Sim, existe uma cena audiovisual em Cassilândia! Uma cena que, na verdade, acabou de surgir, marcado pela estreia, no último dia 29 de abril, do filme ‘Ana Laura’. A produção narra, nas entrelinhas de um mistério policial, a história da menina que vende pães de mel em Cassilândia. A estreia, que ocorreu no estacionamento de um hipermercado da cidade, teve lotação completa e conquistou aplausos dos expectadores.
Corino Rodrigues de Alvarenga, diretor do filme, é filho de Cassilândia. Escritor e cineasta autodidata, ele é autor de um livro sobre a história da cidade e também narrou a história do fundador de Chapadão do Sul. Porém, foi no audiovisual que encontrou sua verdadeira paixão. Pesquisador de cinema há 25 anos, o cineasta tem em ‘Ana Laura’ seu quarto filme – os outros foram produzidos enquanto ele morava em Jacobina, na Bahia. De volta à terra natal, pôs as mãos à obra. Assim surgiu ‘Ana Laura’.
O filme, que está disponível no Youtube, teve produção artesanal e bastante cuidadosa. Mas, o que realmente chama atenção é a força-tarefa para fazer o longa (sim, o filme tem 1h20 de duração!) possível. Corino treinou desde os atores – todos pessoas comuns de Cassilândia – à equipe técnica. Ele mesmo, a propósito, desempenhou diversas funções: de diretor, Corino foi figurinista, treinador de elenco, roteirista, produtor, diretor de fotografia, maquiador, contrarregra e produtor-executivo.
“Esse filme, ‘Ana Laura’ é o primeiro em Cassilândia. Nunca teve produção de cinema no Bolsão, é uma região muito carente de fomento cultural. Foi por isso que tive a ideia de produzir esse filme e de envolver as pessoas da cidade. É um filme que trata de cidadania, de violência doméstica, de trabalho infantil. E é educativo”, adianta Corino, sem dar spoiler.
Mãos à obra
Convencer as pessoas da cidade a participar do filme não foi problema. Problema era treinar pessoas comuns para se tornarem profissionais capacitados em um set de filmagens. “Mas tudo muito artesanal. Não teve dinheiro público, fui fechando parcerias e consegui patrocínios. Daí fiz oficina de atores com as crianças, fiz treinamento técnico aos colaboradores. A gente não tem um resultado perfeito, porque eu meio que estava sozinho. Mas teve muito cuidado para o projeto sair bonito”, conta o diretor.
E saiu. Com o apoio de cerca de 30 pessoas, entre atores e equipe técnica, ‘Ana Laura’, consegue dar um resultado muito melhor que o esperado em um filme feito basicamente a partir da ousadia de um pesquisador e da boa vontade de atores e técnicos amadores. “Nesses 25 anos em que estudo cinema, passei a entender de enquadramento, de colorização, sonoplastia… Uso até esse tom alaranjado, que é uma tendência em Hollywood, e mesmo com pouquíssimos recursos conseguimos fazer um filme com trilha sonora original e tudo”, revela Corino.
E todo mundo recebeu para participar. “A quantidade de cenas gravadas influenciou no cachê. Pagamos de R$ 200 até R$ 1100 reais. A maior dificuldade foi o material humano, mas o pessoal mostrou muita boa vontade”. ‘Ana Laura’ deverá ser exibido mais uma vez em praça pública, no próximo sábado à noite, na Concha Acústica da Praça São José, em Cassilândia. “Levando em conta que a estreia foi um sucesso, a conclusão que eu chego é que o poder público, que não investiu nada, às vezes diz que o povo não gosta de cultura. Mentira, o público gosta, sim. O poder público é que não oferece opção”, conclui.
Ficha técnica:
Ana Laura (2017) 1h21min
Direção, produção e roteiro: Corino Rodrigues de Alvarenga
Fotografia: Juliana Angeli
Trilha Sonora: Tiago Maia (Maia´s Produções) Voz- Toga Moraes
Edição: Juliana Angeli
Edição Final: Tiago Maia
Som: Eduardo otero e Thiago Rocha
Argumento e Adaptação: J. B. Ferreira
Elenco: Beatriz Freitas Oliveira, Luzia Costa, Clara Lopes, Luis Fernando Tavares, Luciana Oliveira, Ellen Oliveira, Luis Fernando Oliveira, Euller Oliveira, Ana Carolina Garcia, Sandra Garcia Dias, Keila Cristina, Corino de Alvarenga, Aguinaldo Otero, Antônio Marciano, Leal Luz, Julio Alves Martins, Ivan Fernando G. Pinheiro, Jonas Rocha, Ione Pereira, Arthur Otero, Sarah Lopes. Lenir Oliveira, João Girotto, João Carlos Otero Neto, Guilherme Girotto e Daiane Albrecht.