A Polícia Federal investiga um gerente do Banco Itaú Unibanco que teria “sumido” com R$ 6,745 milhões da Dataeasy Consultoria e Informática, principal alvo da Operação Terceirização de Ouro, denominação da 2ª fase da Mineração de Ouro. A fortuna entrou por meio de 82 cheques em uma agência desativada de Brasília, virou dinheiro em espécie e desapareceu longe dos olhos do Coaf, o xerife do sistema financeiro.
A suspeita da PF, conforme despacho do ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça, é que o gerente tenha integrado a organização criminosa composta pelos conselheiros Iran Coelho das Neves, Ronaldo Chadid e Waldir Neves Barbosa, que foram afastados dos cargos e vão ficar sob monitoramento de tornozeleira eletrônica por 180 dias.
A quebra do sigilo bancário não foi suficiente para identificar os beneficiados pelo dinheiro, que entrou na agência do Itaú em Brasília, que está desativada, e sumiu após ser sacado por Emerson Lemos de Araújo. Ele era funcionário do banco desde 1991 e tinha a função de gerente quando teria ocorrido o suposto esquema de lavagem de dinheiro.
“Assim, foram solicitadas informações aos bancos BRADESCO, SANTANDER e BANCO DO BRASIL (bancos de onde se originavam os recursos desses cheques) sobre o destino desse dinheiro, ou seja, o objetivo era descobrir quem foram as pessoas físicas ou jurídicas que receberam esse dinheiro. Nenhum dos três bancos conseguiu identificar o destino de nenhum dos 82 cheques, que totalizam os R$ 6.745.516,00”, destacou Falcão.
“EMERSON ARAÚJO recebia os cheques da DATAEASY na agência 5606 e os registrava no sistema do ITAÚ como TRANSAÇÃO 241. Importante mencionar que a DATAEASY sequer tinha conta nesta agência. A DATAEASY possui conta no banco ITAÚ na agência 4378, a qual fica localizada na cidade de Goiânia/GO. Ademais, os cheques da DATAEASY eram de outros bancos (Santander, Bradesco e Banco do Brasil). Esses fatos chamam atenção em relação à participação de EMERSON ARAÚJO no esquema investigado”, pontuou.
“Retomando, ao registrar como TRANSAÇÃO 241, o cheque não era depositado em conta alguma, nem mesmo na conta da agência do ITAÚ. Ou seja, o cheque ficava registrado no sistema do banco, mas não havia contrapartida do destino de seu valor. Em outras palavras, o cheque ficava ‘no limbo do sistema’ ou ‘na gaveta digital’ do gerente EMERSON ARAÚJO”, explicou o magistrado.
“Ao final do expediente, EMERSON ARAÚJO realizava, então, as transações de acordo com o(s) cheque(s) que havia(m) sido acolhido(s). Nesse momento, ele realizava saques em espécie nos valores dos cheques acolhidos no dia. Segundo conclusão do próprio ITAÚ: ‘os valores dos referidos cheques foram sacados irregularmente do caixa, em desacordo com os procedimentos operacionais do Itaú Unibanco’”, ressaltou.
“Ponto chave da operação realizada por EMERSON ARAÚJO é que, ao fazer esses saques, a origem do recurso não era mais a conta da DATAEASY, pois o cheque estava registrado na TRANSAÇÃO 241 do banco. A origem dessas transações ficava oculta, sem a possibilidade de se rastrear, sem comunicação aos órgãos reguladores, como COAF ou BACEN e sem o devido registro nos sistemas de controle do banco”, afirmou.
“Resumindo, por meio da TRANSAÇÃO 241, operação disponibilizada nos próprios sistemas de registro de transações bancárias do banco ITAÚ, EMERSON ARAÚJO encontrou uma forma de burlar os mecanismos de controle, internos e externos, e sacou em espécie pelo menos R$ 1.685.396,22, sendo R$ 1.345.800,00 oriundos de contrato com o poder público, no caso específico o TCE/MS com a DATAEASY, e transferiu, s.m.j., para a organização criminosa da qual ele faz parte”, destacou.
Somente dois dos 80 cheques tiveram o destino identificado. No valor de R$ 90,8 mil cada, eles foram pagos a Júlio César Rodrigues Senise, que é funcionário de uma revendedora de veículos, cujo proprietário já foi alvo de operação de combate à corrupção da PF.
Para tentar desvendar o suposto esquema criminoso, o STJ também determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do gerente do Itaú.
O jacaré-