Carrapatos com febre maculosa estão em MS há mais de 10 anos
Com casos de óbitos causados pela Febre Maculosa em estados que cercam Mato Grosso do Sul, muitos se perguntam quando a doença irá ‘desembarcar’ pelas nossas bandas. Diferente da covid-19, que se tratava de um vírus novo, a doença é antiga e existe há mais de uma década no Estado.
A Febre Maculosa é transmitida pela picada de carrapatos infectados, o mais comum deles é o carrapato aranha (Amblyomma sculptum), comumente encontrado em cavalos, capivaras e animais domésticos.
O assunto ganhou repercussão após diversos casos e óbitos serem registrados em um curto espaço de tempo em São Paulo e Minas Gerais. Em poucos dias, quatro pessoas morreram por conta da doença após visitarem uma fazenda em Campinas (SP), em Minas Gerais foram registradas duas mortes nos últimos seis meses.
A situação liga o alerta para a proliferação da doença, que pode chegar facilmente aos humanos, por ser transmitida por uma espécie de carrapato compatível com diversos mamíferos.
Segundo o doutor em biologia molecular, Renato Andreotti, existem dezenas de espécies de carrapatos já identificadas em Mato Grosso do Sul, mas apenas quatro delas podem carregar o vírus causador da Febre Maculosa.
Doença circula há mais de dez anos no Estado
O pesquisador conta que apesar do assunto ter vindo à tona recentemente, já se trata de algo conhecido dentro de Mato Grosso do Sul.
De acordo com Andreotti, a circulação da Febre Maculosa entre os carrapatos foi identificada há cerca de dez anos, após uma pesquisa de doutorado realizada por outro pesquisador.
O que é a Febre Maculosa
A Febre Maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda de gravidade variável, podendo apresentar formas clínicas leves e atípicas até formas graves, com elevada taxa de mortalidade.
São as grandes chances de óbitos que causa maior preocupação entre especialista sobre um possível surto da doença. Para Andreotti, também pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), cerca de 40% dos diagnósticos positivos da doença resultam em morte.
“Isso os que foram diagnosticados, alguns só descobrem a doença após a morte”, comentou o pesquisador. “O agente é de baixa circulação, mas de alta virulência, tendo uma evolução rápida, podendo levar a morte”, complementou.
Isso ocorre, pois os sintomas da Febre Maculosa possuem grande semelhança com a Dengue. Entre eles estão:
- Febre
- Náusea e vômito
- Mialgia (dor muscular)
- Exantema máculo-papular, petéquia, equimoses (manchas avermelhadas) e hemorragias
- Diarreias (menos comum)
“Se a pessoa não avisar ao médico que foi picada por um carrapato, o profissional pode pensar se tratar de um caso de dengue”, complementa o Andreotti.
Mato Grosso do Sul pode ter um surto de Febre Maculosa?
Segundo Andreotti existe a possibilidade de um surto ocorrer em Mato Grosso do Sul devido às características dos carrapatos que carregam a Febre Maculosa.
O principal deles é comumente encontrado em regiões próximas de rios e tem como principais hospedeiros os cavalos, cachorros domésticos e capivaras.
Além disso, o carrapato aranha pode viver meses em arbustos, grama, trilhas e parques sem um hospedeiro. Entretanto, o pesquisador considera pequena a chance de um surto ocorrer no Estado.
“A bactéria circula em uma frequência muito baixa, então o risco não é grande, mas existe a circulação [do vírus]”, explicou Andreotti.
Campo Grande registrou seis casos em dez anos
A previsão de Andreotti sobre a baixa probabilidade de um surto é confirmada por dados da coordenadoria de Vigilância Epidemiológica de Campo Grande, que registrou apenas seis casos da doença entre 2012 e 2022 na Capital.
Conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), o caso mais recente confirmado da doença é de 2018. Além disso, não há registro de óbito no período.
Dados do Ministério da Saúde revelam que entre 2007 e 2022 foram confirmados apenas sete casos de febre maculosa em Mato Grosso do Sul.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença tem maior incidência na região Sudeste do país. Para se ter ideia, enquanto o Centro-Oeste teve apenas 35 casos confirmados nos últimos 15 anos, na região Sudeste os casos confirmados chegam a 119 só em 2022.
Na região sul os números também são altos, sendo 46 casos confirmados apenas no ano passado.
Ainda segundo a secretaria, é importante ressaltar que a febre maculosa não é transmitida diretamente de uma pessoa para outra, apenas por meio da picada de carrapatos infectados.
Por fim, não há registro recente de casos em animais na Capital.
Fui picado por um carrapato, o que fazer?
Antes de entender quais os procedimentos em casos de picadas de um carrapato, é importante saber como evitar que os parasitas tenham contato com nossa pele.
Conforme a Embrapa, alguns cuidados podem ser tomados ao frequentar locais com maior probabilidade de carrapatos, como parques, áreas rurais e beiras de rios.
Confira algumas delas:
- Usar roupas com mangas longas, botas e calça comprida (com a parte inferior colocada para dentro das meias)
- Utilizar roupas claras (para facilitar a visualização de carrapatos)
- Após utilização, colocar as roupas em água fervente para a retirada dos carrapatos.
- Ao encontrar um carrapato no corpo, retirá-lo o mais rápido possível com uso de uma pinça, para que seu conteúdo não seja inserido no nosso corpo ou seus ‘dentes’ não fiquem grudados na pele (veja na imagem abaixo).
- Após retirar o carrapato, colocá-lo em um frasco com álcool 70% nunca esmagar o carrapato entre as unhas para evitar contaminação.
- Caso a pessoa apresente os sintomas da Febre Maculosa, procurar um médico e informá-lo sobre o contato com o carrapato.
Outras informações sobre a Febre Maculosa pode ser encontrada no site do museu do carrapato, clique aqui.
Por: Midiamax – Gabriel Neves