Rodovias podem ter mais 6 mil carretas de combustível com fim de ferrovia

Mato Grosso do Sul corre o risco de perder em breve, importante meio de transporte para escoamento da produção: a ferrovia. Se isso realmente acontecer, toda a produção de celulose, minério de ferro, álcool e combustível, que hoje chega até São Paulo pelos trilhos terá de fazer o mesmo trajeto, só que de caminhão. Só o transporte de combustível vai colocar mais 6 mil carretas por mês nas rodovias do Estado.

A ferrovia que sai de Bauru/SP e vai até Corumbá é atualmente administrada pela Rumo ALL, por meio de concessão federal. Por ela passam 85 mil toneladas de celulose por mês, produzidas pela Fibria e outras 417 toneladas de minério de ferro vindos da Vale. Isso sem falar nos milhares de litros de combustível que chegam e saem do Estado todos os meses.

As usinas de açúcar e álcool, até o início deste ano, também utilizavam os trilhos para transportar sua produção. Só duas unidades da Odebrecht Agroindustrial devem produzir nessa safra, cerca de 570 mil metros cúbicos de etanol e 160 mil toneladas de açúcar. A empresa afirma que a interrupção da operação da ferrovia exigiu que fosse refeito o planejamento logístico para escoar a produção.

A falta de investimento e de reestruturação da malha nos últimos anos fizeram com que os trilhos se desgastassem e aumentasse de 6 para quase 20 dias o tempo de viagem da carga daqui para o estado vizinho. Com isso, muitas empresas tiveram que voltar a escoar pelas rodovias, pois apesar de ser mais perigoso, oneroso para o estado e caro, é opção mais rápida.

ransbordo – Isso foi o que aconteceu com as usinas de álcool. O diretor da Agil, Luiz Felipe Ferraz, explica que a pedido da ALL, deu início à construção de um terminal de transbordo em Campo Grande em 2008, onde o produto chega de caminhão e sai de trem com destino a São Paulo. A estrutura entrou em operação no início de 2012.

“Foi investimento próprio e conseguimos viabilizar, colocar para funcionar. Trabalhamos em paralelo com a ALL para angariar clientes, mas a ferrovia começou a ficar ruim. A troca constante de pessoal e a falta de investimentos deterioraram a estrutura”, conta Luiz Felipe. Ele ainda afirma que, no início deste ano, as boas locomotivas foram transferidas para São Paulo, o que marcou o fim do terminal.

“O álcool que saía daqui começou a demorar 20 dias para chegar ao destino. Assim, as usinas pararam de transportar pela ferrovia”, diz. O diretor ainda afirma que havia interesse das empresas em continuar e uma grande demanda para 2015 e 2016, devido às ótimas expectativas em relação à safra de cana-de-açúcar.

Luiz Felipe pede ajuda para chamar atenção para o problema e diz que sua maior preocupação é deixar a ferrovia acabar. “Eu estou preocupado, sim, com o meu negócio, porque eu vou ter que pagar. Mas o que eu realmente quero é que a ferrovia continue, sabemos da importância disso para o estado”.

Vagões de trens abandonados são vistos pelo InduBrasil. (Foto: Fernando Antunes)
Vagões de trens abandonados são vistos pelo InduBrasil. (Foto: Fernando Antunes)

Combustível – Atualmente, parte do combustível que chega a Mato Grosso do Sul é trazido de trem. Se a ferrovia parar, tudo terá que ser transportado pelas rodovias. De acordo com o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, se isso acontecer serão 200 caminhões a mais por dia, trafegando nas rodovias.

O gestor comercial da Taurus, Mauro Sérgio Piveta, explica que, por dia, somente sua empresa transporta cerca de 1 milhão de litros de combustível pelas rodovias, produto distribuído em usinas, postos e filiais. Para isso, são usados, em média, de 20 a 30 veículos diariamente. Ele ainda elenca as vantagens da ferrovia.

“O transporte ferroviário significa redução de custo, já que o transporte rodoviário gera depreciação do veículo, gastos com pedágio, funcionários e ainda envolve questões de segurança nas estradas”, detalha Mauro. Para ele, o que impede que esse transporte seja feito são as más condições das ferrovias. “Nós torcemos para que existam mais opções em relação à logística do Estado porque o setor de distribuição só tem a ganhar com isso”.

Consultor de investimentos, João Pedro fala sobre saídas para a ferrovia. (Foto: Marcelo Calazans)
Consultor de investimentos, João Pedro fala sobre saídas para a ferrovia. (Foto: Marcelo Calazans)

Panorama – No entanto, o consultor de negócios da Shopus, João Pedro Cuthi Dias, explica que para melhorar a ferrovia seria necessário investimento de R$ 1,5 milhão de bitola métrica por km, e são aproximadamente 1,5 mil quilômetros de ferrovia em MS. Ele considera o negócio viável, visto que existe demanda suficiente.

“Demanda com certeza MS tem, se pegar o volume de carga são 1,5 milhão toneladas de celulose. Exportamos muita carne, seria mais lógico se fosse levado pela ferrovia, falta isso para investir”, diz, complementando que, atualmente, nenhum grão de milho ou soja é transportado pela ferrovia.

“Só transporta celulose porque carrega em Três Lagoas e vai embora, isso porque a Fibria comprou os equipamentos para poder fazer o transporte da carga, pois por rodovia, não tem condições. A ferrovia está sucateada e não participa da comunidade”, completa o consultor.

Para ele, a solução é investir e exigir do concessionário para arrumar ou entregar a linha. “Não adianta querer fazer novas linhas, demora 4 anos para licitação, não adianta. Precisa arrumar as que tem”. E termina dizendo “demanda em MS tem. Carne, madeira, grãos, celulose, minério, ferro, que são cargas tipicamente ferroviárias. Sem contar, que é muito mais racional chegar no porto pela ferrovia do que com caminhão”, avalia.

Estrutura que antes recebia 12 vagões por dia, agora não recebe nenhum. (Foto: Marcelo Calazans)
Estrutura que antes recebia 12 vagões por dia, agora não recebe nenhum. (Foto: Marcelo Calazans)
Fonte: Campo Grande News; Priscilla Peres, Liana Feitosa e Renata Volpe