Do Pantanal às águas cristalinas de Bonito, até os índios kadiwéu, com a palavra, José Hamilton Ribeiro, o primeiro jornalista a transformar o Pantanal em notícia e quem mais levou o nome e as belezas de Mato Grosso do Sul para todo País. Por telefone, o repórter bate um papo sobre o Estado, relembrando da primeira até a última visita, ao longo de quase quatro décadas completas.
“A primeira vez que fui a Campo Grande, a cidade não tinha rua asfaltada ainda, era tudo um barro só”, recorda. José Hamilton Ribeiro é repórter do Globo Rural desde os primeiros anos do programa, tem 81 anos de vida, 60 deles dedicados a descobrir e contar histórias.
Da divisão do Estado, ocorrida há exatos 39 anos, ele tem uma avaliação de peso, de quem conhece cá e lá. “Permitiu que se criasse um estado, de Mato Grosso do Sul, muito moderno, muito avançado e já com uma consciência de preservar a natureza, a fauna e a flora e se tornou um Estado assim: exemplo, ao lado de Mato Grosso”.
“Mas parece que já nasceu pronto. Mato Grosso do Sul com suas maravilhas naturais: Pantanal, Bonito, outras regiões e seus fenômenos muito curiosos, como os cupins iluminados da região de Costa Rica, os vagalumes”, enumera.
De elogios, José Hamilton têm vários ao Estado. “Sou apaixonado pelo Mato Grosso do Sul. Começo a falar e fico entusiasmado. Estou falando mais do que você, pode perguntar”, diz a quem lhe faz a entrevista.
Mas é claro que a gente ligou para ouvi-lo contar a história de uma vida. Mato Grosso do Sul tem, de nascença, menos que José Hamilton tem de profissão.
A primeira visita ao Estado foi ainda como repórter da Folha de São Paulo e para uma descoberta curiosa para um Mato Grosso do Sul que sempre foi propagado pela natureza. “Era sobre um cientista amador, autodidata, que tinha descoberto umas pedras preciosas diferentes e muito interessantes e que tinham a possibilidade de função nuclear. Era uma pesquisa meio mirabolante, muito visionária”, lembra.
Dos 35 anos de programa rural, foi logo nos primeiros 12 meses, que o jornalista recebeu o convite para gravar o Pantanal e Bonito. “Com ênfase no Pantanal e nos rios de águas cristalinas. Aquilo era uma descoberta para o Brasil, esses rios são uma riqueza nacional.
Era para comemorar um ano de programa e me convidaram para fazer uma reportagem sobre o Pantanal. Foi a primeira vez que o Pantanal entrou no Globo Rural e senão me engano, foi a primeira vez que entrou na TV Globo. Depois, Mato Grosso do Sul foi sendo descoberto pelos jornalistas e valorizado pelas coisas tão bonitas”.
E não foi só na TV que José Hamilton levou um pouquinho do Estado para o público. Nos livros, também. “Tem Mato Grosso do Sul no livro da música caipira, mas também tem no Pantanal Amor Baguá. Um livro infanto juvenil que já tem 42 edições. Todo ano ele tem uma roda de gente procurando para ler”, se gaba.
A história é de um garoto da cidade grande que viaja de avião com o amigo pantaneiro para o nosso Pantanal. Da Editora Moderna, a primeira publicação é de 1975, quando ainda éramos um só Mato Grosso. “Um livro escrito há mais de 20 anos, mas que continua vivo e ativo no mercado bibliográfico brasileiro. Tem também o livro dos índios kadiwéu, “A vingança do índio cavaleiro”, completa José Hamilton.
O mais recente, foi escrito em parceria com a jornalista de Mato Grosso, Eunice Ramos. A série feita para a TV sobre o Rio Paraguai trouxe às páginas detalhes que a TV não mostrou, mas que os olhos de Zé Hamilton guardaram. “É um rio de muita história, teve a guerra do Paraguai, que foi toda em função dele”, contextualiza.
Entre as memórias do repórter, de trilha sonora está o hino do Pantanal. “Chalana” e o primeiro encontro do autor, Mario Zan, com o Pantanal descrito na letra. Acompanhado de José Hamilton Ribeiro, o músico esteve em Mato Grosso do Sul, onde encontrou também pela primeira vez, Almir Sater, que eternizou a canção.
“Oh! Chalana sem querer
Tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas
Vai levando meu amor
E assim ela se foi
Nem de mim se despediu
A chalana vai sumindo
Na curva lá do rio”
“Foi uma grande revelação. Mario Zan só conhecia Campo Grande e Corumbá. O que ele conhecia do Pantanal era de ouvir dizer e aquele Pantanal que a gente via dali, de Corumbá, nunca tinha entrado Pantanal adentro”, recorda. A reportagem tinha esse objetivo, de mostrar a região ao autor de duas das mais conhecidas e lembradas canções “Chalana” e “Seriema”.
“Ele ficou entusiasmado com as araras, as seriemas e a gente até pegou uma cantando. Ele ficou envolvido e muito emocionado”, descreve. Isso, claro, além de Mario Zan cantar, junto de Almir, “lá vai uma chalana…” na fazenda do músico em Rio Negro.
Das reportagens que marcaram, são três linhas nas quais ele sempre se pautou: dos rios cristalinos, nas cidades de Bonito e Jardim, descrevendo em imagens e palavras o curso do Rio da Prata, Formoso e Mimoso, além das séries que abordou diferentes aspectos do Pantanal. “E também desse cupim luminoso de Costa Rica, que se ilumina à noite e fica parecendo assim, uma coisa de outro mundo, que a gente encontra à noite no Cerrado”, narra.
“Se eu fosse falar, têm esses três grupos de matérias que eu teria que revisá-las uma a uma para fazer um ranking. Mas Mato Grosso do Sul é um estado produtivo de grãos e pecuária muito boas e de ponta, sem destruir a natureza. Em geral, as pessoas e as autoridades tem consciência da importância que é a natureza para o Estado e para o Brasil”, elogia.
A última visita do jornalista foi no meio do ano passado, na fazenda de Almir Sater em Maracaju. “Depois disso, não voltei mais, se tem programado? Tem sim, acho que mais para o fim do ano”, espera. Em breve, Mato Grosso do Sul deve entrar, mais uma vez em rede nacional, pela voz e pelo texto de quem tanto admira o Pantanal.