Classificação do grão de soja acaba com renda do sojicultor

A baixa qualidade dos grãos de soja retirados das lavouras, em várias regiões do Estado, assusta os produtores. Grãos ardidos ou úmidos demais valem bem menos na hora da comercialização. E, como o custo de produção da soja na safra 2015/2016 superou qualquer previsão, especialmente pela alta do dólar, ficará difícil fechar a conta num ano agrícola de custo de produção alto e remuneração pela produção baixa.

Os sojicultores do Estado têm buscado alternativas de negociação, tentando obter uma flexibilização na classificação de grãos da safra 2015/16, analisados por armazéns em MS. Com as chuvas registradas durante quase todo o período da lavoura, em especial quando se aproximava o momento da colheita, grande quantidade de grãos sofreu avarias e, agora, apresenta ardidos (grãos que apresentam ataque de fungos).

Muitos armazéns estão considerando de muito baixa qualidade até mesmo os grãos que apresentam a mesma qualidade daqueles comercializados na safra 2014/15, o que gera prejuízo ao sojicultor.

CLASSIFICAÇÃO RÍGIDA

Para o produtor rural André Dobashi, diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), as classificações têm sido rígidas demais, o que dificulta ao produtor a comercialização das cargas de soja, ainda mais se levada em conta a situação dos produtos colhidos após as intensas chuvas registradas no Estado.

CARGA IMPRÓPRIA 

Para testar esse impasse, Dobashi liberou para embarque no armazém seis caminhões carregados em sua propriedade. “Os seis caminhões estavam carregados de grãos com as mesmas condições da safra passada e retrasada. Geralmente, 4% dos meus grãos são classificados como avariados ou ardidos, o que é um bom índice, já que o limite aceito é de 8% de grãos ardidos”, detalha o produtor.

Ou seja, a soja colhida por Dobashi, na visão dele, está dentro do padrão de exportação, pois produtos desenvolvidos em sua propriedade, nessas mesmas condições, há três anos são comercializados sem problemas. No entanto, no entendimento da empresa classificadora, a soja contida nos seis caminhões foi toda considerada ruim. “A classificação da empresa não foi de 4%, mas sim de 11%; ou seja, muito acima do limite permitido (que é de 8%) e muito acima da classificação que geralmente é feita nos meus grãos”, afirma o produtor.

DIFICULDADES

O sojicultor Paulo Stefanello, da região de Sidrolândia, explicou que a maior parte dos produtores rurais não tem armazém e, por isso, logo após a colheita, eles precisam vender aos armazéns os grãos de sua propriedade.

Porém, quando o sojicultor tem armazém próprio, ele consegue misturar grãos ardidos com grãos em perfeito estado. Assim, o produtor mistura o que está avariado com o que está bom e melhora a qualidade da carga. Depois disso, vende a carga com valor normal de mercado. Já o sojicultor que não realiza essa mistura vê descontada de sua carga toda a porcentagem que exceder o limite de 8% de grãos ardidos. Por exemplo, se a carga analisada tem 10% de grãos ardidos, 2% serão descontados. Em outras palavras, esses 2% não serão pagos ao produtor.

Tendo esse exemplo como parâmetro, é possível observar que, em uma carga de mil quilos, serão descontados 20 quilos e, portanto, o produtor não receberá pagamento por esses 20 kg de soja descontados. Com classificadores considerando de má qualidade grande quantidade de grãos em bom estado, aumenta-se a porcentagem não paga aos produtores.  Para Roger Introvini, produtor rural na região de Coxim, a classificação realizada pelos armazéns está “apertada demais”. Segundo ele, muitos sojicultores estão questionando as classificações e enfrentando descontos muito grandes nas cargas do produto. “Muita gente está se sentindo prejudicada”, diz.

COMO É FEITA A CLASSIFICAÇÃO

Técnicos dos armazéns retiram pequenas amostras de grão, de diferentes partes da carga contida nos caminhões que chegam a esses locais. Esses grãos, de diferentes pontos da carga, são misturados e, na sequência, é realizado um cálculo de umidade, para verificar quanto de umidade há nesses grãos.

Depois, são separados 50 gramas dessas diferentes porções ou amostras, calculados conforme o entendimento de cada empresa, quanto há de grão ardido ou avariado. É nesse procedimento que muitas empresas têm considerado a maior parte dos grãos das lavouras do Estado de má qualidade.

O PAPEL DE CADA UM

Para todos os produtores ouvidos para esta matéria, é preciso maior diálogo entre armazéns e produtores, para que haja flexibilização na classificação e, assim, todos sejam beneficiados com a comercialização de produtos que realmente estejam em condições de utilização.

“O armazém pode, sim, descontar a porcentagem de produto desqualificado entregue pelo produtor, mas o sojicultor também precisa fazer o papel de casa, investir em maquinário, plantar e colher no momento certo, de olho na qualidade do grão. É preciso que todos façam sua parte”, finaliza Stefanello.

(Correio do Estado – Com informações da Assessoria da Aprosoja/MS)