A mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans), praga que tem atingindo alguns polos de pecuária em Mato Grosso do Sul, causando prejuízos aos produtores é tema de um workshop que a Associação dos Produtores de Bioenergia do estado (Biosul) e a Embrapa Gado de Corte promovem em Campo Grande, nesta quarta-feira (26).
O evento será realizado no auditório da Embrapa Gado de Corte, das 8h30 às 14h30 (de MS). Na programação estão palestras com dois dos principais especialistas do país no assunto, os pesquisadores da própria instituição, Antonio Thadeu Medeiros de Barros, que vai falar sobre os surtos e situação atual, e Paulo Henrique Duarte Cançado, que vai abordar o histórico da praga, pesquisas e recomendações técnicas.
Na programação está ainda a palestra do pesquisador Jose Arturo Solorzano Arroyo sobre a experiência desenvolvida em San José, capital da Costa Rica, para o monitoramento e controle da mosca-dos-estábulos e também de representantes dos grupos sucroenergéticos Adecoagro e Coruripe, que abordaram as ações implementadas para acompanhar e controlar o inseto.
Em entrevista ao G1 no início deste ano, o pesquisador Paulo Henrique Duarte Cançado falou sobre a praga. Ele explicou que a mosca-dos-estábulos é um inseto hematófago, ou seja, que se alimenta do sangue de outros animais e que é encontrada em todo o continente americano. Para se reproduzir precisa de um local que tenha matéria vegetal em decomposição e possui um ciclo biológico de três a quatro semanas, entre a postagem dos ovos até se tornar adulta e uma vez adulta tem um período de vida de até um mês.
Cada mosca, conforme o pesquisador pode botar pelo menos 500 ovos ou mais e pode voar até 20 quilômetros. Costuma atacar vários tipos de animais, como bovinos, equinos, aves e cães, entre outros, e até o ser humano para se alimentar. É encontrada em maior quantidade próxima aos locais de reprodução e quando não está picando os animais fica em árvores, troncos ou qualquer lugar que ofereça abrigo ao calor, como postes, cercas e cochos.
Nos ataques a bovinos, podem provocar, de acordo com Cançado, prejuízos de até 20% para os animais de corte e de 20% a 50% para os de leite. Esse prejuízo, explica ele, ocorre principalmente porque, incomodados com as picadas do inseto, os bovinos começam a se deslocar pela pastagem, deixando de se alimentar.
Nas situações de infestações mais severas da mosca-dos-estábulos, ele explica que os animais, para se proteger, ficam agrupados, o que acaba oferecendo risco dos mais jovens (bezerros), serem pisoteados.
Cançado diz que desde 2009 a Embrapa Gado de Corte já vem executando algumas ações em relação a mosca-dos-estábulos, mas que foi a partir de 2011 que iniciou os estudos sobre o inseto. O primeiro projeto já foi encerrado e identificou o desenvolvimento da mosca no ambiente, os motivos dos surtos e em quais meses eles ocorriam.
“A partir desse trabalho podem ser desenvolvidos duas estratégias. Uma para criar novos produtos e práticas para solucionar o problema, outra, é estudar o efeito dos produtos e práticas que já exitem no combate a essa praga. Essa segunda estratégia é bem mais rápida, já que somente para desenvolver um inseticida são pelo menos dez anos de pesquisa”, explicou o pesquisador na entrevista
Uma das pesquisas já iniciadas é a que vai monitorar nas propriedades atingidas por surtos destas moscas, das doenças que elas podem provocar e se as mortes de animais estariam relacionados ao ataque destes insetos.
Ele aponta que a situação atualmente em Mato Grosso do Sul é preocupante, porque o estado está inserido em uma espécie de losango, que compreende ainda parte dos territórios de São Paulo e de Goiás, onde um grupo de 30 a 40 municípios registraram surtos da doença.
“A situação ainda é preocupante. Já conhecemos mais a mosca. Temos alguns mecanismos que minimizam o problema e, é até possível controlar a mosca, mas, que para isso ocorra é necessário prevenção”, destaca.
O trabalho de prevenção, conforme o pesquisador, envolve algumas ações que têm de ser adotadas pelos produtores rurais e pelas usinas sucroenergéticas, já que a mosca pode sair das propriedades rurais e utilizar a palha que sobra do corte da cana e que foi fertirrigada com vinhaça como local de reprodução.
No caso dos produtores, ele comenta que as ações têm de ser executadas no período da entressafra das usinas, quando o inseto, em pequenas quantidades permanece quase escondido nas propriedades. Nestes locais, ele recomendou que se faça a limpeza de resíduos de alimentação dos animais para eliminar possíveis pontos de reprodução e também a drenagem do terreno para evitar o acúmulo de água em áreas com matéria orgânica, e ainda que se realize o manejo adequado das pastagens e se evite o uso da adubação orgânica.
G1 MS