A indignação ao ver centenas de pacientes, chegando na capital para tratamento, com a doença já em estágio avançado, é o que motivou o médico oncologista Fabrício Colacino Silva, de 36 anos, a criar um projeto diferenciado. Segundo o profissional, foram alguns anos de estudo e milhões em investimentos, mas, que trouxeram a ele e a toda a equipe algo de valor inestimável: diagnóstico precoce, com chance das pessoas terem um tratamento tranquilo, sem mutilações e sequelas.
“É a oportunidade que muitos têm de voltar para as suas famílias íntegros e com um diagnóstico precoce. O que acontecia antes era que 90% dos pacientes do interior do estado já chegavam em estado avançado de um tumor, por exemplo. A intenção então foi pensar em uma fórmula de prevenção desde a fase inicial, com acompanhamento desse paciente e a chance dele continuar o tratamento pelo SUS [Sistema Único de Saúde] posteriormente”, explicou ao G1 o médico.
Desde o início do funcionamento, já são cerca de 40 mil pessoas atendidas e percurso que inclui 72 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul.
“Nós temos o atendimento com os prontuários e diagnósticos encaminhados para a secretaria de saúde do município, sendo a pessoa encaminhada para continuar o tratamento. Foi uma empresa que teve de ser criada, somente para este projeto, que conta com patrocínios e também valores que, muitas vezes, saíram do meu bolso para manter a ideia em pé”, explicou.
Chegada nos municípios
Toda vez que o veículo sai da garagem, ainda conforme Colacino, existe um custo em média de R$ 10 a R$ 12 mil.
“Dois médicos, dois enfermeiros, dois técnicos de radiologia, cinco técnicos de enfermagem, motorista e motorista auxiliar compõem a equipe. Nós fazemos um roteiro e o secretário de saúde municipal é quem divulga a nossa presença na cidade. Todos saem de madrugada, em dois ônibus e, quando chegamos, temos tempo de um café reforçado e já começamos o trabalho”, relatou.
Já na cidade, para “otimizar” o trabalho, os profissionais recebem uma lista e iniciam os exames. “É uma ação ininterrupta porque os equipamentos são muito caros e priorizamos o maior número de pessoas, mas conseguimos atender ao máximo 950 pessoas em uma dia. Temos cerca de 80 pessoas envolvidas diretamente no projeto, em esquema de rodízio e, para se ter uma noção, este veículo teve o custo de R$ 5 milhões e a empresa fabricante passou a investir no segmento”, comentou.
Sem a fila do SUS
No tempo em que está se dedicando ao projeto, o médico diz “ter a certeza de estar no caminho certo”.
“Tenho o maior prazer do mundo em manter este projeto e deixo a Santa Casa como um atendimento posterior, para que o paciente não fique a mercê de um sistema que o deixa em uma fila por muito tempo. Tenho como exemplo o caso de uma senhora que recebeu um diagnóstico precoce do câncer de mama e já está passando pelo tratamento”, ressaltou.
“Foram três anos montando o projeto, com a ajuda de engenheiros e hoje a empresa tem um berço de montagem, com elevador para levar o paciente até o segundo andar. Após 15 dias do atendimento, encaminhamos o relatório ao secretário de saúde, avisando da necessidade de um exame de maior complexidade e, se preciso, ponte para o atendimento na capital. Ao mesmo tempo, aqueles que aguardam ainda assistem a palestras de prevenção”, finalizou.
*G1-MS