Segundo colunista, ministros desconfiam que projeto possa ser usado pela China para pressionar a Nicarágua para construir canal ligando o Mar do Caribe; de acordo com estudo revelado pelo Estadão, ferrovia é inviável
Um dos pontos de destaque do plano de concessões de R$ 198,4 bilhões anunciado ontem pelo governo para reativar a economia foi o projeto de R$ 40 bilhões da Ferrovia Bioceânica, que ligará o Brasil e o Peru e tem o apoio dos chineses.
Porém, muitas polêmicas cercam o plano desta obra gigante e bilionária. Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo citando um estudo realizado pela seção latino-americana da União Internacional de Ferrovias, o projeto é economicamente inviável.
O custo do transporte de uma tonelada de soja de Lucas do Rio Verde até Xangai, na China, sai por US$ 120,43 se a mercadoria for embarcada no porto de Santos (SP). Pelo porto de Ilo, no Peru, o frete sai a US$ 166,92. Uma diferença de US$ 46,49 por tonelada. E o cálculo ainda não leva em conta o custo da construção, que não existe.
E, por sua grandiosidade e sustentabilidade econômica duvidosa, o projeto está sendo comparado por empresários ao TAV (Trem de Alta Velocidade) que ligaria o Rio a Campinas, em São Paulo. O projeto foi menina dos olhos de Dilma Rousseff no governo de Lula, quando ela era ministra e hoje está engavetado.
Além disso, uma coluna do jornalista Kennedy Alencar destacou que a Ferrovia Bioceânica foi incluída no pacote de concessões a pedido das autoridades chinesas que estiveram em Brasília recentemente.
Segundo informa Alencar, ministros desconfiam que esse projeto possa ser usado pela China para pressionar a Nicarágua, onde há resistências ambientais e dificuldade de desapropriação de terras, a liberar a construção de um canal ligando o Mar do Caribe, no Atlântico, ao Oceano Pacífico. “Ou seja, há risco de o Brasil acabar sendo usado como laranja”, afirma.
Como foi um pedido da China, que firmou acordos de cerca de US$ 50 bilhões com o Brasil no mês passado, a presidente avaliou que não havia alternativa e colocou a obra no plano. Porém, a China já deixou de cumprir algumas promessas de investimentos no Brasil, destaca o colunista.
Contudo, afirma Alencar, o novo pacote de concessões lançado ontem pelo governo tem mais pontos positivos do que negativos.
Defesa do ministro
No Senado, o ministro do Planejamento Nelson Barbosa procurou rejeitar a ideia de que a ferrovia Bioceânica pode ter o mesmo fim do trem-bala. “Trem-bala só faz sentido se fizer todo traçado, a ferrovia Bioceânica pode ser feita em partes, começando pelas que são mais viáveis comercialmente”, disse ele nesta quarta-feira, após ser questionado sobre a real viabilidade do projeto, citando os trechos de Sapezal (MT) a Porto Velho (RO) e de Água Boa (MT) até Campinorte (GO).
Durante audiência nesta quarta, Barbosa afirmou que uma série de definições para a Bioceânica ainda dependem da conclusão dos estudos pela China, o que deve ocorrer em maio de 2016, mas defendeu que a ferrovia já se justifica só pelo lado brasileiro no trecho até Porto Velho, para escoamento da produção via rio Madeira, melhorando a infraestrutura para transporte de grãos.
O ministro também afirmou que já há indicação por parte de investidores chineses que “têm grande grande interesse em participar e vão fazer lances competitivos” pela concessão da Bioceânica.
Segundo Barbosa, ainda não foi definido se o modelo de concessão será por outorga ou compartilhamento de investimentos, nem tampouco se todo o trecho da ferrovia no Brasil, de cerca de 3,5 mil quilômetros, será concessionado na íntegra ou se será segmentado.
Barbosa, afirmou nesta quarta-feira que o projeto da ferrovia já se justifica só pelo lado brasileiro no trecho até Porto Velho, em Rondônia. Isso porque a ferrovia deve melhorar a infraestrutura para transporte de grãos no país, disse Barbosa durante apresentação em audiência pública no Senado. O projeto da ferrovia foi apresentado na véspera dentro do Plano de Investimento em Logística. Segundo Barbosa, a expectativa do governo é que as obras sejam iniciadas até 2018.
Autoria: Lara Rizério / Info Money e Reuters