Um relatório privado de uma consultoria de Boston com presença global prevê que a Argentina poderia roubar boa parte da participação de mercado do Brasil e dos Estados Unidos no milho. Outros analistas apontam, por outro lado, que o crescimento da produção argentina seria compensado por uma maior demanda da China por grãos dos três países.
Nesse cenário, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires divulgou sua mais recente estimativa de produção de milho em 36 milhões de toneladas, o que é 20% superior a 2015. Enquanto isso, a Bolsa de Comércio de Rosario reduz sua previsão de produção de soja no país para 52,5 milhões de toneladas, o que é inferior ao ano passado, devido a chuvas recentes nas principais regiões produtoras.
Em função de a colheita de milho da Argentina acontecer após o pico de vendas da safra norte-americana, essa possibilidade do país vizinho roubar participação de mercado é um desafio, aponta reportagem do Portal Agriculture.com assinada pelo correspondente Luis Vieira.
Don Roose, da consultoria US Commodities, de West Des Moines, Iowa, diz que é importante notar que a safra argentina não estará disponível até abril. “Eu acredito que a Argentina terá um crescimento limitado no market share porque os produtores serão vendedores muito agressivos de milho independentemente do clima pela necessidade de dinheiro. Isso manterá os preços baixos”, diz Roose.
Para Esteban Copati, analista de estimativas agrícolas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, há razões para estar otimistas sobre a nova safra e as safras seguintes em função de uma recuperação da superfície total de grãos desde a safra 2011/2012, antes de um aumento significativo dos impostos de exportação. “Há boas condições nas lavouras, vindo de um ano de El Niño, entrando uma safra com La Niña enfraquecido. As condições do clima serão favoráveis”, afirma Copati.
Enquanto isso, Ramiro Costa, economista-chefe da Bolsa de Cereais, acrescenta que esta safra e as próximas serão diferentes das anteriores porque os produtores devem parar de reter grãos em função do câmbio livre e o fim das ‘retenciones’ (impostos sobre exportações). “Cada vez mais haverá menos sobras de soja e milho a cada safra e estoques iniciais menores com essas políticas mais favoráveis à produção. Agora é vantagem vender para os produtores argentinos”, analisa Costa.
Gustavo López, diretor da consultoria Agritrend, acredito que o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos esteja certo na projeção de que a Argentina exportará de 22 a 23 milhões de toneladas em 2016/2017. “A Argentina estará muito próxima aos volumes de exportação do Brasil. Será apenas um salto de 17% para 17,5% do mercado total, o que não é um crescimento tão grande”, explicou.
Chuvas em importantes regiões produtoras da Argentina podem potencialmente significar perdas de soja e milho. A colheita de trigo avança com localidades como General Villegas, na província de Buenos Aires, com uma chuva superior a 400 milímetros acumuladas em Outubro. Até agora, as perdas em trigo já somam dois milhões de toneladas. Até a semana passada, havia um progresso de plantio de soja de 13%, enquanto a média para o período era de 23%, mas foi revertido nos últimos dias e o plantio alcançou 50% no país.
Produtor com intenção prévia de plantio de 700 hectares de soja – a mesma área plantada de milho – Hernando de La Torre está revendo os seus planos após as perdas: “Eu não tenho certeza se vou arriscar em plantar tudo de soja com esse atraso no plantio e preços tão baixos. Talvez mude de última hora para plantar milho”.