em meados de abril, mas a estrada não deve resistir aos períodos de chuvas e escoamento de safra de soja. “Devido ao clima, plantamos os 40 mil hectares de soja na região em 30 dias. E a colheita durará o mesmo tempo, ou seja, virá toda de uma só vez. Isso deve começar em 20 dias. Imagine o caos que ficará esta estrada? Não é justo conosco, que já gastamos dinheiro do próprio bolso para fazer parte do asfaltamento”, reclama.
Em uma conta rápida, os 40 mil hectares, considerando uma produtividade de 55 sacas por hectare, renderiam 132 mil de toneladas. 60% deste total (80 mil toneladas) será escoado imediatamente e o restante ocupará os armazéns da região. “Esta quantidade precisaria de quase 2 mil caminhões trafegando para escoar a soja. Imagina isso nesta estrada cheio de atoleiros? Ainda mais nesse período que as chuvas são maiores”, comenta Tomé.
Para se ter uma ideia, durante todo o mês de dezembro a região recebeu um volume de 260 milímetros acumulados de chuvas, exatamente a mesma quantidade acumulada nestes primeiros dias de janeiro. “É muita água, a estrada não vai resistir. Quando o governador veio aqui em outubro, o discurso foi bonito, mas os R$ 39 milhões para concluir os 45 km seguem presos na burocracia e a estrada ai sendo destruída”, finaliza Tomé.
Soja Brassil. Daniel Popov, de São Paulo