Trinta e três anos depois, Corumbaense conquista 2º título estadual de sua história

Em momento algum, nenhuma das 5 mil pessoas presentes nas arquibancadas do estádio Arthur Marinho, pensou que seria fácil. Muito menos dentro de campo. Todos estavam cientes da dificuldade que seria aquela final. Do lado do Novo, a missão de um time com problemas financeiros e pouco apoio, de ter que derrotar o Corumbaense diante da sua apaixonada torcida. Do lado do Carijó da Avenida, ter que enfrentar uma equipe valente, de extrema obediência tática e lidar com a tensão de fazer parte de um jogo que foi esperado pela torcida durante 33 anos.

Após o apito do árbitro Thiago Alencar, que comandou o jogo da final do Estadual 2017 e apesar do forte calor,  o Corumbaense entrou concentrado e foi pra cima do Novo, tendo  chances de gol em cruzamentos trabalhados após jogadas de lado de campo. Em uma delas, aos 17 minutos, o capitão Cléber cabeceou livre na área para o bem colocado goleiro Bernardo defender. Melhor em campo até a parada técnica, o Corumbaense mostrava que não estava ali para segurar o resultado.

Mas do outro lado não estava qualquer equipe. Estava o time que eliminou o temido Águia Negra e o Sete de Dourados, campeão em 2016. Depois da parada técnica para hidratação dos jogadores, o rendimento do Corumbaense que correu demais no início do jogo caiu e aos 26 minutos, o Novo mostrou seu cartão de visita, assustando a torcida do Carijó. O goleiro Diego defendeu parcialmente um chute e a bola ficou dentro da área. Um susto, mas o goleiro sofreu a falta e a torcida respirou. O Novo queria estragar a festa.

Até os 39 minutos, o dono da casa não estava bem e a tensão na arquibancada aumentava, mas os torcedores não deixavam de cantar, incentivar. Foi quando o corumbaense Juninho agitou a galera. O meia chutou forte obrigando o goleiro Bernardo a mandar a bola para escanteio. Aos 41, Sandrinho recebeu o primeiro amarelo após falta sobre Ramer, o cartão faria diferença mais para frente.

Aos 42 minutos, Wiliam, que tinha marcado o gol em Campo Grande recebeu lançamento na direita de Juninho e chutou no lado direito do goleiro Bernardo. A bola ainda bateu na trave e entrou. O lado do gol era o mesmo que Negão, marcou o gol do primeiro título estadual do Corumbaense, em 1984. O bicampeonato estava cada vez mais próximo. Mas, do outro lado, estava o Novo, e para o Corumbaense, nunca foi fácil.

Aos 46 minutos do primeiro tempo, o jogo mudou. Sandrinho foi expulso após fazer falta em Luan. O atleta do Corumbaense, que não tinha jogado a partida em Campo Grande e vinha participando muito do jogo na marcação e no ataque saiu chorando de campo. Reconhecido pela torcida foi aplaudido, em um misto de preocupação pelo fato de estar perdendo um atleta em campo, mas pela alegria de estar a 45 minutos do título.

Reprodução: TV Morena

No intervalo, o treinador Douglas Ricardo conversou com a equipe, alterou posicionamento e adotou uma estratégia mais cautelosa para não correr riscos, já que para a equipe de Campo Grande o resultado não servia e a pressão no segundo tempo, principalmente jogando com um jogador a mais seria grande. Fazendo o que era esperado, durante os 10 primeiros minutos da segunda etapa, o Novo empatou. O gol saiu precisamente aos 9 minutos. Após um cruzamento do lado esquerdo, depois de um bate e rebate na área, a bola sobrou para Andrinho que não perdoou. Novo no jogo.

Três minutos depois, Kareca recebeu na área, chutou e encobriu o goleiro do adversário, mas a auxiliar Daiane Caroline Muniz invalidou o gol corumbaense alegando impedimento do atacante. O Novo pressionava, mas o Carijó acertou o posicionamento e segurava a partida.

Com a entrada de Elivélton que aparecia dos dois lados do campo, e a eficiência defensiva e ofensiva de Robinho, que voava pelo lado direito, o Corumbaense voltou a apresentar perigo para o Novo, que percebeu que poderia levar o segundo gol e acabou não se jogando tanto no ataque como fez no início do segundo tempo.

