‘Estar aqui é um milagre’, diz 1º bebê de proveta de MS após fazer 21 anos

Sorriso largo e relatos de uma vitória. Primeiro bebê de proveta de Mato Grosso do Sul, Aline Caldas de Paula Neves reconheceu o esforço e amor que os pais tiveram para dar vida a ela. “Meus pais foram muito corajosos de deixar o sonho de comprar a casa própria e vir me buscar. Foram eles que vieram até mim. Isso é um privilégio e estar aqui é um milagre”, disse.

Aline completou 21 anos na segunda-feira (29). Para o futuro, a jovem, que é estudante de farmácia, relatou ao G1 que tem muitos sonhos. “Quero me formar, construir uma família, casar com meu atual e eterno namorado. Família é uma benção do Senhor”, destacou.

Aline mostra uma caixa de fotos que tem dela e do namorado (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)
Aline mostra caixa de fotos que tem dela e do namorado (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)

Com bom humor, Aline lembra do tempo em que tinha 5 anos de idade e os colegas de sala não entendiam o que era uma criança de proveta. “Em sala de aula falávamos de gestação, eu falei para professora que fui feita em um tubo e todos riram de mim e eu chorei. Eu era criança e não entendia nada. Naquela época, meus pais começaram a me explicar sobre minha história. Com o tempo, entendi um pouco mais sobre mim”.

Em uma pasta vermelha, os pais de Aline, Regina Célia Caldas e Luiz Carlos de Paula Neves, guardam, com muito carinho e orgulho, diversos registros de fases da vida da filha, desde o dia em que Regina começou o tratamento de fertilização até momentos depois do nascimento.

Ao abrir o material e recordar os momentos, o casal não esconde o brilho nos olhos e a alegria ao falar da filha. “Não gosto de olhar para trás, só para frente. Mas, no caso dela, há 20 anos me recordo de tudo, a primeira fala, os primeiros passos, a primeira formatura. São 20 anos que quero recordar para sempre”, afirmou Regina.

Neves garantiu que a filha é um orgulho, uma menina que quer vencer na vida. “Ela tem o pé no chão, não nos dá trabalho em nada e é muito responsável”.

Regina relatou que a fertilização in vitro veio depois de uma cirurgia que a impediu de ter filho por métodos naturais. “Perdi as duas trompas e a única maneira de ser mãe seria ter um bebê de proveta. Eu nem sabia o que era isso”, disse a mãe.

“Quando ela recebeu a notícia, verifiquei nela um entristecimento, uma agressão psicológica. Foi aí que busquei saber sobre o procedimento”, completou o pai da jovem.

Aline recorda de fotos de quando era criança (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)
Aline olha fotos de quando era criança (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)

“Lembro que, em uma visita ao médico, disseram que a fertilização era um processo doído por conta das medicações. A princípio me assustei, mas quis tentar. Graças a Deus deu certo na primeira vez”, declarou Regina.

Neves falou que, na época, o procedimento de fertilização era uma raridade. “Gastamos cerca de 5 mil dólares com medicamentos que eram importados, vinham dos Estados Unidos. Essas medicações eram para estimular a ovulação. Eu tinha que ter essa medicação em mãos de 15 em 15 dias, sem contar que tinha que ter também de 20 a 25 dólares”, disse.

“De milhões de óvulos, seis deram certo. Foi aí que o médico disse que dali em diante o papel era da natureza. No meio de tantos, a Aline batalhou e nasceu. Ela veio em um dia que fazia muito frio, com dois quilos e 700 gramas e 47 centímetros”, contou Regina, lembrando do momento em que ouviu o choro da filha pela primeira vez. “Foi muito emocionante, só quem é mãe sabe. Quando ouvi o choro daquela coisinha pequena e o calor dela, eu chorei muito, meu marido e o médico que fez a fertilização também chorou bastante”.

Aline segura uma foto de quando era pequena (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)
Aline segura uma foto de quando era pequena (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)

Os pais de Aline contaram ainda que, quando Aline nasceu, filas se formavam para conhecer o bebê de proveta. As pessoas, segundo eles, se aglomeravam tanto em frente a casa deles como na saída do hospital. “Ficava tudo cheio. O hospital, quando ela nasceu, colocou uma placa na frente dizendo que ninguém podia entrar”, lembrou Neves. “Tinha mãe que mandava o filho vir em casa para ver”, completou o pai. “Deviam achar que eu já tinha nascido grande, ou queriam ver se era de verdade”, brincou Aline.

Aos casais que pensam em ter um bebê e precisam utilizar os métodos de uma fertilização, Neves relatou que vale a pena e que faria tudo novamente. “Se for para começar outra fertilização, vamos começar hoje”, disse.

Especialista em medicina reprodutiva e diretora do Centro de Fertilização Humana Assistida, a clínica Fertility, Suely Resende contou que, atualmente, um tratamento de fertilização custa em torno de R$ 13 mil.

 

Fonte: G1 MS