Conselheiros do TCE-MS lavaram mais de R$ 100 milhões comprando de brigadeiros a fazendas no Maranhão, diz PF

Três conselheiros do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS), incluindo o presidente do órgão, Iran Coelho das Neves, estão envolvidos em esquema de lavagem de mais de R$ 100 milhões, segundo operação da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta quinta-feira (8). A investigação aponta que o dinheiro era “lavado” por meio de licitações fraudulentas, incluindo a compra de brigadeiros e fazendas no Maranhão.

Além de Iran Coelho das Neves, os conselheiros Waldir Neves Barbosa e Ronaldo Chadid foram citados como integrantes do esquema de lavagem de dinheiro, fraude e superfaturamento em licitações públicas. As defesas de Waldir e Iran confirmaram o processo e disseram que vão recorrer da decisão. O g1 não encontrou a defesa do conselheiro Ronaldo Chadid.

Segundo a investigação da Polícia Federal, o esquema de corrupção começou com a licitação de serviços da empresa Dataeasy, que tem sede no Distrito Federal. Para a PF, a empresa recebeu mais de R$ 100 milhões do TCE-MS em licitações fraudulentas desde 2018.

A PF aponta que a empresa de serviços digitais Dataeasy foi beneficiada em licitações públicas. A partir do material apreendido, as investigações mostraram que a empresa do DF lavava o dinheiro que recebia do TCE-MS e devolvia partes aos conselheiros e alguns servidores do órgão.

Não foram apenas os três conselheiros apontados como integrantes do esquema. Os servidores Douglas Avedikian, Thais Xavier Ferreira da Costa e Parajara Moraes Alves Júnior também foram citados como integrantes do esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e peculato.

O advogado do Parajara informou que teve acesso a decisão e que a “defesa em breve irá se manifestar no processo em Brasília, esclarecendo equívocos da investigação”. O g1 não encontrou as defesas dos outros servidores.

De fazendas no Maranhão a brigadeiros

 

 

Em um dos apontamentos foi encontrado que o conselheiro Waldir Neves Barbosa comprou fazendas no Maranhão com a “suspeita de lavagem de dinheiro, tendo em vista a grande diferença no preço das áreas rurais após cerca de 10 anos”, destaca o ação da PF a qual o g1 teve acesso.

Além das propriedades rurais, a empresa Dataeasy, principal citada como fio condutor para o desvio do dinheiro público, teve movimentação financeira a pelo menos 38 pessoas físicas ou jurídicas que foram classificadas como sendo relacionadas à licitação do projeto TCE/MS.

Uma dessas empresas citadas no sistema da Dataeasy foi a confeitaria Damel, totalizando um repasse de R$ 627 mil em doces apenas no mês de janeiro de 2019. Para a PF, o que causa estranheza, no entanto, é que esse montante está relacionado ao projeto TCE/MS, segundo a própria empresa de tecnologia.

Veja outros itens de valores comprados pela Damel ao TCE-MS:

  • Brigadeiro – R$ 5.400,00
  • Brigadeiro Branco – R$ 6.840,00
  • Brownie – R$ 33.800,00
  • Caixa com 10 Paes de Mel e 10 Brownies – R$ 328.782,00
  • Caixa com 5 Brownies – R$ 8.410.00
  • Empada – R$ 14.040.00
  • Kit Festa 1 – R$ 151.536.00
  • Mini Coxinha – R$ 11.520,00
  • Mini Quibe – R$ 11.520,00
  • Pão de Mel – R$ 37.800,00
  • Refrigerante – R$ 1.800,00
  • Sheil – R$ 6.120,00
  • Caixa – 5 Paes de Mel – R$ 10.150,00

 

O g1 tentou contato com a Dataeasy e com a confeitaria Damel, ambas não atenderam as ligações.

Fraudes e desdobramentos

 

Operação foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (8) — Foto: PF/Divulgação
Operação foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (8) — Foto: PF/Divulgação

De acordo com a investigação, as empresas “escolhidas” ganhavam as licitações sem seguir as especificações necessárias, com documentos falsos e em tempo recorde, apontando fraude em licitações.

No início das investigações, a PF evidenciou-se que a servidora Thais Xavier Ferreira da Costa, assessora e chefe de gabinete do conselheiro Ronaldo Chadid, foi beneficiada por diversas transferências bancárias realizadas pelo próprio conselheiro. Entre os anos de 2015 e 2019, totalizaram mais de R$ 950 mil.

A investigação apontou que “no período de 2017 a 2021 um gerente bancário realizou saques clandestinos de cheques da empresa Dataeasy, totalizando mais de R$ 6 milhões, omitindo as informações.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda autorizou o afastamento dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos servidores e dos conselheiros. Os envolvidos também estão proibidos de acessarem às dependências do TCE/MS e de se comunicarem com pessoas investigadas. Além disso, os envolvidos serão monitorados por tornozeleiras eletrônicas.

Ao todo, 30 mandados de busca e apreensão que são cumpridos em Campo Grande, Brasília, Miracema (RJ), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).

Por José Câmara e Luana Ribeiro, g1 MS