Notícias Ferrugem da soja: Aenda questiona critérios para suspensão de fungicidas

A Aenda (Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos) questiona os métodos utilizados pela Comissão Técnica de Reavaliação da eficácia dos produtos registrados com indicação para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). No final do ano passado, o grupo decidiu suspender a recomendação de 63 fungicidas por suposta perda de eficiência.

De acordo com o diretor executivo da entidade, Tulio de Oliveira, a decisão “causou estranheza” pelo fato de ter sido adotada com base em ensaios cooperativos da Embrapa aplicados isoladamente, com protocolos que não seguem as recomendações descritas nas bulas dos produtos. “Esses ensaios são realizados em plena incidência da doença, com esporos para todo lado, e crescimento exponencial dos filamentos tubulares”, denuncia.

De acordo com a Aenda, a composição dos 63 produtos tinham como ingredientes ativos os grupos químicos triazol, estrobilurina, benzimidazol, amônia quaternária e misturas dos mesmos. “Os agrônomos do país não esperavam punição, e sim caminhos técnicos para enfrentamento da doença que afeta a principal cultura do país. Mesmo porque a punição é inócua, pois o mercado se encarrega de expurgar rapidamente produtos que já não possuem a mesma eficácia”, alega o dirigente.

Ele vai além e afirma que os produtos atingidos pela suspensão já foram elogiados por suas performances no combate ao fungo e continuam sendo úteis em alguns cenários, quando associados a outros grupos químicos. Estranha ainda que a Comissão não tenha suspendido produtos formulados que combinam determinados grupos químicos, concluindo que certamente têm utilidade no manejo desta doença.

“Ora, o agricultor faz isso usando a mistura-em-tanque, de acordo com o seu entendimento de manejo e tem também usado aqueles produtos expurgados. A própria Embrapa levantou que mais ou menos 90% dos agricultores fazem mistura-em-tanque. Sabem por quê? Fica mais barato que usar produto já combinado”, sustenta.

Tulio afirma que o verdadeiro problema é que o fungo, nas condições de extensão contínua da soja brasileira, está criando mais musculatura e ficando adaptado ou mesmo resistente aos fungicidas: “Alguns grupos químicos lançados mais recentemente ainda têm boa eficiência, infelizmente, serão rapidamente derrotados. Essa afirmativa já é voz corrente entre os pesquisadores das empresas. Ninguém quer enganar ninguém. Que nos perdoe a Embrapa, que tanto tem contribuído para a ciência fitossanitária, mas é hora de trocar a concepção dos ensaios curativos para a busca de manejos inteligentes, com práticas culturais e uso racional dos produtos. Talvez, em pacotes regionais”.

“Os produtos podem ser curativos, funcionando após a instalação da doença; protetores, dificultando o estabelecimento do fungo; e, erradicantes, eliminando os esporos que representam a fonte de multiplicação desses seres. É importante separar os principais produtos para controle dessa praga no tocante aos diferentes mecanismos de ação, pois que ajudam a driblar o processo de adaptação do fungo”, sugere.

O titular da Aenda faz um apelo ao Ministério da Agricultura para alterar o objetivo desta Reavaliação e aproveitar a Comissão Técnica já formada para trabalhar as bases tecnológicas do controle da doença daqui em diante. “Se necessário convidar quantos especialistas sejam necessários para aprofundamento dos debates. Recomendação ao agricultor, sim, punição não”, conclui.

 

Agrolink
Autor: Leonardo Gottems