O cuidado com a imagem profissional já deve começar antes de o candidato inscrever seus dados em sites de emprego ou das empresas em que almeja trabalhar. Roberto Santos, sócio-fundador da Ateliê RH, dá dicas sobre comportamentos que um candidato deve ter durante o processo seletivo, desde a escolha da empresa até o momento da entrevista.
Pesquise previamente sobre a empresa, indústria, mercado e cenário
O candidato que faz uma pesquisa anterior sobre a oportunidade revela não apenas seu interesse no mercado e na empresa empregadora. Caso ele tenha experiências que se correlacionam com o conteúdo de suas pesquisas, terá um trunfo interessante para usar no momento adequado da entrevista. Além disso, a pesquisa servirá de base para o candidato ponderar o grau de interesse na oportunidade.
Faça perguntas interessadas e interessantes
Preparar-se com perguntas sobre os pontos pesquisados e principalmente sobre a vaga em aberto não é um indicador de grau de “bisbilhotice”, mas de inteligência social e interesse estratégico. Se a pessoa encarregada pelo processo seletivo vir em você um talento almejado, apreciará a oportunidade de lhe fornecer todas as informações para motivá-lo a vir para seu time. Por mais que você esteja desesperado pela vaga, fazer as perguntas certas na hora certa amplia as chances.
Seja objetivo com exemplos, de preferência com dados, para fundamentar as qualidades que diz ter
Objetividade e coerência são qualidades positivas que impressionam selecionadores. Assim, impressiona positivamente aquele candidato que reflete previamente sobre as perguntas mais prováveis que serão feitas e as relaciona com os dados de seu currículo, fazendo descrição clara, concisa e objetiva sobre a experiência na adequação à vaga. Num mercado de trabalho competitivo, e em que poucas pessoas tratam estrategicamente de sua preparação para a entrevista, não decepcionar o selecionador com atitudes e comportamentos (ou ausência deles) já impressiona.
O QUE DECEPCIONA OS SELECIONADORES:
Antes de chegar à entrevista:
Erros de português no currículo (e depois na entrevista) podem ser fatais
Para o currículo você ainda pode (e deve) pedir para que um bom revisor de português faça uma correção, mas para a entrevista, só estudando o que perdeu em seus vários anos de escola. E gerundismo, jamais. Se você acha que estará arrasando quando estiver enchendo seu discurso de gerúndios, saiba que poderá estar sendo descartado do processo.
Currículo não é mensagem de texto
Convenções que podem ser aceitas para mensagens de texto ou WhatsApp entre amigos não serão muito bem vindas ou compreendidas por qualquer pessoa e principalmente menos experientes nessa linguagem telegráfica.
Mandar CV pelo e-mail da empresa
Quando estamos empregados numa empresa, nosso endereço de e-mail é “propriedade” dela. Por esse motivo, melhor sempre usar seu endereço de e-mail pessoal para se corresponder com a empresa almejada como empregadora.
Apresentação visual e olfativa
Nada pode ser mais chato do que passar anos perdendo tempo e saúde emocional em entrevistas porque ninguém tem a coragem de dizer algumas verdades sobre sua apresentação pessoal. Aquela camisa social que você adora e que sempre lhe deu sorte, mas que está encardida e puída, ou aquela saia curtinha e/ou decote, e a maquiagem caprichada da última balada que fazem sucesso com sua turma podem chamar a atenção do entrevistador para os aspectos errados que você está querendo apresentar. São distrações visuais que desvirtuam o objetivo da entrevista. Ou aquelas dificuldades hormonais que fazem com que o estresse se transforme em odores para você imperceptíveis mas letais a selecionadores sensíveis ou seu nariz entupido que faz você se encharcar daquele perfume delicioso e leva o selecionador a só pensar no fim da entrevista.
Chegar atrasado
A pontualidade é um dado objetivo que o relógio deixa muito claro, ainda que tenhamos que estar duplamente atentos quando entrevistas virtuais devem acontecer entre diferentes zonas de tempo – não custa nada se certificar: é 3 da tarde pelo seu horário ou pelo meu? Independente se você mora numa cidade pacata ou uma megalópole, contar com o previsível e considerar os imprevistos são atitudes previdentes para não queimar o filme com um atraso de 5 ou 50 minutos. Chegar 50 minutos adiantado e dar uma volta nas redondezas é preferível do que o atraso.
Durante a entrevista
Mentir sobre suas credenciais
A atitude que se quer adotar na vida, incluindo os processos seletivos, já se pratica na preparação do currículo quando se mente sobre credencias, omite-se passagens muito curtas por alguma empresa ou coloca um curso que nunca foi concluído. Na entrevista, pode-se mentir sobre causas de desligamento ou sobre motivos de troca de emprego e, bastante comum, assumir a autoria de projetos de outras pessoas. Dependendo da autoconfiança e capacidade carismática e artística de cada um, pode-se encantar o selecionador na entrevista. Porém, em processos envolvendo mais entrevistadores, a consistência pesará mais, pois seu estilo melodramático pode não agradar a todos. Nada mais confortável do que a autenticidade e a sinceridade que poderá transcender o processo seletivo para uma relação de emprego e uma reputação de respeito.
