Paranhos é dominada pela briga entre traficantes e não tem polícia suficiente

Desde a sexta-feira (10), o toque de recolher em Paranhos é praticado por diversos comerciantes e trabalhadores. A determinação passou a valer depois que três caminhonetes, ocupadas por homens fortemente armados, percorreram diferentes bairros dizendo que a partir das 20 horas o recomendado era ninguém sair ou manter comércio aberto.

A notícia, que passou a se espalhar no boca a boca entre os moradores da cidade de 13 mil habitantes, era que os traficantes “não iriam machucar ninguém que fosse inocente”.

Os relatos acima foram apurados pelo Portal Correio do Estado. A situação foi confirmada pelo prefeito de Paranhos, Júlio César de Souza (PDT). “Aqui está crítico. Há briga entre facções. E como combater com cinco policiais (militares) para toda a cidade?”, mencionou o chefe do Executivo.

Do lado do Paraguai, na cidade de Ypejhu, a polícia local também foi informada dessa realidade e as autoridades teriam orientado que moradores não ficassem fora de casa depois das 17 horas.

“A polícia soube dessa situação e foi apurar. Procuraram pelos veículos, mas não encontraram nada. Mesmo assim, os comerciantes mencionaram que eram abordados e orientados (a fechar)”, reconheceu o prefeito. Na sexta-feira (10), os relatos de populares foram de que era possível ver homens desfilando com fuzis ou metralhadoras na rua.

No sábado (11) e domingo (12), reforço policial esteve no município por conta das ameaças. Como não houve atentado a ninguém, a equipe extra saiu de Paranhos na segunda-feira (13).

ARMAS

Aquiles Chiquim Junior, policial civil executado ontem (14). Foto – Reprodução

Apesar da Polícia Civil em Paranhos ter efetivo maior do que a Militar, o armamento dos homens seria apenas de pistola. Ou seja, bem diferente do que os traficantes da região costumam apresentar.

Especula-se que a disputa na cidade seria entre criminosos do Brasil e do Paraguai. “Solicitamos apoio ao Estado. Não temos delegado e o que atende aqui vem de Iguatemi. Queremos também que a cidade tenha uma Comarca da Justiça Estadual”, disse Júlio Cesar.

Para ele, a execução do policial civil Aquiles Chiquim Junior, 34 anos, ontem (14) à noite, foi um ato extremo que aconteceu e que agora precisa de resposta.

LISTA DE NOMES

O boato na cidade é que os traficantes que disputam o poder de comandar o tráfico na região, que serve de porta de entrada para drogas, tem uma lista com nomes de diferentes pessoas que precisam ser monitoradas.

Caso alguém “conhecido” do crime esteja em um local, em geral as pessoas que tem conhecimento da lista logo saem para evitar problemas.

A academia onde o investigador Aquiles foi morto ontem estaria “livre” e por isso no momento da execução havia muitas pessoas exercitando-se. Outras quatro vítimas foram atingidas pelos disparos, mas todas sobreviveram ao atentado.

“Foi um atentado ao Estado. Se deixarmos isso impune, não teremos condições de manter a segurança na cidade”, reclamou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul, Giancarlo Corrêa Miranda.

REFORÇO

Postagem feita em rede social em que Aquiles teria assinado com outros dois colegas, indicando que a Polícia Civil não iria permitir o “toque de recolher”. Foto – Reprodução

A execução do investigador Aquiles motivou o envio de 20 policiais civis para Paranhos nesta quarta-feira. Segundo o prefeito da cidade, não há prazo para que esses servidores deixem o município.

Além disso, um delegado foi encaminhado para atuar especificamente na apuração do atentado. Contudo, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) ainda não definiu se vai destacar um delegado para assumir definitivamente a delegacia local.

“Depois que o destacamento do Exército deixou a cidade e foi para Amambai, a situação piorou. A saída foi oficializada em 2014. Hoje, se precisarmos de apoio, o efetivo vai demorar 50 minutos para chegar. Já deu tempo para fazer tudo o que queriam”, lamentou o chefe do Executivo, Júlio Cesar.

CHACINA DETONOU SITUAÇÃO

A execução de cinco pessoas na noite do dia 19 de outubro de 2015, na frente de uma padaria, na Rua Marechal Dutra, no Centro, é analisada como determinante para o início da onda de terror em Paranhos. Eles foram mortos com tiros de fuzil.

A Polícia Civil não divulgou detalhes se o inquérito desse caso foi concluído com a prisão de suspeitos. Os executores teriam agido a bordo de caminhonetes.

Por Rodolfo César – correio do estado