A família mantida em cárcere privado por 17 anos em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, está precisando de doações.
“A gente tá precisando de muita ajuda porque estamos sem nada aqui”, disse a mulher.
Os resgatados pedem alimentos, fraldas, roupas, calçados, itens de higiene e material de limpeza.
As doações podem ser feitas nos 47 centros de Referência em Assistência Social no Rio de Janeiro. Os endereços podem ser consultados neste site.
Sujeira e escuridão
No fim de semana, policiais da Delegacia da Mulher (Deam) de Campo Grande estiveram na residência de Luiz Antonio Santos Silva no último sábado (30). Em duas horas, investigadores constataram muita sujeira e pouca iluminação — já que as poucas janelas estavam tampadas.
Os agentes também encontraram comida em bom estado e dentro do prazo de validade, o que leva a crer que a mãe e filhos não comiam direito não por falta de alimentos, mas por tortura.
“Na geladeira, há alimentos dentro da validade, há caixas de hambúrguer, tem peixe congelado. A situação pela qual os filhos foram submetidos, e a companheira, de serem privados de alimentos, não era necessária, já que tinha a possibilidade de alimentar”, disse a delegada.
A inspeção no sábado também encontrou colchões com mofo e potes de margarina que serviam como bebedores — e que tinham lodo.
Cristiane Carvalho pretende indiciar Luiz Antonio Santos Silva por abuso psicológico.
Prisão preventiva
Neste sábado (30), Luiz Antonio preso e indiciado por cárcere privado, maus-tratos e tortura, passou por audiência de custódia.
Ele teve sua prisão convertida de flagrante para preventiva, que não tem prazo para expirar, enquanto durarem as investigações do caso.
Na quinta-feira (28), quando foi preso, Luiz Antonio afirmou à polícia que os filhos nasceram com deficiência e que mantinha os jovens em casa para protegê-los.
Já em entrevista ao RJ1, a mãe dos jovens contou dos horrores e das surras que levavam de Luiz Antonio.
“Ele já era agressivo, mas, com o decorrer dos anos, foi piorando mais as agressões. Falava que ia matar, enforcar. E ele já tentou enforcar eu e meu filho. Batia de fio e, às vezes, com pedaço de madeira”, contou.
“Fiquei 17 anos em cárcere privado sofrendo maus-tratos. Ficava sem comida, sem água e apanhando, meus filhos também amarrados, apanhava de fio e enforcava a gente também. E não tinha televisão, e às vezes ficava com o som muito alto, com a música alta no ouvido e as crianças gritando”, contou a mulher que revelou que tentou pedir ajuda aos vizinhos.
“Eu chamava, gritava e os vizinhos falaram que não conseguiam escutar. Ninguém conseguia ouvir”, disse.
Filhos isolados
A mulher contou ainda que os filhos nunca tiveram contato com outras pessoas. A família foi mantida 17 anos em uma casa sem saneamento em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio.
A mãe e os dois filhos receberam alta na noite da sexta-feira (29) e foram levados para a casa de parentes. Eles estavam internados no Hospital Rocha Faria desde quinta-feira (28), quando foram resgatados em condições de maus-tratos e desnutridos.
Como foi o resgate
Segundo os policiais, a principal preocupação no momento do resgate foi oferecer atendimento médico. “A situação era estarrecedora”, resumiu um dos agentes.
“Os policiais que primeiro chegaram aqui encontraram essas crianças realmente amarradas. Posteriormente, eu cheguei e vi que elas estavam sujas, subnutridas. Então, a preocupação imediata foi de prestar socorro médico. O Samu foi acionado para prestar todo o socorro”, disse o PM.
Logo após o resgate, a mulher disse à polícia que os três sofriam violência física e psicológica de forma permanente e que chegavam a ficar três dias sem comer. Ela também afirmou que Luiz Antonio nunca permitiu que ela trabalhasse nem que os filhos frequentassem a escola.
Entenda o caso
Na manhã desta quinta-feira (28), após uma denúncia anônima, policiais militares do 27º BPM resgataram mãe e filhos que viviam na rua Leonel Rocha, no bairro da Foice, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em cárcere privado havia 17 anos.
Segundo a denúncia, o agressor é Luiz Antônio Santos Silva, marido e pai da vítimas. Ele tinha o apelido de DJ por colocar música alta para abafar os gritos de socorro das vítimas. Os filhos têm 19 e 22 anos, mas, de acordo com vizinhos, aparentam ter cerca de 10 anos por causa da desnutrição.
Os mesmos vizinhos também afirmaram que a família passava fome, já que Luiz Antônio recebia doações em comida, mas jogava fora para não ter que repassar para a família.
O vizinho Sebastião Gomes da Silva disse que conseguiu dar uma fruta para um dos filhos no dia em que a família foi resgatada. “A bichinha pegou a banana e comeu com casca e tudo. Ela estava com muita fome.”
Por Guilherme Boisson, James Alberti, Jefferson Monteiro, Lívia Torres, Márcia Brasil e Monica Marques, TV Globo