É muito comum que jovens com interesse na política, percebendo a necessidade de participarem mais efetivamente na vida local, regional e nacional, consultem minhas barbas brancas sobre o partido ao qual deveriam filiar-se. Eu me angustio diante dessa pergunta. Como dizer o que devo sem desestimular o idealismo daquela alma juvenil? Quem ingressa na política com ideais no coração, princípios e valores impressos na consciência e ideias na cabeça levará um imediato choque de realidade. A política não poupa esses sentimentos.
Obrigo-me, então, a uma longa explicação sobre o que leva os partidos a escavarem sem cessar o fundo do poço do descrédito. Levo em conta, ao dialogar com esses jovens, que o choque de realidade gerado por algumas palavras fortes é mais positivo do que o impacto que ela, a realidade, nua e crua, possa gerar sobre almas desavisadas. Já vi isso acontecer muitas vezes para desconsiderar seu significado nos indivíduos e na própria política. Esta, é um espaço onde o mal conta com facilidades para sobrepujar o bem e onde, com muita frequência, as opções se fazem entre um mal maior e um mal menor. O bem não leva uma vida fácil na política. E, mesmo assim, há que escolher; e mesmo assim ela é uma atividade essencial à vida dos povos.
Vem-me à mente, enquanto escrevo, algumas palavras do meu amado papa João Paulo II na longa exortação que dirigiu aos leigos em 1988. Transcrevo-as:
“(…) todos e cada um têm o direito e o dever de participar na política, embora em diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades. As acusações de arrivismo, idolatria de poder, egoísmo e corrupção que muitas vezes são dirigidas aos homens do governo, do parlamento, da classe dominante ou partido político, bem como a opinião muito difusa de que a política é um lugar de necessário perigo moral, não justificam minimamente o ceticismo nem o absenteísmo dos cristãos pela coisa pública. Pelo contrário, é muito significativa a palavra do Concílio Vaticano II: «A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, ao serviço dos homens»“.
Parece-me muito adequado esse facho de luz para esclarecer uma realidade como a brasileira nestes dias tormentosos em que a esperança voa errante sem lugar de pouso. É preciso compreender que a política continuará determinando destinos, mas o Estado será tão mais útil quanto mais empenhado em se tornar crescentemente desnecessário; que sempre haverá escolhas a fazer e que, por vezes, nada será melhor do que o mal menor; que a maior riqueza de uma nação repousa em seus jovens e que lhes proporcionar condições para uma vida produtiva pelo conhecimento e pelo trabalho é muito mais significativo a eles e à nação do que manipulá-los ideologicamente.
O saber, a cultura, o trabalho, a busca do mérito, a liberdade, o amor ao Bem (ainda que vago, mas verdadeiramente amado) não podem estar ausentes da Política e do Direito. E cabe a nós dar-lhes vida e vigência. Não teremos qualquer esperança se não formos, nós mesmos, a esperança.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.