Custos de produção mais altos em 20 anos devem reduzir margens do produtor, mas que seguirão positivas
O aumento expressivo dos custos de produção para a safra 2022/23 de soja já preocupa produtores no Brasil todo, já que deverão ser os mais altos em mais de duas décadas. Em todos os estados os reajustes são expressivos e puxados, em sua maior parte, pelos fertilizantes. Ainda assim, já há relatos de que defensivos e sementes também estão mais caros.
As margens de rentabilidade do sojicultor brasileiro deverão ainda ser positivas para esta nova temporada, porém, mais ajustadas do que as observadas nos últimos dois anos.
“Teria que haver uma alta muito mais intensa da soja para manter margens de lucro similares a 2021 e 2022 para a próxima temporada. Temos que trabalhar com um cenário de recuo de margens no Brasil. Hoje, nosso controle mostra que para o Cerrado a margem bruta chegou a 60% em 2021 e que chegará em 2022 a 43% e caindo para próximo de 30% em 2022/23 com os atuais preços dos insumos projetados e que não sejam alterados”, explica Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.
De acordo com o boletim semanal reportado nesta segunda-feira (24) pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), o custo projetado para a produção de soja no estado – que é o maior produtor de soja do Brasil – é de R$ 4619,56 por hectare, valor que apresentou um aumento de 1,14% em relação ao estimado em novembro de 2021.
O reajuste, de acordo com a equipe do Imea, se dá, principalmente, pela alta nos preços dos herbicidas – de 3,13% – de sementes de cobertura – de 2,02% – e dos macronutrientes – de 1,26%.
“Quando comparamos o custeio da safra 2022/23 com o da safra 2021/22, o impacto na alta das cotações dos insumos já apresenta um incremento de 57,81%. Por outro lado, devido a valorização do mercado externo, o sojicultor também conseguiu negociar a soja futura a preços mais valorizados no último mês, apontando alta de 2,43% e média de R$ 151,64/sc”, informa o boletim.
Ainda de acordo com os analistas do instituto, é importante que os produtores continuem monitorando os preços dos insumos e, naturalmente, de seu produto, para que possa identificar, ao longo dos próximos meses , os melhores momentos de aquisição de seus pacotes para o cultivo da safra 2022/23. Mais do que isso, é importante ainda que ele tente, ao identificar estas oportunidades, tente mitigar os efeitos das elevações.
Ainda na análise da Cogo Inteligência em Agronegócio, a relação de troca para o Mato Grosso tem estado em 11 sacas de soja para a compra do pacote de fertilizantes para 2022/23, contra uma média histórica de seis sacas. Para os defensivos, as relações estão entre 7,5 e 8 sacas da oleaginosa, contra uma média histórica de cinco.
“Com os dois somados, gera um custo que pode beirar 45%, em reais, de custos mais altos para a próxima temporada. Então, precisaríamos ou de um câmbio ou de um preço futuro de soja em dólar muito mais alto para anular essa perda de rentabilidade”, afirma o consultor. “Lembrando que a rentabilidade ainda vai ficar em um patamar bastante interessante, muito superior ao do produtor americano para o produtor brasileiro que vem há 12 anos se capitalizando com boas safras de soja”, completa.
Cogo explica ainda que, calculando as depreciações, as margens líquidas do sojicultor brasileiro ainda estariam na casa dos US$ 400,00 por hectare, contra o que hoje nos EUA não chega aos US$ 100,00.
“Nossa condição de jogo é muito diferente. Então, não consigo enxergar o produtor brasileiro, por exemplo, decidindo reduzir a área em função da alta de insumos, porque a condição dele frente ao principal concorrente é muito supeiror. E ele ainda tem outro benefício que é terminar a safra de soja e plantar milho na sua área na segunda safra, que também está em uma valorização tão forte quanto a da soja no mercado global. Esse somatório é o que nos dá uma vantagem ímpar no mercado internacional”, complementa.
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas