‘Nova’ lagarta ataca soja Bt

Há casos em Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, MT e PR

Uma ‘nova’ espécie de lagarta vem atacando a soja com a biotecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) – que deveria conferir resistência à praga. De acordo com alerta de especialistas, trata-se da Rachiplusia nu, que apareceu com elevada pressão em vários pontos da fronteira agrícola brasileira e se caracteriza pelo alto poder de desfolha da planta.

 

“Pelo que notamos, a pressão da lagarta aumenta safra após safra e a tendência é a de que isso venha a se converter num novo problema. A Rachiplusia nu é uma importante desfolhadora. Leva à diminuição da área foliar da cultura e a perdas potenciais da ordem de 30%”, aponta Germison Tomquelski, pesquisador da Desafios Agro, de Chapadão do Sul (MS).

De acordo com Tomquelski, a região central do país, incluindo o Mato Grosso do Sul, foi uma das áreas mais afetadas pela lagarta. “Há casos localizados ainda em Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Paraná”, observa o pesquisador que, após percorrer diversas áreas produtivas do País nos últimos meses, revelou que a safra 2022-23 marcou a maior pressão da Rachiplusia nu observada até hoje.

O mesmo alerta foi feito pelo pesquisador Henrique Berto, do quadro técnico da consultoria Agrotec, que tem atuação estendida a áreas do Mato Grosso do Sul (Chapadão do Sul, Paraíso das Águas e Campo Grande) e do sudoeste goiano. O especialista acompanha de perto o aumento da pressão da lagarta Rachiplusia nu e destaca que a elevação da temperatura média nas regiões produtoras contribuiu para aumentar a pressão da praga nesta safra de soja.

 

“É extremamente importante o manejo da praga. Dentro de nossas áreas de atendimento a pressão se mostrou uniforme. A dificuldade de identificar se é falsa-medideira ou Rachiplusia nu muitas vezes induz o produtor a crer que a soja Intacta vá controlar à praga”, afirma ele.

Observação semelhante fez a Assist Consult, que também chamou atenção para ataques da Rachiplusia nu a lavouras comerciais de soja Ipro no Mato Grosso. Segundo a empresa, amostras da lagarta são agora avaliadas em laboratório, e seus especialistas consideram importante já definir medidas efetivas visando o controle da praga.

Germison Tomquelski, da Desafios Agro, enfatiza que a recomendação inicial ao produtor consiste no monitoramento de lavouras e na utilização de bons inseticidas, diante de populações significativas da praga. Ele informa ter notado que baculovírus agem com eficácia sobre a Rachiplusia nu, isoladamente ou integrados a inseticidas químicos, conforme o grau de infestação. “Todo cuidado é bem-vindo. A praga é de ciclo rápido e causa grande desfolha.”

 

Marcelo Lima, engenheiro agrônomo e gerente técnico da AgBiTech Brasil, desenvolvedora de bioinseticidas à base de baculovírus atuante no país, revela que a Rachiplusia nu não era comum na agricultura, principalmente no cerrado. A partir de 2021, observa ele, “a praga se tornou mais importante em virtude da presença na soja Bt (Bacillus thuringiensis)”.

“Trata-se de outra espécie da falsa-medideira, facilmente confundida com a Chrysodeixis includens. Só se percebe a diferença entre elas com lupa.” A preocupação com a praga, reforça Lima, até há pouco era restrita a em torno de 10% a 15%, nas áreas plantadas sem soja com biotecnologia Bt. “Hoje se sabe que os ataques podem atingir 100% da lavoura”, adverte.

A boa notícia, segundo Lima, é que a AgBiTech deverá lançar, ainda este ano, uma tecnologia específica ao controle da Rachiplusia nu. O agrônomo adianta também que os resultados associados a essa solução, avaliados com a participação de diversos especialistas, em áreas comerciais e de pesquisas, têm sido altamente satisfatórios.

 

“O bioinseticida apresenta dados consistentes de eficácia sobre a praga. Tende, portanto, a se tornar uma ferramenta estratégica para o sojicultor manejar corretamente e com sucesso à Rachiplusia nu”, finaliza Marcelo Lima.

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