Pesquisa com ‘pílula do câncer’ é suspensa

SÃO PAULO — O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Faculdade de Medicina da USP, suspendeu a inclusão de novos pacientes nos testes da fosfoetanolamina sintética, a “pílula do câncer”, no tratamento da doença. Das 72 pessoas tratadas até hoje, de 10 diferentes grupos de tumores, apenas um paciente do grupo de melanoma apresentou resposta ao tratamento. Ele teve mais de 30% do tumor reduzido. No total, 20 pacientes seguem em observação.

Em agosto de 2016, o Icesp deu início à primeira etapa dos testes em humanos com a fosfoetanolamina sintética, com dez pacientes. Nela se verificou os efeitos colaterais graves da substância. Quatro seguiram para a segunda fase, em outubro. Nesta próxima etapa, a ideia era avaliar a substância em mais de 200 pacientes. Eles seriam divididos em grupos de 10 tipos de câncer diferentes — cada um com 21 pessoas — e tomariam três doses da pílula durante seis meses. Quando três de cada um apresentasse melhora, o mesmo seria acrescido de mais pacientes. Do contrário, aquele grupo seria encerrado.

O grupo de câncer colorretal foi o primeiro a completar a inclusão de todos os 21 pacientes, e foi encerrado, pois nenhum apresentou resposta objetiva ao tratamento.

— Achamos mais prudente suspendermos a inclusão de novos pacientes no estudo, porque da maneira como está sendo colocado, não achamos que seria ético continuarmos incluindo pacientes — justifica o diretor-geral do Icesp, Paulo Hoff.

O médico informou que estudaria com a equipe do professor de Química aposentado Gilberto Chierice, da USP de São Carlos e inventor da fórmula, a melhor maneira de prosseguir com as avaliações.

Sobre o único paciente que apresentou resposta positiva à substância, Hoff explicou que isso poderia acontecer por diversas razões, e que é cedo para avaliar se essa melhora está relacionada ao uso da pílula:

— Existem relatos de regressões espontâneas, efeito placebo etc. Preciso de avaliação detalhada.

O secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Davi Uip, fez questão de frisar que “seguiu-se com rigor as decisões dos pesquisadores” e que “cumpriu-se o que foi combinado em todos os níveis, desde a síntese até o final da pesquisa, referindo-se à equipe de Chierice.

— Torcíamos muito pelo bom resultado. Eu, particularmente, mais que os outros, por problemas pessoas, mas o compromisso é com a ciência e esse foi cumprido — disse Uip.

Nesses últimos oito meses, todos os pacientes inseridos passaram por avaliações periódicas, com retornos entre 15 e 30 dias, para a realização de consultas médicas e exames, dentre eles a avaliação da doença por tomografia, o que permite aos médicos acompanhar de perto a evolução do câncer em relação ao uso da substância.

Os pacientes envolvidos no projeto vão continuar em tratamento no Icesp normalmente, com acompanhamento da equipe de oncologia.

O Globo –  Luiza Souto