Falta de boi é problema crônico e mais frigoríficos devem fechar em MS

Cada vez mais alto, o preço da carne bovina é reflexo do menor volume de oferta de gado da história, não só de Mato Grosso do Sul, mas de todo o país. Com isso, além dos 16 que já fecharam as portas, há grandes chances de mais frigoríficos encerrarem suas atividades em MS. O número de abates também apresenta uma grande queda. Só no primeiro semestre de 2015, a redução chega a 13,5% em relação ao ano passado.

De janeiro a junho do ano passado foram abatidas 1,9 milhão de cabeças de gado, enquanto este ano o volume caiu para 1,6 milhão, segundo dados da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). Com isso, a arroba do boi gordo, que em 2011 não passou de R$ 89, agora alcança os R$ 136. A tendência é o preço subir ainda mais, na previsão do consultor de agronegócio da Rural Business Júlio Brissac, que explica como o setor chegou a esse ponto e o que esperar para os próximos anos.

Segundo ele, o fechamento das plantas é mais do que esperado, visto que há 5 anos muitos pecuaristas deixaram a criação de gado de corte para se dedicar às lavouras ou simplesmente encerraram as atividades. A migração ocorreu porque a margem de lucro da agricultura foi se mostrando cada vez melhor do que da pecuária. “A pecuária de corte dava prejuízo para muita gente, que saiu literalmente, do mercado. Alguns arrendaram para cana-de-açúcar e a cana não pagou e agora não tem o que fazer sem capital. Aí começou todo o desequilíbrio e a pecuária entrou num ciclo louco, porque agora se tem também muitas fazendas degradadas”, detalha o especialista.

O preço do boi gordo só subiu a partir do ano passado, impulsionado pela falta de cabeças de gado frente à capacidade da indústria, explica o consultor. O cenário é ruim, mas nem tudo é desgraça. Para o produtor, os preços altos são bons. “A boa notícia é para o pecuarista, pois o preço ficou melhor e deve subir ainda mais. A demanda mundial também está crescendo”, prevê Júlio, ao lembrar que a cotação atual já é histórica.

Futuro – Para 2016, não se pode esperar estabilidade, segundo o consultor. “Os frigoríficos estão tentando convencer os produtores a fazer confinamento e produzir mais, mas cadê dinheiro para isso? O problema é mundial, Austrália e Estados Unidos também passam por isso. Argentina era a terceira maior exportadora de carne do mundo e hoje não está entre os 10 maiores”, comenta.

Pecuaristas migraram para outras atividades e com oferta menor preço deve subir ainda mais (Foto: Divulgação/Famasul)
Pecuaristas migraram para outras atividades e com oferta menor preço deve subir ainda mais (Foto: Divulgação/Famasul)

Estratégia – Em meio à crise, o JBS, maior grupo frigorífico do Brasil, anunciou instalação de sua terceira unidade no Paraguai, prevista para operar em dezembro de 2016, com investimento de US$ 100 milhões. A ampliação é estratégica, mas nem o gigante da indústria da carne consegue escapar da falta de matéria-prima.

Na opinião de Júlio, o Paraguai não tem capacidade de suprir as necessidades no Centro-Oeste brasileiro e a instalação é “remédio para febre em doente terminal”. “O JBS fez estratégia para ser um dos poucos operando no Centro-Oeste. Em Mato Grosso só tem ele na região norte, mas mesmo assim não conseguiu controlar preços, porque o estoque de gado caiu rapidamente. Não adianta ficar sozinho se a oferta de gado é pequena e os preços vem para cima”.

A Famasul, que acompanha de perto a situação dos pecuaristas no Estado, confirma que a falta de gado foi motivada pelo desinteresse de produtores no gado de corte, mas tem previsão mais otimista. O número de produtores na pecuária estabilizou, segundo o diretor secretário da entidade, Ruy Fachini. “A previsão era de regularizar essa situação em 2016. Hoje, a pecuária está passando por um processo melhor, a arroba está com valor melhor. A relação de troca está melhor, em menos de dois bezerros por boi. A previsão é que comece a regularizar este cenário em 2017. Já está tendo retenção maior de matrizes”, prevê Ruy.

Para o setor, o projeto de recuperação de R$ 11 milhões de pastagem que estão em processo de degradação pode ser um pequeno empurrão. “Outra medida são as linhas de crédito por meio do FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) mais acessíveis”, lembra o diretor.

 

Fonte: Campo Grande News