Diversos surtos de lagartas do gênero Helicoverpa estão atacando lavouras de soja transgênica Intacta nos estados brasileiros de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e do Maranhão. A forte pressão chama a atenção de produtores e pesquisadores, uma vez que a tecnologia OGM deveria oferecer resistência a essa lagarta, embora o clima seco que tem atingido essas áreas influencie diretamente no aumento da presença de lagartas na fase inicial da oleaginosa.
Conforme o pesquisador Germison Tomquelski, da consultoria Desafios Agro, “a presença das lagartas é representativa e está exigindo aplicações de inseticidas no começo da safra”. “Estamos diante de um cenário diferente este ano. É possível que seja uma tendência a ocorrência mais intensa de Helicoverpa na soja Intacta. Trata-se de um grupo de pragas polífagas, que se multiplicam no sistema de produção. Pode ser mais desafiador lidar com elas daqui para a frente”, salienta.
Segundo ele, ainda não se sabe se as populações predominantes da praga observadas no MS e no MT constituem Helicoverpa armigera, Helicoverpa zea ou híbrida. Para Tomquelski, a aplicação de inseticidas, biológicos ou químicos, deve ocorrer preferencialmente quando as pragas estiverem no estágio inicial de desenvolvimento: “Em lagartas de 1º e 2º instar, bioinseticidas como os baculovírus mostram eficácia de controle da ordem de 90%. Nas lagartas maiores, recomendamos integrar inseticidas químicos ao manejo.”
Guilherme Ohl, pesquisador da Ceres Consultoria, afirma que é “fundamental o produtor se antecipar ao problema, através do monitoramento, e ter ferramentas adequadas à mão no momento certo de partir para o controle”. Ainda em relação ao controle de Helicoverpa, Ohl entende que “uma tecnologia deve defender à outra”.
“Baculovírus são fundamentais dentro do manejo integrado de pragas (MIP), assim como os químicos, as ‘armadilhas’. Ideal é iniciar o tratamento selecionado, dependendo da lavoura, quando o monitoramento apontar a presença média de uma Helicoverpa por metro, na fase vegetativa da soja e de ½ lagarta do gênero, por metro, na reprodutiva”, pondera ele.
Entretanto, de acordo com Guilherme Ohl, nos dias de hoje, “o maior medo” dos especialistas é o de que outras espécies de lagartas, além da Helicoverpa, “estejam ‘escapando’ ao controle das tecnologias Intacta”. “Nas últimas duas safras, a Helicoverpa zea escapou do milho, foi para o algodão e este ano vemos a pressão ocorrer na soja”, adverte ele.
“Notamos ainda aumento populacional de lagartas Spodoptera frugiperda, Heliothis virescens e Rachiplusia nu. Possivelmente, há uma adaptação dessas pragas às tecnologias de soja Bt, que ocupam 86% da oleaginosa plantada no país,” acrescenta.
O engenheiro agrônomo e consultor Octavio Augusto Queiroz, da Evoterra Consultoria, o início da safra de soja tem sido marcado por surtos de Helicoverpa spp: “Temos aumento da pressão de lagartas há dois anos aqui. Acreditamos que isso venha da correlação entre pragas do milho safrinha e da soja. É possível que esse cenário se agrave nos próximos anos.”
Gerente técnico da AgBiTech Brasil, o engenheiro agrônomo Marcelo Lima avalia que os surtos de Helicoverpa no início da safra, bem como a resiliência de lagartas ante às biotecnologias, geram preocupação, ainda que o cenário se mostre menos grave ante o de 2013 e 2014, quando a Helicoverpa armigera causou prejuízos em série.
“Hoje contamos com ferramentas de manejo mais eficazes, de inseticidas químicos a biológicos até atrativos para mariposas”, conclui ele.
Por: Agrolink –Leonardo Gottems