Embrapa desenvolve algodão de fibra longa

Uma pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) obteve fibras longas de algodão, que o Brasil não produz e precisa importar para atender um nicho de mercado. Se novas pesquisas com as variedades desenvolvidas comprovarem a produtividade destas plantas, o País poderá cultivar em território nacional fibras que hoje compra de outros países e que, inclusive, já chegou a importar do Egito.

A pesquisa com variedades de algodão de fibra longa, que alcançam entre 31,3 milímetros e 34,8 milímetros, começou em 2011. Segundo informações da Embrapa, foram utilizadas duas variedades cultivadas: uma que tem produtividade elevada e outra devido ao comprimento longo da fibra. A partir do cruzamento entre elas, foram selecionadas as plantas que apresentavam maior comprimento de fibra.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Algodão, Luiz Paulo de Carvalho, este estudo é parte de um projeto de melhoramento genético do algodão, que recebe investimento anual de aproximadamente R$ 200 mil. Para esta pesquisa, foram utilizadas plantas da espécie Gossypium hirsutum, que são mais resistentes do que as plantas da espécie Gossypium barbadense. Estas dão origem às variedades Giza, do algodão de fibra egípcia, e Pima, do algodão de fibra longa procedente dos Estados Unidos e do Peru.

A utilização da variedade G.hirsutum reduziu, também, o ciclo da planta. O Brasil já produziu algodão de fibra longa por meio da variedade Gossypium hirsutum L.r. marie galante. Essa variedade tinha um ciclo de cinco anos, que permitia que a propagação de uma praga conhecida como bicudo-do-algodoeiro. A nova variedade tem ciclo anual, o que permite ao produto ter um controle maior sobre a praga.

“Nos Estados Unidos eles conseguiram obter fibras longas por meio da seleção de variedades e fiz isso aqui no Brasil. Consegui obter plantas com até 34,3 milímetros de comprimento. Procurei fazer isso com uma espécie que não fosse a Giza ou Pima, que são mais suscetíveis às doenças”, afirmou Carvalho à ANBA.

O laboratório da Embrapa Algodão fica em Campina Grande, na Paraíba, e as pesquisas e plantios foram realizados no Nordeste e no Centro-Oeste do Brasil. “Temos de aperfeiçoar, avaliar a produtividade e também os comprimentos das fibras. Depois, é preciso realizar as pesquisas de Unidade de Controle Biológico (BCU, na sigla em inglês). Nesta etapa, a variedade precisa ser plantada e analisada por dois anos em três locais. Deveremos fazer o controle biológico a partir do ano que vem no Ceará, Rio Grande do Norte e também em Goiás”, disse Carvalho.

As pesquisas deverão continuar por cerca de três anos até que a nova variedade esteja pronta para o cultivo em larga escala. “A produção poderá atender ao consumo interno. Se isso ocorrer o Brasil não precisará mais importar. Exportar o produto, porém, depende de custos e estratégias. Egito, Peru e Estados Unidos são exportadores e têm um custo menor do que o Brasil teria”, afirmou o pesquisador. Apesar de as fibras longas e extralonga serem valorizadas na fabricação de tecidos de luxo, sua participação na produção mundial corresponde a 3% do total. O Brasil teria condições de replicar nas suas lavouras esta produção.