“Minha mãe sempre foi tudo pra mim e eu sempre falava pra ela ‘mãe, separa dele, enquanto tem tempo, porque se algum dia ele fizer alguma coisa com a senhora, eu não sei o que vai ser da minha vida, eu acho que eu vou ficar louca sem você”.
O relato é de uma filha que perdeu a mãe, vítima de feminicídio, em janeiro do ano passado. O ex-padrasto dela foi condenado a 24 anos de prisão. A filha da vítima ainda convive com a dor todos os dias.
Mas ela não é a única. Dados do Dossiê Feminicídio do Ministério Público Estadual apontam que 37 mulheres foram vítimas de feminicídio e 124 foram ameaçadas de morte no ano passado, em Mato Grosso do Sul.
Deste total, em 73,3% dos casos as mulheres não tinham medida protetiva de urgência contra os agressores, e 37,1% delas tinham idade entre 20 e 29 anos.
De acordo com o Monitor da Violência e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2022 (FBSP), Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro que mais mata mulheres: 8,3 a cada 100 mil. Também está entre os três com a maior taxa de feminicídio, são 2,6 mortes a cada 100 mil mulheres.
Só nos quatro primeiros meses deste ano, foram 59 vítimas ao todo, sendo que oito delas perderam a vida.
O ator Raul Gazolla esteve em Campo Grande para o lançamento da campanha de conscientização e combate ao feminicídio do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS). Há 31 anos, ele perdeu a esposa Daniella Perez, assassinada pelo ex-ator Guilherme de Pádua. O caso virou tema de um documentário da Globoplay.
“Os dados são muito alarmantes. Acho que muitas das mulheres que são agredidas, nem sabem que estão sofrendo uma violência doméstica. Quando você mata uma pessoa você está matando a irmã de alguém, a filha de alguém, a mãe de alguém. Então você não está matando uma única pessoa, está destruindo uma família”, afirmou.
Conscientização
Para mostrar a importância de denunciar abusos disfarçado de cuidado e evitar a perda de uma vida, o MPMS lançou nesta quinta-feira (1º) a campanha “Seu silêncio pode matar você”, em alusão ao Dia Estadual de Combate ao Feminicídio.
De acordo com o órgão, o objetivo é sensibilizar a sociedade e provocar reflexão sobre os altos índices de violência doméstica e familiar contra a mulher. Além disso, ação quer dialogar a necessidade de unir esforços entre poder público e sociedade civil, para construir uma relação de confiança entre a mulher e as redes de apoio.
A campanha vai divulgar as informações em outdoors, busdoors, rádio, televisão, painel eletrônico, e-mail marketing, redes sociais, e até aplicativos de transporte e relacionamentos.
Por Gabrielle Tavares, g1 MS e TV Morena