Aos 32 minutos, o Corumbaense percebeu que o Novo já apresentava cansaço. O time começou a apostar em jogadas de velocidade utilizando a habilidade do atacante Elivélton. O Galo Guerreiro estava com 10, o Novo estava com 11, mas o time da casa tinha 5 mil pessoas ajudando e aos 33 minutos, após um escanteio do lado direito, o zagueiro Júlio, do Novo, desviou para trás, a bola raspou na cabeça do volante Mutuca e foi para o fundo do gol. 2 a 1.

No final do jogo, jogadores e torcedores viveram uma explosão de sentimentos

Não era só mais um gol, era o gol do título, o gol da história, o gol da segunda estrela que representa o bicampeonato do clube de torcida mais apaixonada de Mato Grosso do Sul. Gol de um time que após 33 anos, conseguiu retribuir o amor da sua torcida que o acompanhou nas inúmeras vitórias, derrotas. Ao final da partida, foi impossível conter a alegria dos torcedores que entraram em campo para abraçar os heróis.

O Corumbaense subiu no degrau mais alto e foi a vez do capitão Cléber levantar a taça de melhor do estado. Com tanta gente em campo, jogadores e torcida se misturaram e era impossível conseguir a atenção de qualquer um deles. O gerente de futebol do Corumbaense, Renê Rodrigues, lembrou-se da relação do pai, o já falecido ex-prefeito de Corumbá, advogado Edimir Moreira Rodrigues, que participava ativamente da diretoria do clube e foi o responsável pela instalação das torres de iluminação do estádio.

“Não foi fácil, tivemos muitas dificuldades, mas conseguimos. Agora não é hora de falar se alguém nos prejudicou, ganhamos e Corumbá merece. Isso não tem preço, não posso deixar de lembrar de meu pai, o Dr. Edimir Moreira Rodrigues, que era advogado do Corumbaense. Ele era uma apaixonado pelo clube e esse título é pra ele também”, disse emocionado o dirigente.

O zagueiro Rafael, que estava fora do jogo decisivo até o começo da noite de sábado (06), por causa de uma punição do TJD/MS e que depois reconsiderou e concedeu efeito suspensivo ao atleta, fez sua terceira final consecutiva e exaltou a torcida do Carijó da Avenida. “Nosso maior desejo era chegar aqui e ser campeão. Uma torcida dessa merece, são poucos times no Brasil que têm isso. Tive o prazer de 3 anos seguidos chegar na final, dessa vez ser bicampeão, ano passado fui vice (pelo Comercial). Eu glorifico a Deus por esse título abençoado”, afirmou.

Técnico Douglas Ricardo durante execução do hino nacional; “na hora e no momento certos”

Na hora e no momento certos

O treinador Douglas Ricardo, que assumiu a equipe em março após a demissão do técnico Nei César, lembrou que a oportunidade de assumir o Carijó da Avenida apareceu na hora certa. O auxiliar Osvaldo Júnior comandou a equipe no empate em 1 a 1 com o Ivinhema, time que Douglas Ricardo acompanhava na época. Após o jogo, o clube fez contato com o treinador, que aceitou o desafio. O técnico campeão, que agora se junta ao treinador da equipe de 84, Da Silva, na história do clube, disse que estava no lugar e momento certos quando chegou ao Corumbaense.

“Só tenho a agradecer, primeiro a bênção que Deus me deu de estar aqui no lugar certo, na hora certa e fui escolhido no momento perfeito. Isso foi preparado por Deus e eu só agradeço por isso. Agradeço à diretoria, ao prefeito (Ruiter Cunha) e a essa torcida maravilhosa que confiou em mim. Não tem jeito, eu estou na história também”, ressaltou o treinador ao Diário Corumbaense.

O volante Wesley Sena Boiago, mais conhecido como Mutuca, explicou que trabalhou forte para que o título viesse. Ele destacou o empenho dos jogadores que se desdobraram em campo com um atleta a menos. “A gente trabalhou forte a semana toda e sabíamos que isso era muito possível acontecer. Graças a Deus, a equipe foi aguerrida do início ao fim. Infelizmente  aconteceu a expulsão no primeiro tempo, mas a gente se superou, se desdobrou dentro de campo e graças a Deus fomos coroados com a vitória”, contou.