Não olhar no olho
Pode ser timidez ou introversão aceitáveis como características de cada um, porém, no processo seletivo, mesmo que o cargo-alvo não envolva popularidade em festas e capacidade de falar para 500 pessoas, desviar o olhar dos interlocutores em uma situação em que está se construindo e avaliando a capacidade de confiança mútua pode ser destrutivo para o processo seletivo. Assim, treinar-se para isso pode ser sua prioridade.
Manter celular ligado
Nada se justifica ir a nenhuma reunião formal ou entrevista de emprego e deixar o celular ligado. Esquecer de desligar o aparelho faz perder pontos quanto a atitudes de respeito em ambientes formais. Deixar no modo vibração é menos mal, desde que não balance a mesa do entrevistador ou cause distração. Se você estiver mais ansioso pelo emprego, desligue tudo e concentre-se nessa missão.
Ficar olhando o relógio ou celular
Você decidiu deixar o celular ligado porque está esperando uma ligação de sua esposa que está indo para a sala de parto ter seu primeiro filho e não deu para remarcar a entrevista. Deixar isso bem claro no início da entrevista faz o selecionador abrir uma exceção. Porém, vigiar o celular e o relógio a cada minuto pode ser decepcionante e até irritante para seu interlocutor. É sempre preferível remarcar o encontro do que parecer que está atento, mas com a atenção dividida.
Falar mal de ex-chefes ou colegas
As pessoas que a gente menos espera podem ser os melhores amigos de nossos piores inimigos. Dependendo do grau de amizade entre eles e sua relação com a empresa, podem ser explosivos para sua carreira. Todavia, independente dessa coincidência que se pode acreditar uma infelicidade rara, não incomum é a reação do entrevistador concluir, geralmente com razão, que você hoje fala mal do ex-chefe e amanhã dele e dos futuros chefes e colegas na nova empresa. Ser positivo ou neutro sobre todos ex-colegas e chefes é sempre o caminho mais seguro. Guarde as comparações de pessoas da outra empresa para você ou para as pessoas próximas e confiáveis.
Falar demais, falar de menos
Dois dos maiores desafios para os entrevistadores talvez sejam os candidatos de extremos na sua expressão verbal – os matracas que falam demais e aqueles que precisamos de saca-rolhas para se extrair cada sentença. Para os candidatos, o desafio é saber como ficar no caminho do meio – nem falar demais e nem de menos. Uma boa dose de autoconhecimento sobre onde você se encontra é o melhor começo. Para os mais “quietões”, pensar antecipadamente o que é fundamental que se fale durante a entrevista e buscar o momento de falar, e, para os falantes, limpar bem os canais auditivos e reduzir o som de seu espetáculo diário para ouvir as perguntas e respondê-las objetivamente, deixando para o interlocutor pedir mais detalhes.
Perguntar sobre remuneração, especialmente no começo da entrevista
Dependendo do entrevistador, perguntar sobre remuneração durante e especialmente no início da entrevista pode ser decepcionante, pois revela que esse fator tem peso desproporcional a todos os demais aspectos. Contudo, quando se está empregado e ganhando muito bem e a remuneração é um fator crítico, a questão pode ser levantada antes da entrevista. Nesse contato para agendar a entrevista, pode-se dar uma ideia do parâmetro atual de remuneração total (salário, bônus, benefícios, etc) para que a entrevista seja agendada desde que a proposta seja superior à condição atual. Nesse caso, se a entrevista é agendada e o processo é iniciado, há um entendimento tácito entre as partes do patamar de remuneração e pode-se focar durante todo o processo nos outros aspectos da seleção para um novo emprego e deixar que o tema monetário seja traduzido no devido tempo pelo entrevistador.
Depois da entrevista:
Interesse ou ansiedade, eis a questão
Para quem está esperando uma resposta de um emprego e quem está cuidando de mais dez processos seletivos o tempo do relógio é o mesmo, mas psicologicamente, ele é vivido de maneira muito diferente. Por isso, é muito comum receber consultas sobre quando é o momento de cobrar uma resposta – queremos mostrar interesse mas não parecer desesperadamente ansiosos. Depois da entrevista, pode ser interessante escrever um e-mail para o entrevistador completando alguma informação pendente e usando um tom simpático, sincero, agradável sem ser bajulador – como nem todos fazem, isso pode ajudar a marcar a memória de forma diferencial. Quanto ao acompanhamento, a melhor estratégia costuma ser pedir ao final da entrevista uma estimativa de tempo para os próximos passos e confirmar uma autorização para um contato – por e-mail ou telefone – em alguma data combinada. Nessa oportunidade, depois de saber o status, fazer a mesma pergunta.
Comprometer-se com uma proposta e desistir
Estamos sujeitos às variações do mercado, por isso, precisamos cuidar do nosso valor e da impressão que passamos aos selecionadores. Seremos totalmente solícitos e pegajosos com os headhunters quando estamos desesperados por um emprego e esnobá-los quando estamos por cima mais cedo ou mais tarde poderá trazer algum prejuízo. Nesse sentido, investir horas e horas suas e dos diversos personagens envolvidos no processo seletivo para depois desistir costuma ser um conhecido chamuscador de candidatos que veem no processo uma oportunidade de leilão de valores ou de seu ego junto ao empregador atual. É preciso manter a reputação profissional sob constante atualização e revisão por reflexões pessoais e atenção a feedbacks recebidos. O valor de nossa reputação implica em sucesso ou fracasso no longo prazo e ela estará sendo continuamente avaliada por nossas atitudes e comportamentos.
G1 SP