Atuante contra violência, cassilandense morto na Capital pesquisava a fronteira e tornou Banho de São João patrimônio

Aluno do mestrado em Antropologia pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), bolsista CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pesquisador da fronteira de Mato Grosso do Sul e um dos nomes que contribuiu para transformar o Banho de São João, em Corumbá e Ladário, como patrimônio imaterial nacional. Esta é apenas uma parte do currículo acadêmico de Danilo Cezar de Jesus dos Santos, jovem de 29 anos que foi assassinado no último domingo (5), em Campo Grande.

Danilo mobilizou no fim de semana uma rede de buscas entre amigos, parentes e colegas da universidade, que compartilhavam a foto do jovem e pedidos de ajuda para localizá-lo. O aluno de Mestrado, que sonhava com Doutorado e queria mudar a vida financeira da mãe empregada doméstica, foi encontrado sem vida na manhã desta quarta-feira (8).

Danilo foi morto com um golpe de mata-leão, após ser atacado pelas costas. O crime aconteceu em um terreno baldio, na rua Allan Kardec, no Centro de Campo Grande. Preso pelo assassinato, jovem de 27 anos inicialmente apontado como pessoa em situação de rua, segundo registro policial, é coletor de material reciclável.

As investigações da polícia, que busca comprovar o que levou o autor do crime a matar Danilo, continuam. A DEH (Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes de Homicídio) já indiciou o homem pelo crime de homicídio com três qualificadoras: motivo torpe (homofobia), por dificultar a defesa da vítima e por ocultação de cadáver.

Como praxe em casos de coberturas policiais, o Jornal Midiamax só divulgará o nome do homem apontado como assassino pela polícia após ele se tornar réu, ou seja, depois que a Justiça aceitar a denúncia que será oferecida pelo Ministério Público Estadual. A denúncia deve ser feita em breve, assim que o órgão receber o inquérito finalizado pela Polícia Civil.

Esses são os trâmites burocráticos que permeiam um processo desde que o crime é descoberto até o julgamento do criminoso. Mas entre o vai e vem das atualizações que você acompanha nos jornais, está a história de Danilo.

‘Chora São João’
A comunidade acadêmica da Faculdade de Ciências Humanas da UFMS e amigos criaram uma rede de apoio aos familiares e compartilham detalhes de quem era Danilo.

Egresso da graduação na UFMS, Danilo era aluno do programa de mestrado em Antropologia Social. Ele era bolsista, ou seja, a pesquisa foi considerada relevante o suficiente para obter financiamento federal. Danilo investigava o cotidiano de estudantes brasileiros de Medicina na cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira Paraguai-Brasil.

Professora do acadêmico, a doutora Mara Aline Ribeiro, docente da UFMS, reforça a competência e dedicação de Danilo. “Um aluno excelente, um bolsista do CNPq. Um cara comprometido, o histórico escolar dele comprova isso”.

Além do trabalho no qual se debruçava atualmente, o estudante também integrou equipe de estudos que produziu um dossiê sobre o Banho de São João, evento tradicional realizado em Corumbá e Ladário e classificado, em maio de 2021, como patrimônio cultural do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Orientador de Danilo neste trabalho, o professor doutor Álvaro Banducci Jr também falou sobre o acadêmico. “Sempre foi uma pessoa sensível e prestativa, além de humilde por comportamento e origem. Perde a Antropologia do MS, perdem os estudos fronteiriços, chora o São João”.

Contra discriminação e intolerância
Além da vida acadêmica, o jovem é lembrado por amigos por sua postura diante de assuntos do cotidiano que ganham cada vez mais espaço nas discussões cotidianas: discriminação, crime de ódio e intolerância.

Os amigos contam que o rapaz era gentil, companheiro e leal com a família e as causas que defendia. “Danilo prezava a não violência, era veementemente contra o assédio. Magro, de estrutura frágil, tinha consciência da sua vulnerabilidade. Ele costumava se manifestar ativamente contra qualquer tipo de discriminação, crime de ódio e intolerância. Conhecido na comunidade pela sua gentileza com os menos favorecidos, era amado e principalmente respeitado por todos que o conheciam”, afirma a rede de apoio em nota.

Por fim, os amigos relembram o carinho de Danilo com os animais, que sempre resgatava da rua, e também o amor à mãe, que virou tatuagem em seu pulso. “Tinha o sonho de transformar a vida dela através da educação, caminho que escolheu por aptidão”, completam os amigos.

Aliny Mary Dias, Midiamax