Quadrilha usava nomes de usuários de drogas e mendigos para o tráfico

Traficantes presos na manhã desta terça-feira (28), na operação “All In” da Polícia Federal (PF), que agiam em Mato Grosso do Sul e outros cinco estados, usavam nomes de laranjas para fazer transferências bancárias, registrar e transferir imóveis, veículos e até aeronaves. As vítimas eram pessoas com doenças graves, moradores de rua e principalmente usuários de drogas.

Os documentos dos laranjas muitas vezes eram conseguidos em locais de consumo de droga, como a cracolândia em São Paulo. Com procurações falsas, várias contas bancárias foram abertas, pessoas que não tem nem onde morar eram donas de aviões, carros e caminhonetes, sem saber de nada.

A quadrilha teve cerca de R$ 7,5 milhões em bens, incluindo seis aeronaves, dinheiro e vários veículos apreendidos. Um aeródromo foi interditado em Corumbá, a 415 quilômetros de Campo Grande. O local é apontado como um dos principais pontos de entrada de aviões no país, carregados com cocaína trazida da Bolívia pela quadrilha.

De acordo com a Polícia Federal, os traficantes contavam com a participação de aproximadamente 30 pessoas, que atuavam em várias funções de logística e transporte de entorpecentes. Despachantes ajudavam na compra de veículos, advogados falsificavam documentos, atuavam na defesa de integrantes da quadrilha e ajudavam na distribuição de drogas.

Dos 18 mandados de prisão, 16 foram cumpridos em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Minas Gerais e São Paulo. Também foram bloqueados dinheiro de 68 contas correntes, sequestrados cinco imóveis e apreendidos mais de 30 veículos adquiridos por meio de práticas criminosas.

Aeronaves apreendidas no aeródromo sequestrado de Corumbá (Foto: PF/ Divulgação)
Aeronaves apreendidas no aeródromo sequestrado de Corumbá (Foto: PF/ Divulgação)

Lider da quadrilha
O chefe do esquema é um velho conhecido da justiça, que foi preso na casa dele em Campo Grande,  na manhã desta terça-feira (28). Parte do dinheiro apreendido estava em um fundo falso na residência dele.

O homem de 59 anos já tinha sido preso três vezes, nas décadas de 80 e 90, duas prisões foram por tráfico de drogas. Uma das prisões foi em 2000, quando o homem foi apontado como o principal mentor do sequestro de um Boeing da Vasp, com 61 pessoas. Na época foram roubados R$ 5 milhões.

De acordo com a polícia, o líder da quadrilha não tinha bens em seu nome, não trabalhava, mas levava uma vida de ostentação, de alto padrão. Além das três prisões, ele possui condenações por tráfico de drogas em vários estados.

Investigação
Segundo informações da PF, o bando entrava com entorpecentes no Brasil com aeronaves, na maioria das vezes, a partir de Corumbá. A distribuição era feita para a região sudeste do país por via terrestre, quase sempre em caminhonetes e caminhões com compartimentos falsos.

A investigação durou um ano. Neste período foram presos três integrantes da quadrilha com 800 quilos de cocaína. As prisões foram feitas no momento em que os traficantes transportavam o entorpecente.

A operação foi batizada de “All In”, que é uma jogada típica do pôquer em que o jogador aposta todas as suas fichas em uma mão de cartas, em alusão à forma impetuosa com que a quadrilha age, arriscando-se no transporte de grandes carregamentos de entorpecentes.

A quadrilha vai responder por tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos.

Cocaína apreendida durante investigação que resultou na operação (Foto: PF/ Divulgação)
Cocaína apreendida durante investigação que resultou na operação (Foto: PF/ Divulgação)
*G1 MS