Idoso morre no hospital três dias após confusão com policiais militares em Camapuã

O caso aconteceu na noite do dia 13 de outubro. Luciene Caetano da Silva, de 37 anos, contou à reportagem que naquele dia o pai estava ‘descontrolado’. Com um facão na mão ele teria ameaçado a esposa e a filha, que assustadas resolveram chamar a polícia. “Chamei a polícia para evitar algo pior, nunca pensei que ia acontecer isso”.

Na versão de Luciene, assim que viu a viatura José fugiu. Assustado ele correu para um terreno baldio próximo de sua casa e foi perseguido pelos policiais. “Quando eles desceram eu pedi: não atira ele não, ele é idoso, tem 75 anos. Cinco minutinhos depois a gente ouviu o tiro”, lembrou a mulher.

Os policiais, quatro militares que estavam de plantão naquele dia, carregaram José de volta até a viatura, já ferido. “Ele estava machucado, perguntei se eles tinham atirado nele e falaram que não. Foi ele que me respondeu: atiraram sim Lu”. Luciene lembrou que em um primeiro momento foi informada que o pai havia se machucado no arame de uma cerca, só depois os militares confirmaram que ele havia sido atingido por um tiro de borracha.

“O policial contou que quando ele foi encurralado na cerca atacou os militares. Para mim ele foi tentar pular o arame, por isso estava machucado nas pernas”, defendeu a filha, que também desacredita que o pai foi atingido por tiro de borracha justamente pela gravidade do ferimento. “O médico me falou que ele tinham um rombo nas costas e o estado era crítico”.

A vítima foi levada para o hospital da cidade pelos próprios policiais, recebeu o primeiro atendimento e precisou ser transferido para a Santa Casa de Campo Grande. José permaneceu internado por três dias.

Segundo o prontuário médico, a vítima chegou ao hospital em estado grave, com um ferimento na lateral esquerda no abdômen e lesões no pâncreas e no baço. Ele foi submetido a uma laparotomia, mas em virtude a gravidade dos ferimentos não resistiu. José morreu nesta segunda-feira (16), às 16h30.

“Ele ficou internado no CTI. Depois que passou por cirurgia não voltou mais. Ontem vi ele de manhã, eu e meu irmão. De tarde voltei com minha irmã, chamaram todos os parentes menos a gente. Falei para minha irmã que os aparelhos dele não estavam funcionando. Aí a enfermeira avisou que o médico queria falar com a gente”.

Para Luciene, a dor é ainda maior em saber que foi a responsável por chamar ajuda policial naquele dia. “Para mim é muito díficil. Estou desolada, Me sinto culpada. Queria evitar algo pior, Ele estava fora de si. Você chama socorro e acontece isso. Pedi para não atirar”, lamentou a mulher que na tarde desta terça-feira, enterrou o pai.

“Ele estava muito agressivo aquele dia, mas estava consciente. Nunca tinha acontecido isso. Sempre foi bom, era um pai presente, amoroso. Todo mundo conhecia com ele aqui na cidade”. Para toda a família, o sentimento é de indignação e revolta, já que até então não se sabe o que realmente aconteceu.

O outro lado da história – Para a reportagem o comandante do pelotão de Camapuã, tenente Laudileu Brasilino, contou que no dia do fato um boletim de ocorrência foi registrado e que de fato os militares usavam armamento não letal, ou seja, munições de elastômero, conhecido como bala de borracha.

Ele explicou que os militares foram chamados depois que José teria ameaçado a esposa e a filha de morte. No local, após fugir. ele foi cercado pelos militares em um terreno baldio e neste momento teria partido para cima de um dos soldados, um o facão que ameaçava a família na mão.

Testemunhas afirmaram ao Campo Grande News que na hora da fuga José largou a arma. Já Luciene alegou que não percebeu se o pai ainda estava armado quando foi encurralado, já que estava escuro.

Um único disparo contra a vítima foi realizado exatamente no momento em que José teria atacado os militares. Ele foi atingido no abdômen e socorrido para o hospital da cidade. “Aqui falaram que o ferimento era apenas de raspão e que ele seria levado para Campo Grande. Nesse tipo de armamento ferimentos superficiais são comuns. Não sabíamos da gravidade”, relatou o tenente.

Na data um boletim de ocorrência de violência doméstica e resistência foi registrado pela Polícia Militar e todas as autoridades policiais foram avisadas. Agora, o caso será investigado pela Delegacia de Polícia Civil da cidade e também pela Polícia Militar, como explica o comandante geral da Polícia Militar, coronel Waldir Ribeiro Acosta.

“Um inquérito na Polícia Militar será instaurado e vai apurar o que de fato aconteceu. Testemunhas serão ouvidas. Ao fim da investigação, o caso será enviado para a corregedoria em Campo Grande e depois para o poder judiciário”, concluiu o coronel.

 

 

*Campo Grande News