Plantio de eucalipto pode contribuir para MS alcançar neutralidade de carbono

Em pesquisa apresentada durante a 78ª Semana Oficial de Engenharia e Agronomia, especialistas destacaram potencial do plantio de eucalipto para ajudar Mato Grosso do Sul a atingir a meta de ser carbono neutro até 2030. Os resultados vêm, contudo, em direção contrária a pesquisas que alertam para os perigos ambientais do cultivo em grande escala dessa árvore exótica.

O trabalho liderado pelo engenheiro agrônomo e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Paulo Eduardo Teodoro, está atualmente em andamento e visa mapear o fluxo de carbono nos três principais biomas do Estado – Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado.

Ele avalia como quatro usos diferentes do solo – vegetação nativa, pastagem, cultura de soja e eucalipto – afetam as emissões de CO2 (dióxido de carbono).

Financiado pelo Governo do Estado, por meio da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), o estudo faz parte da iniciativa “Chamada Carbono Neutro”, lançada em 2021, que visa desenvolver tecnologias para uma economia de baixo carbono. O projeto recebeu aproximadamente R$ 1 milhão em financiamento.

Em publicação no site oficial de notícias da Fundação, Teodoro ressalta que o solo desempenha um papel crucial no ciclo do carbono e é um dos principais indicadores das mudanças climáticas. “Os estoques de carbono no solo são indicadores-chave em termos de mudança climática, por isso é importante termos estudos científicos de como acontece o fluxo de CO2 em cada um dos nossos biomas e nas principais culturas econômicas do nosso Estado”, enfatiza.

O estudo revela que, independentemente do bioma, o eucalipto é a cultura que menos emite CO2, mesmo quando comparado à vegetação nativa. Por outro lado, a agricultura e a pastagem são as atividades agrícolas que mais liberam gás carbônico para a atmosfera.

A pesquisa envolveu coleta de dados e amostras de solo em três municípios diferentes, representando os três biomas estudados. Equipamentos avançados foram utilizados para medir as emissões de carbono e construir curvas espectrais do solo. A próxima fase do estudo envolverá a criação de um modelo matemático e sensoriamento remoto para medições em larga escala e com custo reduzido.

Além disso, a pesquisa foi destaque na 78ª Semana Oficial de Engenharia e Agronomia, com ênfase nas mudanças climáticas. O projeto, intitulado “Estratégias para tornar MS carbono neutro até 2030”, foi selecionado em primeiro lugar entre os trabalhos apresentados no Congresso Técnico do evento.

Prejuízos ambientais – Embora o estudo demonstre o potencial do eucalipto para reduzir as emissões de CO2, vale ressaltar a necessidade de abordar os possíveis riscos ambientais associados ao cultivo em grande escala dessa espécie exótica. Pesquisadores apontam riscos de ressecamento, maior exposição à erosão, desertificação do solo e clima, diminuição da biodiversidade, transformação da paisagem, concentração de terra, vazios populacionais, dentre outros.

O desmatamento no Cerrado aumentou 14,5% entre janeiro e abril de 2023, sendo o maior dos últimos cinco anos na comparação com o mesmo período, segundo dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em entrevista à Agência Brasil, a diretora do Museu do Cerrado e professora da UnB (Universidade de Brasília), Rosângela Corrêa, lembra que a perda da cobertura vegetal nativa provocará mais calor e seca na região.

 

*Por Guilherme Correia – Campo Grande News