EBRAPDP é uma das fundadoras do GCAN e participa das COP 21 e 22

Visando ampliar sua representatividade e cativar novos apoiadores à ideia de uma agricultura sustentável, a diretoria da FEBRAPDP optou por sua internacionalização, relacionando-se institucionalmente com organismos semelhantes de outros países.
Uma parceria que tem dado muitos resultados é com a APAD (Associação de Promoção da Agricultura Durável) na França, que promove a agricultura baseada no Sistema Plantio Direto (SPD) concebido no Brasil.
A FAO também promove o SPD, mas ao adotar a nomenclatura de Agricultura Conservacionista (AC) para estas estratégias, permitiu que muitas outras práticas agrícolas, que não surtem o mesmo efeito benéfico, fossem consideradas “Conservacionistas”.
Em 2015, aproveitando uma oportunidade surgida na COP 21 de Paris, diversas instituições representativas de agricultores com interesse na difusão do SPD, entre elas a FEBRAPDP e a Agrisus, se reuniram e apresentaram ao público as bases de uma agricultura sustentável. Esta organização levou a criação do Global Conservation Agriculture Network – GCAN, sendo a FEBRAPDP uma das instituições fundadoras.
O GCAN é uma rede colaborativa de representações de agricultores que promovam o SPD e a AC e tem por objetivo dar visibilidade aos agricultores e à agricultura, ajudando a se articularem para ampliar a troca de experiências, a transferência de conhecimento e a valorização da atividade.
O GCAN foi fundado na COP 21 e organizou uma importante conferência na COP22, que aconteceu em Marrakesh, no Marrocos, onde se discutiu como incentivar os agricultores a adotar o SPD como base da AC e como isso pode ajudar os países a cumprir seus objetivos climáticos. Agricultores e pesquisadores de todo o mundo se reuniram para compartilhar suas experiências e discutir como eles estão fazendo a sua parte para contribuir diminuir os efeitos das mudanças climáticas.
A AC reduz as emissões de carbono por eliminar o preparo de solo, mantendo assim carbono e nutrientes importantes no solo. Ao combinar com a adoção de culturas de cobertura e rotação de culturas, como propõe o SPD, a agricultura passa a ser sequestradora de carbono adicionado da atmosfera pelas outras atividades humanas e o converte em matéria orgânica do solo.
O GCAN reiterou aos responsáveis políticos na COP como os agricultores têm feito um grande trabalho para o clima e que desejam ampliar estes benefícios à sociedade, mas que precisam de políticas adequadas para apoiá-los. Mostramos que, somente em 2015, os agricultores substituíram mais 10 milhões de hectares de agricultura convencional pela AC, reduzindo o CO2 na atmosfera em cerca de 20 milhões de toneladas. Atualmente, 200 milhões de hectares de solos agrícolas estão sob AC globalmente, o que oferece o benefício climático equivalente ao fechamento de 100 grandes usinas de carvão. Mas os defensores da AC estão convencidos de que podemos fazer mais.
Benoit Lavier, agricultor francês e membro da GCAN, deixou uma mensagem clara aos formuladores de políticas presentes na COP22: “A AC é uma situação vantajosa para todos. Os agricultores aumentam a rentabilidade enquanto reduzem a quantidade de carbono na atmosfera. É hora de nossos políticos acordarem com essa grande oportunidade. ” E ainda complementou: “Mudando para AC, incluindo o SPD com o uso de culturas de cobertura, pode-se sequestrar uma tonelada de carbono por hectare a cada ano, reduzindo as emissões, protegendo o solo contra a erosão e aumentando sua fertilidade”.
A um grande potencial para a agricultura sustentável na África. Aziz Zine El Abidine, um agricultor marroquino e membro da GCAN, disse à conferência: “Se os agricultores africanos não se adaptarem, os rendimentos agrícolas poderão diminuir em 20% até 2050. A AC não só ajuda a reduzir o carbono na atmosfera, mas também ajuda a proteger a subsistência dos agricultores a partir do impacto das alterações climáticas”.
Maria Beatriz Giraudo, agricultora da Argentina e presidente da GCAN, disse: “A oportunidade para a AC é enorme, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. E é uma vitória fácil para os políticos. Algumas mudanças simples e sem custos podem ajudar os países a cumprir suas metas climáticas. No final, todos se beneficiam”.
A FEBRAPDP contou com a representação e participação da diretora, Marie Bartz, que juntamente com o consultor canadense, Tom Goddard, apresentaram iniciativas e casos de sucesso, mostrando como AC pode estar ligada às políticas públicas. Marie Bartz, exemplificou com o Programa Cultivando Água Boa da ITAIPU Binacional, que possui AC entre suas atividades de incentivo, inclusive com a construção de ferramentas para qualificar os agricultores que fazem AC com qualidade e ainda como funciona o Programa Agricultura de Baixo Carbono instituído pelo governo federal brasileiro.
Na ocasião da COP 22, houve a primeira reunião dos signatários da iniciativa 4 por 1000 (4/1000), a qual a FEBRAPDP também é signatária. A iniciativa 4 por 1000 tem por objetivo demonstrar que a agricultura pode desempenhar um papel crucial em matéria de segurança alimentar e alterações climáticas. Com base em evidências científicas sólidas, a iniciativa propõe que todos os governos e parceiros declararem e implementem programas eficientes que promovam o sequestro de carbono pela agricultura, incentivando práticas como agroecologia, integração lavoura, pecuária e floresta SPD/AC entre outras. É objetivo da iniciativa envolver as partes interessadas em uma transição para uma agricultura produtiva e resiliente, baseada em um manejo sustentável do solo, gerando empregos e renda, garantindo assim o desenvolvimento sustentável do planeta. É, definitivamente, considerar a agricultura como solução dos nossos problemas e não a causa, como vem sendo divulgado.
Neste sentido, a FEBRAPDP tem sólida participação e tem sido defensora de que a AC só se torna eficiente ao adotar o SPD, ou seja valorizar a biodiversidade na agricultura.

Autores: Marie Bartz e Ricardo Ralisch