“Pelo menos 35 novas pragas foram detectadas nas nossas lavouras nos últimos 10 anos e recentemente três novas pragas agrícolas foram detectadas no País”. A informação é de Claudio Spadotto, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e gerente-geral da Embrapa Gestão Territorial.
“Uma dela é a Helicoverpa punctigera, tão agressiva quanto a H. armigera. Identificada no Ceará em 2015, a H. punctigera pode levar a perdas enormes nas culturas de algodão, milho e soja. Outra é a mosca-da-haste da soja (Melanagromyza sp.), identificada no Rio Grande do Sul em julho do ano passado. É uma praga importante na Austrália, onde causa perdas de até 30% na produção de grãos, e já está amplamente disseminada pela Ásia. Essa mosca também está presente no Paraguai e Argentina. Outra praga identificada em 2015, no Mato Grosso, é a planta invasora Amaranthus palmeri, bem conhecida nas lavouras de algodão e soja nos Estados Unidos. Sabe-se que a falta de controle pode levar a perdas de 80-90% nas culturas infestadas”, alista.
Segundo ele, “novas pragas com potencial de causar grandes danos à agricultura brasileira estão na iminência de chegar ao País e o Ministério da Agricultura tem adotado medidas para reforçar o controle para prevenir a entrada e o estabelecimento de pragas quarentenárias. Ações de fiscalização e controle em portos, aeroportos e postos de fronteira na inspeção de produtos agrícolas que caracterizem risco compõem os Planos de Contingência, com procedimentos operacionais para aplicar medidas preventivas e emergenciais para erradicação de focos e contenção da praga”.
“O entendimento e a conscientização sobre as ameaças que as pragas quarentenárias representam são primordiais. Precisamos saber quais pragas estão por vir e por onde podem ingressar e se estabelecer nos nossos campos. A caracterização e o detalhamento das possíveis vias de acesso de pragas, concomitantemente com a localização das lavouras ameaçadas, são subsídios aos programas governamentais de defesa vegetal, ainda mais num país com território amplo e diversificado, com extensas fronteiras e com intensas relações comerciais, como o Brasil.
“Temos que racionalizar e otimizar as ações de vigilância fitossanitária, considerando a distribuição e a dinâmica da agricultura no território e ao longo do tempo. A gestão dos riscos fitossanitários em base territorial é imprescindível, pois aprimora a nossa capacidade de antever e agir pró-ativamente. A incorporação da inteligência territorial para fornecer dados e informações consistentes, que auxiliem o controle do ingresso, do estabelecimento e da disseminação de pragas, doenças e plantas daninhas, traz a possibilidade de visões inusitadas e abordagens inovadoras na defesa sanitária vegetal”, explica Spadotto.
O especialista cita o exemplo do trabalho realizado pela Embrapa na região dos Cerrados, que definiu 141 municípios que devem ser priorizados para o monitoramento de Helicoverpa armigera. “Outro exemplo é um estudo, também da Embrapa, com Chilo partellus, que é praga quarentenária ausente no Brasil. Essa mariposa apresenta potencial para atacar vários cultivos, entre eles milho, arroz e cana-de-açúcar. Os resultados mostraram que áreas em Roraima (arroz), São Paulo (cana), Paraná e Mato Grosso do Sul (milho e cana) devem ser priorizadas nas ações de vigilância fitossanitária”, completa.
“Outra praga quarentenária ausente no Brasil, mas que já está presente em países vizinhos (Colômbia, Equador e Peru) é a Prodiplosis longifila. Essa mosca tem causado sérios danos em áreas com produção de abacate, alcachofra, algodão, batata, feijão, laranja, limão, tangerina e tomate em outros países. O estudo da Embrapa permitiu a identificação de oito municípios prioritários para ações de vigilância fitossanitárias para essa praga”, exemplifica.
“Assim, as análises geoespaciais podem apoiar a prevenção da entrada e do estabelecimento de pragas quarentenárias no Brasil, assim como subsidiar o planejamento das medidas de contenção e controle, utilizando dados georreferenciados e ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG)”, conclui.