Beber dá vontade de fumar? Especialistas explicam se o álcool é gatilho para o cigarro

Mito ou verdade: o consumo de bebida alcoólica pode despertar a vontade de fumar em tabagistas ou ex-fumantes?

Especialistas ouvidos pelo g1 dizem que sim, e que, apesar de haver uma explicação química para a relação, este desejo é baseado, em parte, em uma “ilusão”.

“Essa é uma sensação que existe, mas é uma ilusão, uma fantasia. É possível contornar. O paciente acaba associando as sensações de prazer com algumas situações da vida: como fumar enquanto consome bebida alcoólica, fumar no intervalo do trabalho, depois do almoço, enquanto está dirigindo, depois de tomar café e etc”, afirmou a cardiologista Jaqueline Scholz, que é diretora do Programa de Tratamento de Tabagismo do Hospital Encore.

Basicamente, segundo especialistas, existem duas explicações para o consumo de uma droga “aumentar o desejo pela outra”. A primeira é o “hábito associativo”, onde o fumante cria uma relação entre o tabaco e o álcool. A outra química, já que o álcool potencializa a metabolização da nicotina.

“Existe a explicação de associação de estímulos, onde sinais ligados ao uso de uma droga podem desencadear o desejo pela outra, especialmente se ambas foram consumidas simultaneamente em situações semelhantes no passado. Além disso, o álcool e a nicotina potencializam os efeitos reforçadores um do outro”, afirmou Felipe Ornell, pesquisador do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas De Porto Alegre.

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Álcool pode ser obstáculo

 

 

Número de pessoas que procuraram tratamento contra tabagismo no estado do Rio caiu 66% durante a pandemia. — Foto: Reprodução/TV Globo
Número de pessoas que procuraram tratamento contra tabagismo no estado do Rio caiu 66% durante a pandemia. — Foto: Reprodução/TV Globo

 

O consumo de álcool pode ser ainda um obstáculo para quem está no processo de interromper o hábito de fumar.

“O álcool pode dificultar a tentativa de parar de fumar, aumentando a vontade e tornando mais complicado resistir ao desejo de fumar. Isso é especialmente importante para quem está em processo de abstinência, interrompendo o consumo. É conhecido que o álcool interfere em processos psicológicos fundamentais, afetando o julgamento crítico e a capacidade de controlar impulsos”, disse Ornell.

‘Hormônio da felicidade’

 

 

O álcool e a nicotina atuam na área do cérebro responsável pelo prazer. Ao serem consumidas, essas drogas produzem dopamina, um neurotransmissor conhecido popularmente como “hormônio da felicidade”.

“O indivíduo acha que ele precisa fumar porque está bebendo. Isso é uma mentira. O paciente tem que passar pelo processo de descondicionamento. Ele tem que entender que o fato de consumir bebida alcoólica não deve ser associado ao consumo cigarro”, disse Scholz.

“Uma boa resposta ao tratamento envolve aprender a identificar gatilhos, e manejar os sintomas quando surgem, mudar o estilo de vida e se proteger contra recaídas. Isso pode incluir terapias, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), medicamentos, técnicas de mindfulness (atenção plena) e participar de grupos de apoio, entre outras estratégias”, completou Felipe Ornell.

Por Matheus Rodrigues G1