O governo de Mato Grosso do Sul, via secretaria de Produção e Agricultura Familiar (Sepaf), deve lançar no início de março um grande programa para recuperar áreas degradadas. Segundo estimativa da pasta, o estado possui atualmente cerca de 8 milhões de hectares com algum estágio de degradação, o que representa uma área bem maior do que a ocupada atualmente pela produção de grãos, cana-de-açúcar e florestas plantadas somadas.
De acordo com a Sepaf, o grande objetivo do programa de recuperação do potencial produtivo é utilizar novas tecnologias e sistemas de produção para que essas áreas que já foram antropizadas, ou seja, cujas características naturais foram alteradas por conta da atividade humana, e que estão sendo subutilizadas possam ser destinadas à pecuária, mas de um modo mais tecnificado, a sistemas integrados com a agricultura (lavoura-pecuária – ILP) e a silvicultura (lavoura-pecuária-floresta-ILPF), ou até mesmo a outras atividades, como a produção de cana-de-açúcar e a de florestas plantadas.
A iniciativa será voltada do assentado ao grande produtor rural e prevê o cadastramento dos interessados e assistência técnica, para que um profissional seja responsável pela elaboração do projeto de recuperação das áreas degradadas e acompanhe o passo a passo de sua execução. Para isso, os produtores que aderirem vão contar com incentivos fiscais e linhas de crédito, como a do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO).
Bons exemplos
Em Mato Grosso do Sul, tem crescido o uso dos sistemas integrados de produção como alternativa para aproveitar melhor o potencial das propriedades, além de prevenir e recuperar a degradação do solo. Foi em busca destes resultados que o produtor Rodrigo Alvares, de Sidrolândia, a 73 quilômetros de Campo Grande, decidiu investir na integração lavoura-pecuária.
“O primeiro ganho que eu tive foi uma melhora sensível na minha renda, e o segundo ganho foi o desenvolvimento integrado entre a agricultura e a pecuária. O que a agricultura deixa para a pecuária é um valor inestimável, de alimentação, de condições de poder criar melhor o gado”, destacou o produtor.
A cada ano mais produtores se interessam pela integração. É o que explica o gerente da cooperativa Camda em Campo Grande, Alexandre Crabe. “Nosso cooperado tem buscado cada vez mais diversificar a sua produção, tanto que já se tornou praticamente um terceiro ciclo de produção nas propriedades. Vem primeiro a soja, depois o milho e na sequência a pecuária. Também tem se intensificado muito as parcerias entre agricultores e pecuaristas”, explica.
Em Mato Grosso do Sul, o sistema de integração começou a ser difundido há pouco mais de 20 anos. Nesse período, ganhou espaço e avançou sobre áreas consideradas antes improdutivas, segundo o pesquisador Dirceu Brock.
Na fazenda Chaparral, em Campo Grande, por exemplo, produzir soja há alguns anos era uma missão desafiadora. Mas a propriedade que tinha vocação para a pecuária decidiu apostar no cultivo de grãos. A ideia inicial era recuperar áreas degradadas. O investimento deu tão certo que a soja já ocupa pouco mais de 380 hectares, com produtividade média de 65 sacas por hectare. Mesmo com a cedência de área para a agricultura, o número de animais continuou o mesmo, são 700 cabeças em 350 hectares de pastagens rotacionadas.
A rotação é uma das principais estratégias para aumentar a viabilidade econômica da fazenda. Além de dar lucro, a produção de grãos vai amortizar os custos com a reforma das pastagens. O gado vai para outra invernada, onde o pasto cresce vistoso depois a produção de grãos. O gerente, Gustavo Stuchi, diz que a iniciativa melhorou a receita e reposicionou a fazenda no mercado.
“No primeiro momento, quanto voltamos com as pastagens nas áreas que haviam sido ocupadas pela soja, observamos um aumento de potencial produtivo absurdo. E com isso, conseguimos reduzir bastante, para menos da metade as áreas de pastagem na fazenda. Então, nós conseguimos introduzir a agricultura em uma área, reduzir as áreas de pastagem e manter o mesmo número de animais, o que representa um benefício muito grande”, analisa.
A madeira também ganhou espaço nas áreas onde o gado e a produção de grãos não iriam bem. Atualmente a propriedade investe em tecnologia e pesquisas para melhorar ainda mais os resultados. Um dos exemplos é o experimento com variedades de soja, em que eles testam qual será a mais indicada para a região, aumentando desse modo, os índices de produtividade no campo.
O modelo de gestão se tornou exemplo para outros produtores que visitam áreas demonstrativas para conhecer as técnicas. Glaucio Thiago foi um deles. O produtor tem 3.200 hectares na região de Campo Grande e também aposta na integração para aumentar a produtividade em sua fazenda.
Para cumprir o compromisso de reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa, o Brasil criou o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que é voltado para os produtores rurais. Até 2020, o país deve liberar quase R$ 200 bilhões para financiar empreendimentos rurais que buscam produzir de forma sustentável.
G1 MS