Mais usinas ficarão sem processar cana na safra 2018/19

Levantamento publicado no início da semana por consultoria especializada no setor sucroenergético, a RPA, informa que 18% das 444 usinas em atividade no território nacional, devem permanecer fechadas no início da próxima safra 2018/19, marcada para abril.

Conforme análise divulgada, o resultado ainda é reflexo da crise que abalou muitas empresas, na primeira métade desta década e que até hoje influencia na produtividade dos canaviais, sem contar os problemas climáticos que impactam diretamente na produção das lavouras.

Os números deixam o setor em alerta, já que no último ciclo, 76 unidades não funcionaram e a projeção é que no ano que vem, 79 deixem de processar a cana-de-açúcar. Outro fator que colaborou para o ‘fechamento das portas’ foi a diminuição do volume no último ciclo e a queda dos preços do açúcar.

A Raízen Energia, por exemplo, decidiu encerrar as operações da Usina Tamoios, em Araraquara, e a unidade que tem em Dois Córregos, município também localizado no interior paulista. A primeira produz apenas açúcar, enquanto a segunda faz açúcar e etanol.

Segundo a empresa, que tem elevado os investimentos na área agrícola, outras usinas suas nas mesmas regiões absorverão a matéria-prima disponível das unidades fechadas. Pesou nessa decisão o fato de a Raízen ter adquirido recentemente duas usinas do grupo Tonon, cujas lavouras estavam com baixa produtividade após um longo período de dificuldade financeira da empresa.

Assim, essa estratégia não reduzirá o volume de processamento do grupo. Em nota, a Raízen informou que as paralisações se dão em “um cenário de menor disponibilidade de cana nessas regiões e da otimização logística e de produção” e deverão durar ao menos dois anos.

Outra que não vai entrar em ação na próxima safra é a usina da Biosev na cidade sul-mato-grossense de Maracaju. A unidade, que produz açúcar e etanol, tem capacidade para processar 1,8 milhão de toneladas de cana por safra, mas vinha moendo menos, mesmo com mais aportes da empresa em suas operações agrícolas no país. A cana que iria para a usina agora será entregue a outras duas unidades da companhia na região, que têm maior capacidade de processamento.

Além disso, essas usinas podem utilizar bagaço de cana para gerar energia elétrica, o que potencializa os ganhos com a mesma quantidade de matéria-prima. De uma maneira geral, o fechamento de unidades tem tido mais impacto sobre os empregos do segmento do que sobre a produção. Apenas a paralisação dessas três usinas adicionais em 2017/18 significará uma redução de ao menos 750 postos de trabalho.

Na terça-feira, a Raízen foi obrigada por decisão liminar da Justiça a anular as demissões que fez na unidade Tamoio para negociar os termos das dispensas com os sindicatos locais. A companhia informou que “tomará todas as medidas judiciais cabíveis”.

Outra empresa que poderá paralisar uma de suas usinas é a Renuka do Brasil. Com um processo de recuperação judicial que enfrenta complicações depois que a Justiça suspendeu o leilão de uma de suas unidades, a companhia opera com menos de metade da capacidade total de suas duas unidades, de 10,5 milhões de toneladas, segundo uma fonte a par do assunto.

Sem os recursos que previa arrecadar com o leilão, a Renuka enfrenta dificuldades para pagar fornecedores. Neste semestre, a empresa demitiu cerca de 500 funcionários da Usina Madhu, em Promissão (SP), por causa da redução da moagem. A companhia ainda não sabe se vai operar as duas usinas em 2018/19. Mas, para rodá-las, precisará investir em manutenção de maquinário mesmo com o caixa apertado.

 

* Com informações do Valor Econômico