Robinho, levantando a taça de campeão, conquistou a torcida corumbaense

Um dos mais festejados pela torcida, o lateral Robinho, que começou sua relação com a torcida do Corumbaense de forma conturbada quando jogava pelo Naviraiense, chorou de alegria. O atleta que tem excelente vigor físico e se destacou pela vontade e disposição durante todo o jogo, exaltou a festa da torcida. Ele, que já esteve do outro lado, como visitante, confessou que o Arthur Marinho desperta tensão nos adversários. “Muita vontade, muita dedicação. Deus honra quem trabalha e esse título é pra essa torcida maravilhosa. Aqui é o caldeirão, quando os caras vêm aqui eles tremem, porque aqui é embaçado mesmo”, confessou o jogador.

O corumbaense Juninho, que voltou ao time depois de 7 anos, explicou a sensação de ser campeão dentro de casa. O jogador, que tinha levantado a taça da Série B em 2006 ao lado do atacante Tuia, também presente no elenco deste ano, disse que tem vontade de permanecer no time para a próxima temporada.  “Ser campeão dentro de casa é demais. Se Deus permitir que fique vou ficar. Isso mostra o trabalho que a gente teve. O grupo foi muito unido e graças a Deus conseguimos o título. Valeu a entrega, independente de quem fosse fazer o gol. Ficamos na história, o importante é ser campeão porque é o campeão que vai para o quadro”, disse o jogador.

Renê, diretor de futebol do clube, e Juninho: emoção à flor da pele

Sandrinho, que foi expulso ainda no primeiro tempo, talvez tenha sido quem mais sofreu no estádio. O jogador teve que acompanhar todo o segundo tempo no vestiário e ver a possibilidade de mesmo com todo o empenho que jogou na primeira etapa, se transformar em vilão da decisão.  “Coisa mais dolorosa do mundo é ficar dentro do vestiário sabendo que estava empatado e tudo poderia cair nas minhas costa. Eu estava tentando ajudar, mas aconteceu aquilo. É angustiante demais. O time foi guerreiro, foi merecedor até o final. Glória a Deus por isso aqui”, afirmou.

Presente em 1984, o diretor de futebol do clube, José Roberto Aparecido da Costa, não conseguia conter a emoção antes mesmo do final da partida. Ele destacou o trabalho de todas as diretorias que passaram pelo Corumbaense nos últimos anos e afirmou não saber dizer qual dos títulos despertou mais emoção. “Depois de 33 anos, poder reviver isso daqui, é muita alegria. O clube foi evoluindo a cada ano, cada diretoria foi procurando ajustar uma coisinha ou outra.  Eram épocas diferentes, mas título é título, vamos viver isso agora,” disse José Roberto.

Elenco campeão de 2017 que entrou para a história do Corumbaense

O título do Campeonato Estadual de Mato Grosso do Sul e a conquista da vaga em competições nacionais em 2018 estabelecem um divisor de águas na história do clube. Com vaga garantida na Série D e Copa do Brasil, o time do interior de Mato Grosso do Sul vai costurar mais uma estrela na parte superior de seu escudo. Além de impor mais respeito aos adversários, a segunda estrela, servirá para iluminar o caminho do clube em direção a novas conquistas. As duas estrelas, servirão para mostrar aos outros 11 clubes da Série A do Estadual, aos 78 municípios do Estado e a todos os estados do Brasil, que 33 anos depois, o campeão voltou.

Ficha técnica do jogo

Corumbaense

Técnico: Douglas Ricardo

Titulares: 22- Diego (goleiro), 2- Robinho, 3- Rodrigo, 4- Rafael, 6- Valdinei, 5- Cleber, 8- Mutuca, 11- Willian, 10- Juninho, 7- Sandrinho, 9- Kareca

Suplentes: 13- Thiago Costa, 14- Adailton, 15- Fagner, 16- Elivélton, 17- Romarinho, 19- Tuia

Novo

Técnico: Bazílio Amaral

Titulares: 1- Bernardo (goleiro), 2- Cafu, 3- Diogo, 4- Magno, 5- Julio, 6- Ramer, 19- Maguila, 14- Wesley, 9- Vilmar, 10- Andrinho, 17- Luan

Suplentes: 12- Guilherme, 8- Rafael, 15- Vandinho, 7- Arthur, 11- Matheus, 16- Kiko, 18- Jefferson.

Arbitragem:

Thiago Alencar Gonzaga, auxiliado por Cícero Alessandro de Souza e Daiane Caroline Muniz

Público e renda:

5 mil torcedores; R$ 55,9 mil

fonte Diário Corumbaense- fotos Fotos: Anderson Gallo/