Sem conseguir vaga, idoso de 74 anos pede para ‘morrer em casa’

Com 74 anos e internado em estado grave no Hospital da Vida em Dourados, Anélio Contri corre risco de sofrer um terceiro acidente vascular cerebral (AVC) por não receber o atendimento necessário. Ele precisa ser transferido para Campo Grande à unidade especializada que realiza cirurgia, mas o procedimento ainda não foi feito, mesmo com o pedido de urgência.

Contri está internado desde terça-feira (10) e vinha fazendo acompanhamento médico, o que ajudou a identificar que ele está com artérias insuficientes para levar o sangue ao cérebro. Sem expectativa de ser transferido, o homem pediu hoje à equipe médica que o atende em Dourados liberação para poder “morrer em casa”.

A família acionou a Defensoria Pública, que entrou na Justiça Estadual na quinta-feira (12) com ação para cobrar o devido atendimento. Na sexta-feira (13), o Núcleo de Apoio Técnico do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) deu parecer favorável pela remoção.

“Considerando que o requerente, de 74 anos, está internado no Hospital da Vida, em Dourados, e necessita ser transferido para unidade hospitalar com atendimento especializado em cirurgia endovascular, (…) este Núcleo de Apoio Técnico é favorável ao atendimento do pedido de transferência”, informou documento protocolado no processo.

Apesar de ele apresentar quadro de saúde estável, a demora na realização da cirurgia de angioplastia percutânea carotídea deve acarretar em complicações. Contri já teve outros dois AVCs e deu entrada no Hospital da Vida com oclusão e estenose de artérias pré-cerebrais e doença cardíaca hipertensiva.

“O autor está correndo risco de morte súbita, caso permaneça internado no hospital em se que encontra, estando a sua própria sorte”, sustentou a Defensoria Pública no pedido judicial.

Familiares explicaram que o procedimento que precisa ser realizado para tentar salvar Contri custaria em torno de R$ 40 mil e ainda outros R$ 20 mil seriam necessários para acompanhamento pós-cirurgia. Eles não têm condições de realizar essa cirurgia por meio particular e depende do Sistema Único de Saúde (SUS).

ESPERANÇA PEQUENA

Anélio Contri é aposentado, trabalhou na lavoura por mais de 20 anos e mora no Centro de Itaquiraí. Quem o acompanha no hospital é a filha, Jorgete Contri, de 52 anos. “O médico falou para ele a situação. Ele pediu para ser liberado e se vai morrer, queria morrer em casa e não no hospital. Meu pai está morrendo. A pressão dele já chegou a 20”, contou a acompanhante.

Ela afirmou que foi cogitada enviar Contri a Campo Grande pela vaga zero, medida que tenta forçar um hospital receber o paciente, mas não seria o melhor procedimento. “O médico me procurou hoje, umas 17h, e falou que se mandar pelo vaga zero, vão deixar meu pai no corredor. Isso vai complicar o quadro dele”, afirmou Jorgete.

De acordo com a filha de Contri, um dos hospitais que poderia atendê-lo é a Santa Casa de Campo Grande. Dourados é uma regional de saúde e a reportagem procurou a prefeitura local para verificar a situação da transferência. O retorno só deve ser dado amanhã (17). Houve também comunicação com a Ouvidoria da Secretaria de Estado de Saúde, mas reposta deve ser enviada nesta terça-feira.

 

 

Correio do Estado