Suposto lobisomem de MS pode ser lobo-guará, javali ou cão asselvajado

O suposto ataque de um animal com aparência de lobisomem movimentou a cidade de Iguatemi, na região sudoeste de Mato Grosso do Sul, perto da meia-noite de segunda-feira (20). A aparição se tornou o assunto da cidade de 15 mil habitantes, mas quem entende da fauna garante que o lobisomem, na verdade, pode ser um mamífero da região.

Para o professor Marcelo Bordignon, doutor em zoologia do laboratório de Mastozoologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o animal visto pode ter sido um javali ou um cão doméstico asselvajado, que não consegue mais se sociabilizar com as pessoas. Já para o tenente-coronel Edenilson Queiroz, da Polícia Militar Ambiental (PMA), trata-se de um lobo-guará, animal muito comum na região.

“Eu nunca vi um lobisomem, mas o bicho que se parece com um lobisomem é o lobo-guará. Ele é grande e está presente em todo o cerrado. Realmente, parece um lobisomem”, afirmou o tenene-coronel da PMA.

Queiroz e Bordignon concordam, no entanto, que o lobo-guará jamais atacaria uma pessoa. “É difícil ser atacado por um animal na nossa fauna. Nenhum deles costuma atacar as pessoas. Até a onça ia se afastar”, afirma Queiroz. Já Bordignon conta que o lobo-guará é um animal solitário, mas totalmente inofensivo, que se alimenta de tatus pequenos, roedores, aves e frutos.

O doutor em zoologia levanta outras hipóteses. “Não se pode descartar porém, a existência de javali na região, um suíno exótico, não-nativo, de grande tamanho, de até 200 kg, geralmente de pelagem abundante e com focinho longo. Estes animais às vezes se mostram bem agressivos com estranhos, pois são territorialistas. Este animal pode ter sido confundido com as descrições do ocorrido, jamais o lobo-guará”, disse.

Outra possibilidade levantada por Bordignon é de que o suposto lobisomem seja, na verdade, um cão de grande porte usado para guarda como pastor, rottweiler ou um mestiço, que fugiu ou foi abandonado e sofria maus-tratos por humanos. “Estes cães podem voltar a exibir instintos selvagens, sentindo-se ameaçados pela presença de pessoas. A perseguição de veículos, ciclistas e motociclistas é comum por este tipo de cão, ou cães com este comportamento estereotipado”, disse.

Mato Grosso do Sul possui 166 espécies de mamíferos não voadores. A maioria são animais de pequeno porte, como ratos silvestres e marsupiais como gambás e cuícas, mas, pelo menos 44 são de médio ou grande porte como anta, tamanduá e a onça-pintada.

O ataque
A Polícia Militar foi acionada na madrugada de terça-feira (21) por conta do suposto ataque do animal peludo, com características do animal lendário. A PM fez buscas e registrou boletim de ocorrência, mas não encontrou nada.

A professora Regina de Abreu, de 55 anos, contou que estava indo à casa de uma filha pouco antes da meia-noite quando, ao passar por um matagal no bairro Waloszek Konrad, um bicho horrível com cabeça grande e focinho muito comprido avançou sobre o carro e tentou morder o braço dela. O esposo, que estava ao lado dela, disse que não viu nada.

O casal parou o carro e em seguida foi abordado por uma moradora que afirma ter visto um animal muito estranho, semelhante a um lobisomem tentando atacar as pessoas que estavam no veículo e em seguida o bicho teria fugido pelo mato.

Na sequência, cerca de 30 moradores do bairro, que afirmam ter visto o lobisomem em outras ocasiões, se reuniram e foram em busca do bicho com paus e foices nas mãos.

 

G1 MS