A torcida do Atlético Nacional é um remédio para o espírito. Espanta o mau-humor, invoca a euforia e, a julgar pelo burburinho com som alto, cerveja e paquera do lado de fora do estádio em Medellín, pode até trazer a pessoa amada em pouco mais de 90 minutos. A postura do clube inspira, a paixão do povo de branco e verde que não para de cantar mesmo debaixo de forte chuva emociona, e os jogadores vão no embalo: 3 a 0 com a Chape no peito. Mas eles acharam pouco. O mosaico, o minuto de silêncio, os gritos antes da partida, as faixas celebrando “uma nova família que nasce” e desejando força à torcida, familiares e moradores da cidade catarinense, nada disso foi suficiente para uma equipe que ganhou milhões de novos torcedores para o Mundial de Clubes.
O melhor ficou para o fim. A portas fechadas, enquanto jornalistas aguardavam a saída dos jogadores do vestiário para entrevista, os gritos de “vamos, vamos, Chape” foram novamente ouvidos, desta vez, com os atletas reproduzindo a comemoração da equipe brasileira quando se classificou para a final da Copa Sul-Americana. De arrepiar. O capitão Henriques explicou:
– Desafortunadamente aconteceu, e nós passamos a sentir um gosto muito amargo porque os jogadores de futebol nunca imaginam que isso pode acontecer. Fizemos uma pequena homenagem, cantamos a canção que vimos por todas as redes sociais. É uma pequena homenagem à Chapecoense, porque na verdade para nós foi muito forte. Estamos em aviões a cada três dias.
Com os olhos marejados e camisa da Chape, o médico Edson Stakonski explicou ao deixar o vestiário do time de Medellín:
– Tenho de agradecer ao Atlético Nacional, mais uma homenagem muito bonita. Tem aquele vídeo após a classificação para a semifinal da Copa Sul-Americana, com os jogadores e a comissão técnica cantando e comemorando no vestiário, eles fizeram igual. Eles que cantaram, não tinha o vídeo lá dentro. Foi fantástico. Só nos apoiaram. Emocionante. Difícil falar.
O sentimento da arquibancada se resumiu quando a reportagem do GloboEsporte.com, ao lado de outros jornalistas brasileiros, foi abordada por uma torcedora na arquibancada. Muito emocionada, disse que os colombianos sentiram a dor dos brasileiros como se fossem seus próprios amigos ou familiares no avião que caiu em Medellín.
– Fizemos todas essas homenagens do fundo do coração. É algo muito sincero. Todos sentimos muito o que aconteceu – disse a torcedora, se despedindo carinhosamente dos repórteres.
O presidente do clube, Juan Carlos de la Cuesta, reconheceu que os colombianos absorveram o golpe da tragédia que matou dezenas de brasileiros como se fossem seus conterrâneos no avião da boliviana LaMia. E que essa emoção certamente interferiu na forma apaixonada como a equipe atuou no Atanasio Girardot, conseguindo a classificação para a semifinal do Campeonato Colombiano com o gol de Nieto aos 46 minutos da etapa final:
– Creio que sim, porque a equipe estava muito triste pela situação, primeiro pela tragédia tão grande e depois por não disputar a final, mas a equipe estava descansando há 10 dias para competir nesse momento. Queríamos classificar à fase seguinte primeiro diante de um rival como Millonarios e por outro lado para também render uma homenagem à Chapecoense – De la Cuesta, que esbanjou simpatia após o jogo atendendo pacientemente pedidos de fotos de vários torcedores.
Uribe, por sua vez, lembro do sonho das duas equipes de disputar a decisão da Sul-Americana:
– Todos sentimos como se fosse algo conosco, foi algo muito perto. Foi na nossa terra, era a equipe que iríamos enfrentar. Os dois times tinham o mesmo sonho de jogar a final da Sul-Americana. Foi um golpe muito duro, mas agora é ter muito fé e desejar muita fé às famílias, para quem damos todo nosso apoio.
Globo Esporte