Mãe ainda não leu carta de despedida deixada pelo filho que morreu de câncer em Camapuã
A mãe de Luan Henrique Abreu Andrade ainda não leu a carta de despedida deixada pelo filho, que morreu de câncer. Em conversa com o g1, Daiany Eanhan Abreu relata que ainda tenta absorver a morte do filho e entender como o rapaz tirou forças e escrever com leveza o relato póstumo. Para ler a carta na íntegra, veja no final da matéria
“Eu não li a carta. Não consigo! Hoje eu tento prosseguir, levantar e seguir em pé. Não consigo ver as fotos dele. Uma hora eu vou ler a carta”, compartilhou Daiany.
Sobre a carta de despedida, Daiany comenta que só soube realmente muito tempo depois. Três meses após a morte, a mãe ainda não consegue fixar o olhar sobre as palavras escolhidas pelo filho.
“No começo eu não sabia da carta. Sabia que ele ia deixar o celular com a minha filha. Já estava no leito de morte quando ele me contou que tinha deixado uma carta. Ele não gostava de drama, mas foi enfático ao pedir para postar”.
Na carta, Luan dedicou um espaço especial para mãe. Amigos, confidentes e alma gêmeas, assim que Daiany descreveu a relação que tinha com o filho.
“Minha mãe é a mulher mais incrível que eu conheço a que eu mais amo nesse mundo, sempre presente, nunca me abandonou, mulher que batalha, que pensa mais nos filhos doq em si mesma, sei que está sofrendo, maaaas, erga a cabeça, vai fazer sua caminhada e bola pra frente, te amo, Mãe”, escreveu Luan.
A carta
Luan morreu aos 30 anos, em 28 de fevereiro de 2023. Quase três meses após a morte, a irmã do jovem, Thaiz Andrade resolveu revisitar a carta que o designer deixou à família e amigos. Foi então que a manicure decidiu compartilhar as frases em mais uma rede social. Em poucas horas, o relato póstumo de Luan viralizou.
Entre uma frase e outra, as memórias de momentos felizes se sobressaem. Ao longo dos quatro anos de tratamento contra o câncer, Luan Henrique Abreu Andrade buscou nas palavras uma forma de acalentar os amigos e familiares.
As frases juntam lembranças e um pedido para que todos que eram próximos ao jovem entendam a partida como um ciclo. Foi durante o processo árduo de luta contra dois cânceres que Luan se debruçou e escreveu o texto em um tom leve.
“Eu odeio fazer as pessoas tristes. Mais do qualquer outra coisa, eu amo fazer as pessoas rirem e sorrirem. Então, por favor, ao invés de pensarem no final da minha história, riam das memórias e do que a gente fez junto. Bom, dizer adeus custa muito, mas não existe vida sem despedida”.
Luta contra o câncer
Foram quase quatro anos de luta contra o câncer. A mãe de Luan, Daiany Eanhan Abreu, relembrou a trajetória de tratamento do filho. Primeiro a doença atingiu um dos joelhos do jovem, depois de uma metástase, a doença se espalhou para os pulmões.
“No início o câncer foi no joelho, depois deu metástase. Depois de dois anos do câncer no joelho, a doença voltou grande no pulmão dele. Mesmo com a dor, meu filho estudava sobre a doença dele, era muito inteligente. Nós lutamos para ele sarar”, relata Daiany.
Durante as várias fases do tratamento, Luan se manteve firme, não gostava de ser tratado como “doente”, como Daiany recorda. A família que é de Camapuã (MS) sempre acompanhou o jovem em Campo Grande, onde as quimioterapias eram realizadas.
“Ele sabia que tinha um tempo de vida. Meu filho sempre foi forte, enfrentava a doença com força. Era só eu e ele no tratamento da doença, não gostava que tratava ele como doente. Meu filho pediu a Deus que se ele morresse, não fosse com dor”.
Leia abaixo a carta de Luan na íntegra:
“Bom tenho boas e más notícias. As más é que, aparentemente, eu papoquei. As boas: se você está lendo isto, é porque você definitivamente não papocou (a não ser q eles tenham Wi-Fi na outra vida). Deixei a missão mais difícil para minha pequena, a de postar isso aqui. Bom, eu não podia imaginar as coisas que me aconteceriam, por isso sempre aproveitei o máximo, se tem uma coisa que aprendi com meus pais foi, apesar dos nossos problemas erga a cabeça, coloca um sorriso no rosto, bola pra frente, da nada não! E por falar em meus pais, que Mãe e que Pai eu tenho, minha Mãe é a mulher mais incrível que eu conheço a que eu mais amo nesse mundo, sempre presente, nunca me abandonou, mulher que batalha, que pensa mais nos filhos doq em si mesma, sei que está sofrendo, maaaas, erga a cabeça, vai fazer sua caminhada e bola pra frente, te amo, Mãe.
Pai, o kra mais foda desse brasil, até hoje entra no meu quarto me da um bejim e fala que me ama, fico parecendo um guri de 12 anos e como isso é bom seis não tá entendendo apesar de eu ficar bravo porque me acorda kkkkk) Eu te amo muito e serei eternamente grato por tudo que fez para mim!
Minhas irmãs, obrigado pelos “poucos” sobrinhos lindos que tive oportunidade de conhecer e amar um por um. Thaiz manera a bebida e para de brigar na rua. Ingrid tampa o priquito. Amo vocês, cuidem dos nossos pais e por favor, não pensem em mim com pena ou tristeza, sorriam, sabendo q a gente passou um bom tempo juntos e que foi INCRÍVEL.
Eu odeio fazer as pessoas tristes. Mais do qualquer outra coisa, eu amo fazer as pessoas rir e sorrir, então por favor, ao invés de pensar no final da minha história, ria das memórias e doq a gente fez junto. Bom, dizer adeus custa muito, mas não existe vida sem despedida. Tudo faz parte, por isso o melhor é aproveitar cada momento sem pensar no depois e como eu aproveitei, afinal “agente só se véve uma vez”.
É meus amigos to partindo, deixo aqui um eu te amo para todas as pessoas que passaram por minha história, obrigado por tudo meus amigos e minha família, amo vocês. Muito obrigado a todos meus médicos e enfermeiras que cuidaram tão bem de mim. Eu não duvido que essa minha equipe me deu tudo o que podia. Do fundo do meu coração, eu desejo a todos vocês longas e saudáveis vidas e espero q vocês possam sentir a mesma gratidão q eu senti pelo presente q é cada dia. E minha galera q for no meu funeral, por favor levem catuaba, um combin de kitlocura e acabem com ele, me deixem orgulhoso, dancem e bebam por mim, eu arrumarei um jeito de estar lá com vocês.
Beijo meus amores :)”
Por José Câmara, g1 MS